Suécia alerta que ódio a africanos atingiu níveis alarmantes no país

Governo afirma que violência e segregação são cada vez maiores contra afrodescendentes

Por Wellington Calasans, no R7

Relatório divulgado na segunda-feira (3) pelo governo sueco apresenta um cenário preocupante para as pessoas de origem africana. Segundo a publicação, a “afrofobia” contribui claramente para tornar os afrodescendentes mais vulneráveis do que outros grupos, em termos de discriminação e crimes de ódio na Suécia.

O relatório define a afrofobia como “a hostilidade para com as pessoas de raízes da África subsaariana”.

Na Suécia, a afrofobia se manifesta em agressões verbais, bloqueios de espaços sociais, ataques físicos e na discriminação, incluindo emprego, habitação e na educação.

No mesmo estudo, há uma categoria chamada “afro-suecos” que inclui todos os residentes de ascendência africana. O número desse grupo é de cerca de 180 mil pessoas, dos quais 90% têm origem na África subsaariana. O restante é do Norte da África, América do Sul e outros países.

Destes 180 mil, 40% são de nativos com um ou dois pais oriundos da África subsaariana. O grupo também inclui muitas pessoas adotadas.

O preconceito em números

Desde 2008, o crime de ódio xenófobo em geral diminuiu 6% no país, mas o percentual dos crimes de ódio afrofóbicos aumentou em 24%.

Uma alta proporção desta violência, especialmente a violência física, realiza-se em locais públicos, como escolas, locais de trabalho, bairros, lojas e restaurantes. O espaço público é, portanto, um lugar intimidante para muitos afro-suecos, limitando sua liberdade de ação e movimento, segundo o documento do governo.

A atual taxa de desemprego da Suécia é superior a 7%, considerada alta para os padrões do país, e esse número é ainda maior entre os afro-suecos, chegando a 21%. É comum identificar traços de afrofobia, especialmente quando o assunto é conseguir um emprego.

O mesmo relatório afirma que é quatro vezes mais difícil para um afrodescendente ser chamado para uma entrevista de trabalho.

A pesquisa também indicou que a falta de confiança na polícia e no judiciário desmotiva o registro de ocorrências entre os mais discriminados. Em um estudo de 2008, em que 500 afro-suecos foram incluídos, 68% responderam que não há nenhuma razão para informar às autoridades policiais e à Justiça sobre as agressões.

Além disso, também na educação, há uma forte carga de preconceito, mesmo para os descendentes africanos que têm formação universitária na Suécia.

Apenas 32% dos homens com ensino superior e 40% das mulheres nascidas na África têm uma profissão que corresponda às suas habilidades acadêmicas. Pessoas nascidas na África também representam a maioria entre os 10% com a menor renda.

O daltonismo sueco que afirma que “a raça não importa” agrava a situação para os descendentes africanos, pois isso impede que as principais vítimas sejam capazes de colocar em palavras suas experiências de racismo, vivenciadas todos os dias.

Suécia e a escravidão

Outro obstáculo para a compreensão da afrofobia na Suécia é a crença local de que o preconceito racial não existe, já que o país não participou historicamente do colonialismo.

Na realidade, a Suécia desempenhou, a partir de 1600, um papel ativo no comércio de africanos escravizados.

A escravidão na colônia sueca de Saint-Barthélemy (São Bartolomeu, no Caribe) durou até 1847. A Suécia também participou da controversa divisão do continente africano ao participar do Congresso de Berlim, em 1884 e 1885.

Cotas raciais

Nos intermináveis debates promovidos pelos órgãos de imprensa suecos, algumas sugestões foram apresentadas como “ferramentas” para o combate à afrofobia. Entre as mais sugeridas, uma delas chama a atenção: o estabelecimento de cotas raciais.

Muitos suecos citaram o exemplo do Brasil como “uma prática de discriminação positiva por meio das nomeações para as autoridades, como uma forma de neutralizar a marginalização dos afro-suecos na sociedade sueca”.

O relatório, sobretudo em ano eleitoral, expõe à vergonha um percentual de suecos que apoiam o partido SD (Svergedemokraterna), que não consegue disfarçar a ideologia carregada de preconceito e discriminação contra imigrantes, negros ou não.

O SD chegou ao parlamento com 5,7% dos votos válidos, e hoje, menos de quatro anos depois, já possui praticamente o dobro deste percentual, segundo pesquisas divulgadas pelos jornais do país no último fim de semana.

Em Malmö, cidade ao Sul da Suécia com forte presença de imigrantes, foi iniciado um trabalho entre professores para produzir uma nova biblioteca infantil. A biblioteca, entre outras iniciativas, irá trabalhar com personagens de livros infantis não estereotipadas.

 

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