Vamos? … Como adiar o fim do mundo?

O fim do mundo sempre foi um tema recorrente na história da humanidade, seja por projeções de cunho religioso, (Apocalipse) politico bélico (guerra nuclear) ou mesmo projeções calçadas na ciência (meteoro em rota de colisão com a Terra) Quem não se lembra do bug do milênio? Que tal o recente “Apocalipse Maia”? 

Apesar de todas as previsões o ultimo evento que atinge o planeta, a Pandemia de Covid 19, tem se mostrado o mais potente para uma reflexão sobre a caminhada da humanidade no planeta Terra.   

É o fim do mundo ou fim de um mundo? 

De repente um ser invisível desfez certezas que foram construídas por séculos, nossa rotina girou 360 graus, muito das atividades indispensáveis em nossa vida, que nos proporcionava bem estar, prazer e conforto não estão na lista de atividades essenciais; de repente tudo que era sólido se diluiu no ar,  caiu o calendário festivo, esportivo, religioso e principalmente o calendário comercial. Pandemia, isolamento social lockdaun drive trhu estruturam nosso viver.

Os versos da canção de Raul Seixas ”O dia que a terra parou” lançada em 1977, parecem uma ilustração profética da realidade que vivemos. 

A reação mais comum  nesse momento é  buscarmos explicações para esse fenômeno e nessa busca  construímos as mais variadas respostas: Seria castigo? Os humanos estão no “cantinho de pensar”, é o fim de um ciclo, é o fim do mundo.  Todas as tentativas de respostas, entretanto, nos levam a uma certeza, esse é um momento de reflexão sobre tudo que construímos enquanto humanidade.

A pandemia denuncia a situação dos moradores de rua nas grandes capitais, rapidamente pias são colocadas nas praças, para que essas pessoas tenham o direito de lavar as mãos. Fica evidente a falta de saneamento, a precariedade de habitação nas favelas, o desemprego, e o sub emprego com nome inglês ( i-food, Uber, Delivery)  tudo isso deve  nos colocar em um lugar de empatia e gratidão.

O vírus deixa mais de 770 milhões de estudantes fora da sala de aula, fato importante para repensar o valor da relação professor aluno para a construção do conhecimento e de uma sociedade, repensar a magnitude desse vinculo que perpassa e extrapola o currículo formal e o ambiente físico da sala de aula é elementar para projetar a educação pós crise.

Ailton Krenak ambientalista, indígena da tribo dos krenak da região do Rio Doce, em Minas Gerais, (o rio que foi envenenado pela tragédia de Mariana) questiona “Somos mesmo uma humanidade”? 

A fala de krenak é sabia, contundente e útil ao nos orientar para uma nova leitura   do “sistema mundo”.  Ele nos ajuda a pensar o sobre um modelo de progresso que produz cada vez mais desigualdades, sobre a perda de vinculo entre as pessoas, a perda de vinculo com nossa memoria ancestral, com a natureza, e com a Terra.

Nessa parada forçada chamada de “isolamento social” ganhamos tempo para escrever poesia, fazer comidinhas, cantar, dançar amar e ser amado,  ganhamos tempo para viver; resgatamos hábitos perdidos na correria do dia a dia, reaprendemos a cuidar do nosso lugar, da nossa alimentação, do corpo e da alma; redescobrimos a magia de transformar trigo em bolinho de chuva no final da tarde, a energia de um banho de cachoeira, uma caminhada no campo e um momento de meditação. Estamos aprendendo a cultivar a delicadeza e o que seria da humanidade sem delicadeza?

Descobrimos que encontros e abraços têm propriedades curativas, descobrimos que a “solidão é fera a solidão devora”. Temos muitos projetos para esse novo tempo que virá com o fim da quarentena, mas os primeiros dizem sobre abraços e encontros, os babas, churrascos, almoços e cafezinhos…

Ailton Krenak nos ensina que, não se concebe humanidade sem solidariedade, vinculo e afeto.  Talvez estejamos agora, atualizando a nossa condição de “humanos” e o mundo que está acabando seja realmente o mundo da desigualdade da ignorância e da dor; fim que poderá ser o começo de uma nova humanidade. 

 

Iramaia, 7 de maio de 2020.

Elizabete Gonçalves 

Professora Rede Estadual Iramaia

Especialista em Gestão Estratégica  de Políticas  Públicas

Mestranda em Relações Étnicas e Contemporaneidade


** Este artigo é de autoria de colaboradores ou articulistas do PORTAL GELEDÉS e não representa ideias ou opiniões do veículo. Portal Geledés oferece espaço para vozes diversas da esfera pública, garantindo assim a pluralidade do debate na sociedade. 

 

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