Te incomodo por ser feminista africana?

Ser feminista é se posicionar diante de um problema emergencial, que afeta a vida das mulheres em África (e em outras partes do mundo). Segundo Chimamanda “A questão de gênero é importante em qualquer canto do mundo. É importante que comecemos a planejar e sonhar um mundo diferente. Um mundo mais justo. Um mundo de homens mais felizes e mulheres mais felizes, mais autênticos consigo mesmos. E é assim que devemos começar: precisamos criar nossas filhas de uma maneira diferente. Também precisamos criar nossos filhos de uma maneira diferente”.

Do Abayomi

Uma das críticas mais comum que venho enfrentado desde que tornei feminista é a seguinte: O feminismo não é africano ou vocês não vão levar coisa para o nosso país” essas críticas não só me insultam, porém insultam também as minhas ancestrais que lutaram lado, lado dos homens para libertar o nosso continente africano. Pois então as mulheres africanas não se auto denominavam como feministas, mas elas lutaram pela igualdade de gênero em todos os âmbitos, nos seusrespectivos países e não só. Entretanto, sendo feminista africana tenho plenaconsciência que a terminologia “feminista” foi cunhada pelas mulheres brancas e de elite no ocidente, porém as razões e as finalidades da luta, em muitos aspecto são semelhantes, portanto, não quero unificar as demandaspor isso mesmo assumo uma africana feminista, para distinguir e pontuar as nossas particularidades.

O maior problema do privilegiado é se admitir, que está neste lugar porque ele cega as pessoas, meus irmãos não conseguem entender que não estou lutando contra eles, mas contra sistema que oprime e explora, principalmente as mulheres, já ouvi várias vezes nos corredores da universidade “ vais ser só feminista aqui no Brasil”, aí eu pergunto será que ser feminista na Guiné-Bissau é crime? se for assim serei condenada porque não vou me calar sabendo que as minhas Irmãs estão sendo violentada, enquanto as mulheres estão morrendo, e ou sendo estupradas, jamais deixarei de lutar pelas minhas manas e por mim.

Não passa um dia que uma mulher não morre ou que não é estuprada, por isso não posso dormir sabendo que não estou segura, muita das vezes me pergunto será que existe um lugar seguro para as mulheres? olho ao meu redor e vejo as notíciasconcluo que não, não existe um lugar seguro.

A minha amiga teve um menino belíssimo. Durante a sua gravidez passou muito mal e ficou internada no hospital, não conseguiu apresentar o seu trabalho de TCC, quando teve a criança ficou 3 meses em casa, enquanto o seu namorado estudavatodo mundo achava muito normal ninguém questionava ele, o porquê de estar sempre na universidade e não em casa para cuidar do filho? mas quando a minha amiga começou a frequentar a universidade e deixava a criança com o pai, todo mundo começou a perguntar cadê seu namorado? porque que você fica sempre aqui ele com criança? se fosse em Guiné você não faria isso? Se o filho é dos dois porque cobrar só uma parte? porque não comparar ambas partes? os dois estão estudando e os dois são pais, é o direito dos dois cuidarem da criança. Existem falas que tentamnos calar e que acabam reforçando os estereótipos que os homens africanos são opressoreseles precisam também começar a questionar o seu lugar dentro do sistema opressivo reforçado sobretudo pela colonização, afinal, são as suas mães, irmãs e esposas que também sofrem com esta situação alarmante.

Existe um afastamento dos meninos quando ouvem falar do feminismo ficam logo na defensiva, o feminismo africano sempre abriu as portas para os homens, acreditando que juntos derrubaremos esse sistema opressor, e que muitas vezes os homens não veem que são vítimas quanto nós mulheres, passam todo tempo se afirmando como homem e nem curtem o amor como seres humanos, se fecham para não mostrar os seus sentimentos, porque são ensinados que ter sentimento é coisa de mulher e que mesmo morrendo tem que permanecer “macho”. Ser feminista não é sinônimo de lutar contras os homens, e muito menos roubar o lugar dos homens.

Sou feminista sim, mas se isso te incomoda de alguma forma, o problema não está em mim, mas no seu medo de me ver bem ao lado de ti.  Acredito que juntos mudaremos o mundo, porque essa luta não é só de mulheres, mas de todas as pessoas que acreditam e que reconhecem que existe um grave problema de desigualdade de gênero, e deve ser combatida.

Naentrem Sanca!

+ sobre o tema

para lembrar

Gritaram: negra! E elas responderam com narrativas ofuscantes

“De repente umas vozes na rua me gritaram negra!”...

Debate sobre intelectuais negras na universidade abre o IX Artefatos da Cultura Negra

Aconteceu na noite desta quarta-feira (19) no Salão de...

A lenda de Jarid, Dandara e das guerreiras de nossa terra

A história e as lendas de heroína quilombola inspiram...
spot_imgspot_img

Peres Jepchirchir quebra recorde mundial de maratona

A queniana Peres Jepchirchir quebrou, neste domingo, o recorde mundial feminino da maratona ao vencer a prova em Londres com o tempo de 2h16m16s....

O futuro de Brasília: ministra Vera Lúcia luta por uma capital mais inclusiva

Segunda mulher negra a ser empossada como ministra na história do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a advogada Vera Lúcia Santana Araújo, 64 anos, é...

Ela me largou

Dia de feira. Feita a pesquisa simbólica de preços, compraria nas bancas costumeiras. Escolhi as raríssimas que tinham mulheres negras trabalhando, depois as de...
-+=