Sobre tombamento – Por Stephanie Ribeiro

Fui numa festa da batekoo me deparei com pessoas com batom preto e roxo que você não paga nem 10 reais para ter. Camisas customizadas mas nada novo ou de marca conhecida, camisas velhas cortadas pra mostrar o corpo. Jens! Muito shorts jens! Corpos diversos: tinha magra, tinha gorda, tinha seios saltando da roupa, tinha garotos sem camisa rebolando sem parar. Tinha muitas meninas só de sutiã na parte de cima e shorts. Cabelos crespos presos, raspados, tranças, coloridos daquele jeito pintado em casa.

Por Stephanie Ribeiro em seu Facebook 

Dançando sem parar.

Sério isso é a geração tombamento. Gente pobre que divide a mesma catuaba que é uma bebida mega barata, pois não tem grana para comprar uma inteira sozinho. Que dança até pingar de suor e que se diverte de uma forma bem simples.

Tô enojada como vocês insistem em problematizar essas pessoas. Lembro da fala de um menino no Fluxo: Aqui é a única possibilidade de lazer que nos temos. E vocês problematizando uma parcela de negros como se fossem terrorista e criminosas por terem um estilo próprio criando inclusive na adversidade/pobreza. Eu não tenho a mínima vontade de ser tombamento sou super clássica, mas me irrita como perseguem essas pessoas que têm essa estética, já até culparam eles pelo que aconteceu nas eleições como se fossem uma parcela enorme da população.

E NÃO SÃO!

São só jovens querendo se divertir e se sentir bonitos num mundo racistas! Roupa de marca qualquer um compra na 25 e na Republica. O problema é que as pessoas não entendem que o estilo roupa de brechó, trança que minha amiga fez em mim e batom que é na verdade é sombra misturado com manteiga de cacau. É um sucesso, e que bom! Se sai em revista ou site, não muda em nada a realidade POBRE E NEGRA dessas pessoas.

Parece que não podemos estar bem com nós mesmos, que outros negros se incomodam com nossa existência.

Tinha negro universitário, tinha negro sociólogo, tinha negro que trabalha no google, tinha negra que é doméstica, tinha negro que é funcionário público, tinha mulher grávida, tinha gay, tinha trans, tinha pobre e classe média alta. Todo mundo no mesmo espaço, dançando a mesma música e com estéticas semelhantes e diferentes.

Me poupe! Antes de escrever sobre algo e transformar negros objetos de estudo façam pesquisa.

Quem segrega negros é o racismo e não negro pobre que bebe catuaba e bate cabelo.

E sobre conteúdo, quero saber o que andam lendo e publicando.

Muito fácil falar que falta conteúdo quando nem você leu intelectuais negros, pois o acesso no Brasil é restrito e muitos livros não foram nem sequer traduzidos. E não sei como são capazes de cobrar negros, pobres, que tem carga horária abusiva, acesso restrito a meios acadêmicos/universitários e são frutos de uma educação pública sucateada que eles tenham conteúdo pois só sentirem bem esteticamente para vocês que são acadêmicos não serve.

Inclusive como se todo sujeito negro FOSSE OBRIGADO a ser ativista e intelectual. E como se todo mundo fosse capaz de apenas olhando o visual da pessoa julgar que ela nunca leu Abdias ou Du Bois e não sabe de onde veio.

Leia Também: 

Projeto reúne fotografias de negros pelo mundo para desfazer estereótipos sobre estilo

+ sobre o tema

Veto Já! Contra o golpe em nossos corpos e direitos

Contra o retrocesso, o racismo, a violência e Pelo...

Quase 50 anos depois, clássico da literatura negra chegará ao Brasil

Clássico da literatura negra chegará ao Brasil: chegará às...

estilista baiana, Mônica Anjos, apresenta sua nova coleção em São Paulo

Bazar VIP será promovido, neste sábado dia 9, para...

Rebeca Andrade fica em 5º lugar no solo com Baile de Favela nas Olimpíadas

Um passo. Foi isso que separou Rebeca Andrade de...

para lembrar

1,5 milhão de mulheres negras são vítimas de violência doméstica no Brasil

Elas representam 60% das 2,4 mi de agredidas. Reportagem...

A primeira juíza mulher da NBA e sua história de resistência

“Eu sabia que todo mundo estava esperando que eu...

É Tempo de Anastácia!

Quantas de nós, mulheres negras, ainda somos silenciadas nos...

Maria Júlia Coutinho será a primeira mulher negra a apresentar o Jornal Nacional

Jornalista entra para o rodízio de apresentadores do noticiários...
spot_imgspot_img

“Dispositivo de Racialidade”: O trabalho imensurável de Sueli Carneiro

Sueli Carneiro é um nome que deveria dispensar apresentações. Filósofa e ativista do movimento negro — tendo cofundado o Geledés – Instituto da Mulher Negra,...

Comida mofada e banana de presente: diretora de escola denuncia caso de racismo após colegas pedirem saída dela sem justificativa em MG

Gladys Roberta Silva Evangelista alega ter sido vítima de racismo na escola municipal onde atua como diretora, em Uberaba. Segundo a servidora, ela está...

Uma mulher negra pode desistir?

Quando recebi o convite para escrever esta coluna em alusão ao Dia Internacional da Mulher, me veio à mente a série de reportagens "Eu Desisto",...
-+=