O resultado da investigação sobre violência contra jovens no Brasil foi divulgado nesta quarta-feira (07/11) e resulta de acordo entre o Senado e a SEPPIR no âmbito da campanha Igualdade racial é pra valer
Mais da metade dos homicídios que ocorrem no Brasil atinge pessoas na faixa etária entre 19 e 29 anos. Para saber o que a população pensa sobre o assunto, o DataSenado realizou a pesquisa de opinião pública Violência contra a Juventude Negra no Brasil, lançada nesta quarta-feira (07/11), no Senado Federal, em Brasília (DF). O estudo é parte do protocolo de intenções firmado entre a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) e Senado Federal no âmbito da campanha Igualdade Racial é Pra Valer.
“A proposta da SEPPIR em relação a essa pesquisa se deveu a uma avaliação que fazemos e que está contemplada no Plano Plurianual (PPA) 2012/2015, que é combater a violência contra a juventude. Em 2009, foram registradas cerca de 19 mil mortes de jovens negros em contraposição a 9 mil mortes de jovens brancos. Os números se revelam por si só, mas o que incomodava era o silêncio da sociedade diante desse quadro. Esperamos que isso se transforme numa questão política sobre a qual todos se debrucem para enfrentar. É o que estamos fazendo no governo com o Juventude Viva, que coordenamos em parceria com a Secretaria Nacional da Juventude (SNJ), da Secretaria Geral da Presidência da República e a participação de vários ministérios”, afirmou a ministra Luiza Bairros durante o lançamento.
A ministra Luiza Bairros afirmou ainda que, através dessa pesquisa, busca-se se investigar o que é que a sociedade pensa sobre o assunto; até que ponto a sociedade se sente incomodada com a morte de tantos jovens e de tantos jovens negros. “Os resultados vão mais ou menos na direção que já imaginávamos. Um pouco mais da metade dos entrevistados concordou que a morte de um jovem negro choca menos que a de um jovem branco. São indicativos de que devemos ampliar as nossas ações para que esse tipo de clivagem deixe de existir e as mortes de jovens negros não sejam naturalizadas”, concluiu.
O presidente do Senado, José Sarney, também destacou a relevância do estudo para a formulação de políticas públicas e atuação do poder público, assim como para a percepção que a sociedade brasileira tem do problema do racismo e suas consequências. “É importante o envolvimento do Senado na colaboração com o trabalho do Executivo para contribuir para a solução dos problemas do negro no Brasil que, sempre acreditei, tem que ser resolvido pela via da ascensão social”, afirmou o parlamentar. A pesquisa do DataSenado entrevistou 1.234 pessoas de 123 municípios do país, incluindo todas as capitais, no período entre 1º e 11 de outubro deste ano.
Entre outros objetivos, a investigação buscou dimensionar o problema da violência contra a juventude no país, notadamente a juventude negra, na percepção dos entrevistados; dimensionar os prejuízos para o futuro e o desenvolvimento do Brasil, a partir da verificação da percepção dos impactos negativos dessa situação no conjunto da sociedade; verificar as principais causas identificadas pela população como responsáveis pelos altos índices de mortalidade entre a juventude no país, notadamente a juventude negra.
Do total de pessoas que respondeu o questionário, 57% também se manifestaram com resposta positiva diante da frase “homicídio é a principal causa de morte dos jovens negros”. Percentual semelhante (56,0%) foi registrado para os que concordaram com a afirmação de que “a morte violenta de um jovem negro choca menos a sociedade do que a morte violenta de um jovem branco”.
Além das causas da violência, os entrevistados foram consultados sobre a condição social das vítimas, grau de vulnerabilidade e experiência pessoal com o racismo. A maioria deles considera que as mulheres são mais vulneráveis (67,1%), e os negros são as principais vítimas (66,9%) da violência que, de acordo com pouco mais de um terço dos entrevistados (35,8%), atinge mais os jovens na faixa de 19 a 29 anos.
Combate ao racismo
Na opinião de 36,4% dos entrevistados, a principal ação para combater o racismo deve ser a melhoria do ensino nas escolas. A mudança das leis foi assinalada por 22,7%, enquanto 20,8% consideraram suficiente a garantia do cumprimento das leis existentes. Acrescente-se que 15,7% apontaram as campanhas de conscientização e 2,4% consideraram as ações afirmativas como a principal medida que o governo deve tomar para combater o racismo.
Perguntados sobre as causas, 63,0% atribuíram a violência a aspectos sociais, enquanto 34,8% disseram ser fatores comumente associados ao comportamento juvenil de risco. Quando inquiridos especificamente sobre a principal causa de mortes entre os jovens, a maioria associou ao uso de drogas (56,2%), acidentes de trânsito (22,4%) e a assassinatos (19,8%).
A pesquisa evidenciou também a importância atribuída à educação e à legislação no enfrentamento ao racismo, refletindo os esforços dos últimos anos para a implementação da Lei Nº. 10.639/2003, que modificou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional tornando obrigatório o ensino da História e Cultura Afro-Brasileira na rede escolar.
A noção de que no Brasil a violência mata mais pobres do que ricos é compartilhada por 90,4% dos entrevistados. Também é alta a concordância (80,9%) com a afirmativa de que os jovens brasileiros são vítimas da violência independentemente da cor ou raça.
Cooperação
A pesquisa é um dos produtos do Protocolo de Intenções firmado em fevereiro deste ano, entre o Senado e a SEPPIR no âmbito da campanha Igualdade Racial é Pra Valer, através da qual são estabelecidas parcerias com órgãos do governo, a iniciativa privada e a sociedade civil, fortalecendo a promoção da igualdade racial em diferentes segmentos. A cooperação entre as duas instituições inclui também a realização de um curso de Introdução ao Orçamento Público, que será iniciado nesta quinta-feira (08), envolvendo gestores municipais e estaduais de promoção da igualdade racial de todo o país.
A atividade faz parte da grade de capacitação Desenvolvimento e aprimoramento de cursos à distância, que inclui a oferta de mais três cursos: Orçamento público, na perspectiva de gênero e raça; Políticas públicas de igualdade racial; e curso à distância de História da África.
Além das capacitações, o plano operacional inclui a realização e divulgação da pesquisa de opinião sobre violência e juventude negra, a divulgação da Lei nº 12.288, que institui o Estatuto da Igualdade Racial, e a divulgação de materiais sobre a promoção da igualdade racial produzidos pela SEPPIR e pelo Senado Federal.
Fonte: SEPPIR