Do Valongo à Favela: Exposição conecta passado escravo com favelas nos dias de hoje

A principal exposição do Museu de Arte do Rio (MAR) de 2014 “Do Valongo à Favela: O Imaginário e a Periferia” abriu suas portas em maio para expor a história da zona portuária do Rio de Janeiro. A exposição que ia se encerrar ontem, agora foi estendida até 10 de maio de 2015.

Por Elma Gonzalez Do Racismo Ambiental

O curador Rafael Cardoso explica a exposição em um vídeo no canal do YouTube do MAR: “Do Valongo a Favela: O Imaginário e a Periferia é uma grande exposição tocando nesse conceito de periferia a partir do fato que o MAR se localiza numa área do Rio de Janeiro que eu considero a primeira periferia do Brasil”.

Curadores Cardoso e Clarissa Diniz selecionaram cerca de 200 obras de arte, incluindo objetos históricos, iconografia e obras contemporâneas a serem exibidos na exposição. Vários artistas brasileiros como Ayrson Heráclito, Carlos Vergara e Lucia Rosa colaboraram com o museu neste projeto.

A exposição está apresentada de forma cronológica em dois grandes salões–-um narrando a era do tráfico de escravos e um mostrando a vida atual das favelas do Rio. Ao ligar o período do tráfico de escravos antecedente a 1888 com a formação da primeira favela na mesma área apenas dez anos mais tarde, em 1898, esta exposição fez uma óbvia ligação histórica que muitos foram ensinados a não enxergar: o passado escravo do Brasil e a existência de suas favelas estão intensamente ligados. Além disso, a visão e o tratamento dos escravos foram, em muitas maneiras, transferidos para os moradores das favelas. Em muitos aspectos, eles são os mesmos.

Os dois corredores são justapostos, um com paredes pretas e o outro com paredes brancas, respectivamente. Embora a maioria das obras sejam estáticas, existem também vídeos e áudios interativos para o público interagir.

A exposição no primeiro quarto é exibida em um espaço aberto, sem paredes separando as obras. Em vez de explorar diferentes espaços, os visitantes circulam em torno das paredes sob a luz fraca, aprendendo e refletindo sobre o passado escravista do país. O Brasil recebeu quatro milhões de africanos escravizados, mais do que qualquer outra nação e dez vezes mais que os EUA. Um barco velho e um círculo de fotografias no chão são exibidos no meio da sala.

A segunda sala é bem iluminada e os visitantes passeiam ziguezagueando ao redor de suas paredes brancas, sem uma peça central. Esta sala se distancia das imagens sombrias do cais do Valongo e se aproxima da mais recente história de 117 anos das favelas da cidade, também nascidas na região: uma exposição vibrante e de certa maneira otimista.

A História

Os bairros de Saúde e Gamboa no porto perto do Centro do Rio de Janeiro compõem uma área que é considerada por muitos a primeira periferia do Brasil. No século 18, este espaço não só serviu como local de chegada de ouro e diamantes do estado de Minas Gerais, mas também local de 500.000 africanos a serem comercializados como escravos no famoso cais de Valongo e mercado de escravos–mais do que o número total levado aos Estados Unidos ao longo de sua história.

No final do século 19, o Morro da Providência, também localizado na área do Porto, foi estabelecido como a primeira favela, e na região do porto conhecida como “Pequena África“. Estes dois locais logo adquiriram uma reputação de violência e imoralidade. “Entre preconceito e resistência à difícil realidade social“, o gênero mais conhecido da música brasileira nasceu lá neste momento: o samba.

O MAR

De acordo com os curadores da exposição Cardoso e Diniz, a exposição examina com a arte do “imaginário cultural” como esta área periférica foi formada. Ela mostra documentos históricos e imagens do local desde a era do Valongo até o nascimento da favela “como uma questão de interesse para a arte muito além dos limites geográficos de suas origens“.

O museu também ofereceu um curso gratuito e público sobre a história do Rio. O curso tem como objetivo discutir a exposição e “oferecer um panorama diversificado de pensamentos contemporâneos sobre a história do Rio de Janeiro”.

Com esta exposição, o MAR, que recentemente celebrou seu aniversário de um ano, está misturando arte com história, e ao mesmo tempo, reconhecendo e priorizando o significado cultural de sua localização. “Visibilidade é necessária”, os curadores escrevem “[para que] o respeito…também seja dado para aqueles que sempre foram excluídos e marginalizados”.

Para visualizar o album completo, clique aqui e veja no Flickr com legendas

+ sobre o tema

Mostra em São Paulo celebra produção de cineastas negros no Brasil

Uma seleção de filmes brasileiros realizados por cineastas negros...

O dia em que os deputados brasileiros se negaram a abolir a escravidão

Se dependesse da vontade política de alguns poucos, o...

para lembrar

Mostra em São Paulo celebra produção de cineastas negros no Brasil

Uma seleção de filmes brasileiros realizados por cineastas negros...

O dia em que os deputados brasileiros se negaram a abolir a escravidão

Se dependesse da vontade política de alguns poucos, o...
spot_imgspot_img

Feira do Livro Periférico 2025 acontece no Sesc Consolação com programação gratuita e diversa

A literatura das bordas e favelas toma o centro da cidade. De 03 a 07 de setembro de 2025, o Sesc Consolação recebe a Feira do Livro Periférico,...

Mostra em São Paulo celebra produção de cineastas negros no Brasil

Uma seleção de filmes brasileiros realizados por cineastas negros ou que tenham protagonistas negros é a proposta da OJU-Roda Sesc de Cinemas Negros, que chega...

O dia em que os deputados brasileiros se negaram a abolir a escravidão

Se dependesse da vontade política de alguns poucos, o Brasil teria abolido a escravidão oito anos antes da Lei Áurea, de 13 de maio de...