Sobre rap e guerra de gêneros!

A segregação de gênero no rap é algo que me incomoda especialmente por eu ser mulher. Sabemos que toda a sociedade é enraizada no patriarcado e a consequência disso é a reprodução do machismo nas atitudes e no discurso dos demais.

Por Aika Cortez, do 

Ao longo dos anos diversas mulheres e até homens que entendem a condição de oprimido e o significado e a essência de Hip Hop vem lutando com suas armas pra mudar tal realidade. Por outro lado ainda há uma parte que está pouco se f***** pra isso e que repercute discurso de ódio, discriminação e segregação, principalmente através das redes sociais.

Uma delas essa semana foi a critica a Liga Feminina de MCs, no Rio de Janeiro. Nessa sociedade onde o patriarcado é enraizado se você for mulher e quiser fazer rap você tem que se esforçar o dobro, porque quando você entra numa roda de rima para rimar as pessoas esperam em dobro que você mande bem, também por causa daquela velha e presente historia de que mulher não sabe fazer o rap…Você não “travar” na rima já é uma exigência geral, você “travar” na rima sendo mulher já é esperado por muitos.

Por conta disso diversas meninas tem vontade de rimar ou escrever o rap, mas não assumem o protagonismo pelo medo de serem oprimidas o que já acontece com a mulher rimando ou não dentro desse elemento do HipHop!

A Liga Feminina de MCs veio com a ideia de descobrir, mapear e poder dar visibilidade ao trampo de diversas mulheres dentro do rap e de também ajudar e incentivar outras minas. Surgida no Rio de Janeiro, a Liga já ocupa diversos Estados e aos poucos as mulheres vão se organizando e se envolvendo, não só as MCs, mas também diversas produtoras culturais e artistas, empresárias, DJs, grafiteiras e B-girls na ideia de nos eventos juntar as representantes de todos os elementos é trazer mais paridade de gênero pro HipHop.

E tem dado certo, consigo visualizar muitas meninas do Brasil inteiro (sem exagero) que rimam e que tem adotado a ideia das tags, da liga e etc…

Não queremos declarar guerra aos homens, apesar de consequentemente sem intenção isso parecer ter sido feito, apenas queremos respeito, reconhecimento para com o gênero que sempre lutou lado a lado dentro do HipHop no combate as opressões com a resistência da nossa cultura.

Me entristece muito ver o escárnio de alguns irmãos no HipHop em relação a isso, aonde nas Batalhas de sangue já se viu o discurso discriminando o gênero feminino pela voz fina, falando que lugar de mulher é na cozinha e não no microfone, falando que a mulher negra tem cara de empregada doméstica e seu cabelo crespo é ruim e falando que vai largá-la de barriga se ela der mole. O discurso machista acaba sem querer dando uma vantagem sobre o homem nessas batalhas e se a mulher não for empoderada o suficiente pra saber responder a sua derrota é certa!

Que esse ano seja de muita glória pra LFM e que através dela mais mulheres tenham coragem e firmeza pra botar a cara na cena e quem sabe um dia com estudo e empoderamento da sociedade em geral possamos ter uma grande representante do rap nacional mulher na Liga de MCs…

…porque rimar nós já sabe!

Aika Cortez é rapper e militante da Marcha Mundial das Mulheres do Rio de Janeiro.

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