Há 25 anos, nascia no Brasil o seminário Mulher e Literatura. Catorze edições depois, o encontro que discute a literatura a partir do olhar feminino como sujeito, e não como objeto, das narrativas ocorrerá simultaneamente a outro, internacional, com pauta idêntica. Mais de 600 inscrições já foram feitas para os dois encontros, de 4 a 6 de agosto, que homenagearão, na Universidade de Brasília, mulheres afro-descendentes a partir do tema “Palavra e Poder: representAÇÕES literárias”. Inscrições podem ser feitas pelo site do evento.
O tema ressalta a palavra “ação” em dois sentidos: o das representações literárias e o das ações literárias. Para a professora Cristina Stevens, do Departamento de Teorias Literárias e Literaturas (TEL), o conteúdo do texto carrega possibilidades além do que é dito objetivamente. “A palavra literária é muito poderosa, empodera a mulher”, diz. “A literatura pode ser ficcional, mas representa o real. É uma ação em si mesma”.
A professora ressalta que, historicamente, a literatura é feita por maioria masculina. “Ainda existem desigualdades entre homens e mulheres e, na literatura, isso não é diferente”, destaca. Ela explica que as questões tratadas pelas mulheres são diferentes das dos homens. “Uma mulher não vai escrever ‘Guerra e paz’, vai escrever sobre a vida, sobre o nascimento. Mas ‘Guerra e paz’ é mais importante do que a maternidade?”, questiona, citando o famoso romance do russo Leon Tolstói.
Justamente por trazer temas diversos do universo masculino, a literatura feita por mulheres acaba trazendo questões subjetivas que extrapolam o que é dito nos textos. Isso se torna ainda mais ampliado no caso das escritoras negras, que permeiam suas produções com questões muito próprias do que é ser mulher e negra em um país como o Brasil.
“De um modo geral, as mulheres negras são vistas no papel da subalternidade”, afirma a escritora Conceição Evaristo, um expoente da literatura atual e uma das homenageadas no seminário. “As pessoas esperam que a mulher negra cozinhe bem, arrume bem a casa, seja uma boa babá, dance, cante. Mas, em determinadas áreas do saber, embora estejam presentes, essa imagem é muito invisibilizada”.
Para Conceição, dar visibilidade à presença das mulheres negras na litaratura rompe esse lugar de subalternidade. “O cânone literário brasileiro é marcado por uma presença masculina branca. Quando se pensa em escritores, pensa-se primeiro nos homens, depois nas mulheres brancas. Em ultimo lugar, se pensa nas escritoras brasileiras negras”, diz. “Nossa literatura traz à tona as relações raciais na sociedade. Quando você está no campo ficcional é que essas mazelas aparecem com mais veemência do que o próprio texto da História”, diz.
Conceição participará dos seminários junto com Geni Guimarães, Lia Vieira, Miriam Alves, Esmeralda Rubens, Ana Maria Gonçalves e a africana Paula Tavares. Na cerimônia de abertura, alunos negros vão fazer uma performance com leitura dos textos delas. Para ver a programação do XIV Seminário Nacional e V Seminário Internacional Mulher e Literatura, acesse o site do evento.