Fonte: Lusa Agência de Portugal
Luanda, 25 mai (Lusa) – O presidente da Comissão Executiva da União Africana, Jean Ping, criticou as instituições financeiras internacionais, como o Banco Mundial (Bird), acusando-as de serem as responsáveis pela crise mundial, ao defenderem “erradamente” que o mercado resolve tudo.
Durante um evento organizado pelo governo angolano para comemorar o dia da África, Ping se referiu especificamente ao papel das instituições financeiras internacionais na atual crise.
“Os países africanos são apontados muitas vezes de forma crítica por causa da má governança, mas agora é preciso ir ter com aqueles que provocaram a crise por causa da má governança da economia e das empresas”, afirmou.
Uma das ideias defendidas no colóquio foi que, apesar dos países africanos em nada terem contribuído para a crise mundial, é o continente que mais está afetado que vai continuar sofrendo mais os efeitos.
Ping lembrou que estas instituições sempre “disseram” aos países africanos para deixarem o mercado funcionar livremente segundo a lógica de que o mercado “tudo resolve”, mas, depois, “quando essa lógica deu maus resultados”, os países que as controlam “começaram a nacionalizar bancos”.
Contexto internacional
O líder africano foi taxativo ao defender que “o Consenso de Washington acabou”, referindo-se ao conjunto de regras definidas pelos países mais desenvolvidos na área da macroeconomia para ajudar ao desenvolvimento dos países menos favorecidos.
Neste contexto, lamentou ainda que os países africanos, “essencialmente exportadores de matérias primas”, estejam perdendo “nos dois tabuleiros”, ao verem as suas receitas diminuírem em função da queda dos preços, mas também “por causa dos cortes – como é o caso de Angola na área do petróleo – da Opep” sem que isso tenha tido sucesso no controle dos preços.
Jean Ping citou ainda da situação política do continente, recordando as crises democráticas atuais (Quênia e Zimbábue) ou mesmo de golpes de Estado, onde houve quatro em seis meses, para dizer que a União Africana está muito preocupada com a estabilidade do continente.
Apesar disso, encontrou espaço para falar de otimismo, lembrando que, na década de 1980, havia mais de dez conflitos violentos na África, como era o caso de Angola, e que atualmente apenas Darfur, no Sudão, e a Somália vivem situações de conflito.
Outra questões abordada foi a saída de trabalhadores qualificados do país, lembrando que a União Africana estuda a criação de uma universidade de alta qualidade pan-africana e ainda réplicas desta nas cinco sub-regiões do continente apelando aos países para criarem mecanismos que permitam manter os seus quadros qualificados.
Matéria original: União Africana atribui crise a instituições financeiras