Delegada de Defesa da Mulher em Cuiabá, Jozirlethe Criveletto (Foto: Divulgação/Polícia Civil-MT)
Balanço parcial de 2015 revela instauração de 3.346 inquéritos.
Delegada diz que vítimas mais pobres são as que mais denunciam.
Em apenas 11 meses, 561 homens foram presos apontados como autores de crimes de violência contra a mulher em Cuiabá. Os dados – um balanço parcial de 2015 – são da Delegacia de Defesa da Mulher na capital e referem-se a prisões efetuadas tanto por cumprimento de mandado de prisão quanto por flagrante. Nesse mesmo período, foram instaurados 3.346 inquéritos policiais que apuram casos de violência doméstica e estupros cometidos por terceiros na capital. Desse total, 3.117 foram concluídos.
Segundo a delegada Jozirlethe Magalhães Criveletto, houve um aumento no número de ocorrências este ano, mas trata-se de um reflexo das campanhas estimulando a denúncia por parte das vítimas. “Com certeza, ao fecharmos o balanço de 2015, teremos mais de 3,5 mil inquéritos instaurados. Mas é algo normal e já esperado. As vítimas tomam conhecimento e aumentam o número de denúncias”, avalou.
De acordo com a delegada, a maior parte dos casos registrados na polícia envolvem vítimas de menor poder aquisitivo e os crimes que lideram os inquéritos são os de lesão corporal e ameaça. “A vítima com poder aquisitivo menor é que mais registra ocorrência porque é a porta que ela encontra aberta para a resolução de todos os problemas decorrentes dela quebrar o ciclo de violência em que vive”, afirmou.
Jozirlethe ressalta que a violência doméstica está presente em todas as classes sociais, culturas e ambientes e que envolvem vítimas e agressores de todos os perfis, desde os mais instruídos e bem colocados no mercado de trabalho até analfabetos que não tenham profissão definida. Porém, na avaliação da delegada, as mulheres de classes sociais mais baixas buscam mais a delegacia por enxergarem o local como a única porta aberta para a saída da vida que leva.
“Trata-se de uma vítima que não tem emprego, não tem uma casa para morar, tem cinco ou seis filhos para sustentar. Então, quando ela decide quebrar aquele ciclo de violência, ela não tem mais alternativa. Ela se vê na condição de procurar uma delegacia, que seria a porta de entrada onde ela acredita que terá encaminhamentos”, disse.
Segundo a delegada, tais vítimas, caso haja necessidade, recebem encaminhamentos para a área de assistência social, casas de abrigo e são incluídas como prioridade em programas habitacionais, como o “Minha Casa, Minha Vida”, ou em programas sociais. Tudo isso, conforme a delegada, fica a “apenas um registro de boletim de ocorrência de distância”.
“Ela precisa separar bens, resolver guardas de filhos, mas não tenho dinheiro para pagar um advogado. Então, vai para a delegacia para pedir medida protetiva de pensão, pedir o afastamento do agressor do lar”, disse.
Até novembro, segundo Jozirlethe, a Delegacia da Mulher em Cuiabá tomou 1.566 medidas protetivas. “Agora, uma pessoa que tem um poder aquisitivo melhor e sofre uma agressão, se ela quiser quebrar aquele ciclo de violência sem denunciar e tiver dinheiro, ao ser agredida ela sai da casa, paga um advogado, entra com ação para pedir o divórcio, pede separação de bens, pede pensão e discute a guarda dos filhos, sem ter a necessidade de ver o autor condenado. Se ela quiser se ver livre, ela consegue”, afirmou.