Tá ruim, mas tá bom

Autor: Mauricio Pestana

Dias atrás, convidado por Manoel Henriques Garcia, presidente do conselho regional de economia para a reunião daquele órgão, não tutibiei em aceitar. O encontro teria como palestrante Gustavo Loyola, ex- presidente do Banco Central do FHC, economista mais dos mais prestigiado.

O almoço concorridíssimo com economistas para todo lado aconteceu no terraço Itália, Loyola bem humorado traçou um panorama um tanto sombrio da economia brasileira com alta de inflação, queda significativa de avaliação do governo, mercado de trabalho refratário, taxa do dólar pressionada, enfim, um início indigesto para o almoço. Na mesma fala reconheceu pontos positivos, ressaltando que apesar do rebaixamento do rating, nossa economia passa por um quadro de acomodação do nervosismo excessivo dos investidores neste ano, que os fluxos cambiais têm melhorado refletindo no estancamento da desvalorização do real e que o quadro geral da economia segue moderadamente positivo.

Com um economês bastante compreensivo para mim que se sentia um peixe fora d’água naquela plateia seguramente de mais de 100 pessoas, onde 99,9% eram economistas e os outros menos de 1% era eu, compreendi que está ruim, mas está bom. Talvez essa seja a melhor frase para resumir os que insistem em falar da economia brasileira, sem lembrar números como:

O país nunca vivenciou uma distribuição de renda como nos últimos 10 anos, exemplo são números que a FGV- Fundação Getúlio Vargas acaba lançar mostrando que atingimos em 2012 o menor nível de desigualdade desde 1960, mesmo com crise na Europa. De acordo com a pesquisa Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (CPS/FGV), o índice de Gini – que varia de 0 a 1, sendo menos desigual mais próximo de zero -, caiu 2,1% de janeiro de 2011 a janeiro de 2012, chegando a 0,5190. Projeção da FGV é que a desigualdade continue caindo, ao índice de 0,51407 em 2014.

A mesma pesquisa da FGV aponta que a pobreza também caiu entre janeiro do ano passado e janeiro deste ano: -7,9%, ritmo três vezes mais rápido do que da meta do milênio da ONU. Isso depois de uma redução de 11,7% na pobreza de maio de 2010 a maio de 2011, quando o Brasil crescia mais, a redução da desigualdade foi fundamental para este resultado, na última década a renda dos 50% mais pobres do Brasil cresceu 68%, enquanto a dos 10% mais ricos cresceu apenas 10%.

Loyola se esqueceu de dizer também que  só neste século por meio de programas como ProUni e cotas raciais nas universidades públicas federais, iniciadas quando Fernando Haddad era ministro da educação, entraram mais negros nas universidades  que em toda história do país. Bom, pelo menos não ouvi o economista dizer que ele estava enxergando a coisa preta e nem podia dizer, afinal, outro dado que pude notar foi que: de preto lá, só tinha eu e meu amigo também economista Gil Marco.

 

Mauricio Pestana é jornalista, escritor e cartunista Atualmente ocupa o cargo de secretario adjunto da secretaria da promoção da igualdade Racial da cidade de São Paulo.

Fonte: Enviado para o Portal Geledés

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