Violência cresce sem combate à corrupção policial em São Paulo

Entre a noite de terça e a madrugada de quarta-feira, mais seis pessoas foram mortas em decorrência da onda de violência em São Paulo, nas Zonas Leste, Norte e municípios da Grande São Paulo, Guarulhos e Cotia.

Segundo o deputado estadual Olímpio Gomes (PDT), mais conhecido como Major Olímpio, já são “mais de 150 mortes em dez dias”. Uma das principais causas da crise é decorrente de um problema que a parceria entre estado de São Paulo e União, anunciada esta semana, pretende combater, a falta de integração entre polícias.

Para o deputado federal Vanderlei Siraque (PT-SP), a ação coordenada e a proposta de integração entre polícias, órgãos de segurança e a criação de uma agência para unir as “inteligências” das polícias estaduais e federais pode ser um primeiro passo para superar a crônica falta de coordenação. “Mas são ações pontuais e não resolvem o problema. As propostas têm de ser preventivas, e não apenas reativas”, acredita.

Para Olímpio Gomes, entre outros aspectos, um dos problemas causadores da falta de coordenação é de responsabilidade do Congresso Nacional. Isso porque o artigo 144 da Constituição de 1988, que definiu a estrutura da polícia brasileira, até hoje não foi regulamentado, 24 anos depois de promulgada a Carta. “Até agora, a Câmara, o Senado e o governo federal não tiveram tempo nem coragem política de regulamentar o papel da polícia”, ironiza o pedetista.

Siraque concorda que falta regulamentar a questão da segurança pública na Constituição, mas, para ele, “o que acontece em São Paulo não depende de lei, e sim do governo do estado, que desde 1983 (com o governo de Franco Montoro, então do PMDB) parece não ter capacidade de resolver o problema da corrupção na polícia”, afirma o petista. “Não é falta de legislação. Eu mesmo tenho uma lei estadual em São Paulo sobre desmanche de carros e o que foi feito dela?” Siraque se refere à Lei 12.521/2007, a qual prevê que “o desmonte de veículos (…) deverá ser efetuado exclusivamente por estabelecimento comercial credenciado junto ao Detran”.

– Qualquer um sabe onde estão os desmanches de carros, as máquinas caça-níqueis. Onde estão desmanches e caça-níqueis está o tráfico e o crime organizado. No entanto, o governo estadual nada faz – diz Siraque. Para ele, a utilização de celulares nos presídios é outro problema que, para ser resolvido, não precisa de lei. “A responsabilidade imediata é do Executivo”.

Para Olímpio, ainda “não houve uma completa perda do controle em São Paulo, mas há uma opacidade, uma falta de transparência”, diz. Segundo ele, é preciso identificar os casos de maneira clara. “O Estado tem de ter estrutura e saber dizer que o soldado fulano de tal é vinculado a tal coisa, e quem o matou foi tal pessoa, por tal motivo. É preciso ir mais profundamente nas apurações desses casos todos para demonstrar à população que não têm a participação de policial. Ou, se teve, identificar o policial.”

Siraque diz que aprovou a convocação de uma audiência pública na Câmara dos Deputados para debater a crise em São Paulo. Serão convidadas autoridades da segurança pública do governo federal e estadual de São Paulo.

 

 

Fonte: Correio do Brasil 

+ sobre o tema

O pardo e o mal-estar do racismo brasileiro

Toda e qualquer tentativa de simplificar o racismo é um tiro...

Quem ganha ao separar pessoas pretas e pardas?

Na África do Sul, o regime do apartheid criou a...

Justiça manda soltar PM que matou marceneiro negro com tiro na cabeça na Zona Sul de SP

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) concedeu nesta quarta-feira...

Promotor é investigado por falar em júri que réu negro merecia “chibatadas”

Um promotor de Justiça do Rio Grande do Sul é...

para lembrar

O pardo e o mal-estar do racismo brasileiro

Toda e qualquer tentativa de simplificar o racismo é um tiro...

Quem ganha ao separar pessoas pretas e pardas?

Na África do Sul, o regime do apartheid criou a...

Justiça manda soltar PM que matou marceneiro negro com tiro na cabeça na Zona Sul de SP

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) concedeu nesta quarta-feira...

Promotor é investigado por falar em júri que réu negro merecia “chibatadas”

Um promotor de Justiça do Rio Grande do Sul é...
spot_imgspot_img

O pardo e o mal-estar do racismo brasileiro

Toda e qualquer tentativa de simplificar o racismo é um tiro no pé. Ou melhor: é uma carga redobrada de combustível para fazer a máquina do racismo funcionar....

Quem ganha ao separar pessoas pretas e pardas?

Na África do Sul, o regime do apartheid criou a categoria racial coloured, mestiços que não eram nem brancos nem negros. Na prática, não tinham...

Justiça manda soltar PM que matou marceneiro negro com tiro na cabeça na Zona Sul de SP

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) concedeu nesta quarta-feira (27) habeas corpus ao policial militar Fábio Anderson Pereira de Almeida, réu por assassinato de Guilherme Dias...