Verga, não verga

Edson Lopes Cardoso
fonte: Jornal Irohin – Opinião
data: 24/04/2009

Foto: Fabiana Karine

 

Ou o uso da força (capangas), ou a fraude (confundir deliberadamente falta com licença médica). São estes recursos tradicionais do poder utilizados pelo presidente do STF, segundo intervenção do ministro Joaquim Barbosa, no bate-boca desta semana no plenário do Supremo.

Sem esquecer a utilização da mídia, de que o presidente do STF estaria também abusando. A oposição das locuções na rua/na mídia, levantada também pelo ministro Barbosa, sugere, entre outras coisas, que os meios de comunicação estão longe de expressar a opinião pública.

Não pode mais ser ocultado também, após essa rica sessão do STF, que o momento crítico vivido pelo ministro Joaquim Barbosa se manifesta sob a forma de intensas dores na coluna. Agora estamos falando, portanto, de idéias, de oposição a práticas consagradas no judiciário, e, ao mesmo tempo, estamos falando de pele, carne e osso, de intensa luta corporal.

Verga. Não vergo. Verga, sim. Não vergo, não. O ministro Barbosa não se verga, mas está quase entrevado. A dor intensa no corpo retesado, mal disfarçada na expressão indignada do ministro, parecia tirar qualquer sentido figurado à oposição verga/não verga.

O ministro Barbosa, aliás, já havia afirmado, em entrevista à Folha de S. Paulo meses atrás, que se enganavam no STF os que o supunham mais um “negro submisso”. Agora na discussão áspera com o ministro Gilmar Mendes, declarou que não era um de seus “capangas”, o que vem a dar no mesmo. Os cabras e capangas sempre foram pinçados, preferencialmente, na grande massa de não-brancos.

É chover no molhado dizer que a persistência de representações ideológicas que reafirmam a inferioridade do negro está também na base das tensões desencadeadas a partir da simples presença de Joaquim Barbosa no plenário do STF (“Crioulo já entra aqui?”).

As significações envolvidas nessa polarização Joaquim Barbosa versus os signatários da nota de solidariedade transcendem em muito o plenário do STF. E, portanto, nenhuma nota vai poder reverter o desmascaro do ministro Gilmar Mendes ( e com a presença da mídia, que ele preza tanto). A emergência do conflito neste lugar, com estes atores, é reveladora do que se vai deflagrando mais amplamente, por influência de mudanças no comportamento individual e coletivo.

A frase de Gilmar Mendes sobre Joaquim Barbosa “não ter moral para…” deve ecoar no plenário quando o ministro negro fizer a leitura de seu parecer que envolve a constitucionalidade das ações afirmativas. Uma sessão imperdível.

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