Ucraniano, negro e medalhista olímpico: “Há racismo em todo lugar”

Zhan Beleniuk nasceu junto com seu país, mal conheceu o pai, morto na guerra civil de Ruanda, foi criado pela mãe e aprendeu desde cedo a se defender do preconceito

Por Gabriele Lomba* no Globo Esporte

Zhan Beleniuk tem a idade de seu país: 25 anos. Nasceu em 1991, ano da independência da Ucrânia, antes parte da União Soviética. A mãe o criou sozinha, em Kiev. Não tem lembranças do pai, morto na guerra civil de Ruanda – era piloto da força aérea. Zhan é ucraniano, campeão mundial e, agora, medalhista de prata na luta greco-romana até 85kg. E um dos dois únicos negros da delegação na Olimpíada Rio 2016.

Zhan chorou no pódio. Lembrou da mãe, Svetlana. Enxugou o rosto, saiu de lá e foi conversar com os repórteres. Fez esforço para falar em inglês. Contou que ouviu o desabafo de outra lutadora negra, a brasileira Rafaela Silva, ouro no judô.

– Já sofri com insultos também. Há racismo em todos os lugares. Talvez só não haja nos países predominantemente negros.

A história de Zhan se mistura com a da Ucrânia. Foram tempos difíceis no início da década de 90. Até hoje mora com a mãe em um pequeno apartamento. É um típico ucraniano, exceto pela cor da pele. Desde pequeno, aprendeu a se defender de golpes de preconceito. Arrumava briga aqui e ali quando criança.

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A mãe o botou para praticar luta, o viu ser campeão mundial e, agora, medalhista olímpico. Quer dizer…

– Ela não assiste às minhas lutas porque fica muito nervosa. Os vizinhos avisam quando as lutas terminam.

Na segunda-feira, Zhan começou ganhando, mas perdeu feio para o russo Davit Chakvetadze. Um duelo esportivo e político – Ucrânia e Rússia estão estremecidos desde que os russos invadiram a região da Crimeia, em 2014. A história de Zhan mais uma vez se mistura com a de seu país. Estendeu a mão para o vencedor depois da luta.

– Apesar de eu ter perdido, essa medalha é importante para a Ucrânia – disse.

* Colaboraram Adriano Albuquerque e Raphael Marinho

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