Violência policial mobiliza ONU e europeus contra governo Bolsonaro

Enviado por / FonteUOL, por Jamil Chade

A violência policial abre uma ofensiva internacional contra o governo de Jair Bolsonaro, com a mobilização de políticos europeus e reuniões entre ativistas e a ONU (Organização das Nações Unidas). Nesta semana, uma proposta foi entregue por um dos maiores grupos dentro do Parlamento Europeu para que uma moção de urgência seja tratada pelo órgão em relação à situação brasileira.

Nos últimos dias, cenas de operações policiais em locais como Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro, ou o caso do assassinato em Sergipe de Genivaldo de Jesus Santos pela polícia chocaram a opinião pública internacional.

Nesta quarta-feira (1º), membros da Comissão Arns irão se reunir com representantes regionais da ONU para apresentar um informe sobre esses casos específicos das últimas semanas, assim como uma avaliação da resposta das autoridades, principalmente por parte do Poder Executivo. A ONU solicitou explicações e investigações independentes em relação aos casos, repetidamente denunciados por diferentes órgãos das Nações Unidas.

A coluna também apurou que relatorias da ONU e da Comissão Interamericana de Direitos Humanos estão colhendo informações sobre os casos mais recentes, justamente para poder cobrar oficialmente do governo Bolsonaro uma explicação.

Ao mesmo tempo, a pauta desembarca na agenda política europeia e, para observadores em Bruxelas, amplia a pressão contra um governo que tem sido visto como incentivador de tal comportamento pela polícia.

O Grupo Social-Democrata, com 145 deputados de 26 países, sugeriu a adoção de uma resolução de emergência sobre a violência policial no Brasil. Nesta quarta-feira, a Conferência dos Presidentes do Parlamento decidirá quais das resoluções de emergência serão levadas ao plenário para uma eventual adoção.

A medida do Parlamento não implicará uma sanção contra o Brasil e nem terá um impacto concreto imediato. Mas seus autores indicam que o gesto sinaliza que a Europa não está de acordo com as políticas de direitos humanos no país e que não está disposta a promover uma aproximação sobre essas bases.

Se aprovada, a resolução ainda ampliará a distância política entre europeus e brasileiro, num contexto em que a ratificação do tratado comercial entre o Mercosul e a UE (União Europeia) está congelada e a desconfiança por parte dos europeus sobre a adesão do Brasil à OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) é ampla.

Para diplomatas estrangeiros, a decisão de deputados europeus de colocar a violência policial na agenda no Parlamento amplia o mal-estar do governo entre democracias. Bolsonaro já é criticado por sua política ambiental, pela questão indígena e por sua gestão na pandemia.

Mas fontes ouvidas pela coluna indicaram que, mesmo que a nova proposta fique de fora da plenária do Parlamento, o fato de ela ter sido apresentada significa que o assunto passou a ser tratado na agenda internacional. Hoje, o Grupo Social-Democrata é a segunda maior força dentro do Legislativo europeu.

O gesto segue uma lógica adotada pelo Parlamento Europeu ainda em 2020, quando uma resolução urgente foi aprovada em condenação à morte do americano George Floyd, também por violência policial. Naquela ocasião, a então embaixadora do governo Bolsonaro na ONU, Maria Nazareth Farani Azevedo, atuou em sintonia com o governo de Donald Trump quando um projeto de resolução condenando os EUA pelo racismo em sua polícia foi apresentado.

Um ano antes, quando a alta comissária de Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet, criticou a violência da polícia brasileira, Bolsonaro respondeu com um elogio ao ditador Augusto Pinochet, cujo regime foi responsável pela morte do pai de Bachelet e por sua tortura.

+ sobre o tema

Mais de 6 mil crianças são resgatadas do trabalho infantil em 2 anos

Entre 2023 e abril de 2025, 6.372 crianças e...

Crescimento de umbanda e candomblé reflete combate à intolerância

O número de adeptos de religiões afro-brasileiras, como umbanda...

Caso Miguel completa 5 anos: mãe critica lentidão da Justiça

A próxima terça-feira (dia 10) será mais um dia...

Transição energética não pode repetir injustiças históricas

Cá entre nós, no Brasil, o modelo de desenvolvimento...

para lembrar

Texto exemplar da Juíza Federal Raquel Domingues do Amaral

"Sabem do que são feitos os direitos, meus jovens? no...

As 10 mentiras mais contadas sobre os indígenas

As afirmações listadas abaixo foram extraídas da vida real....

Frequência afetiva, qual é a sua?

Dias desses mandei um inbox parabenizando uma amiga querida...

Política: O que é ser esquerda, direita, liberal e conservador?

Nas eleições presidenciais e estaduais de 2014, o Brasil...

Meninas mães passam de 14 mil e só 1,1% tiveram acesso a aborto legal

Quase 14 mil meninas de 10 a 14 anos de idade tiveram filhos no Brasil em 2023, e apenas 154 tiveram acesso ao aborto...

5 fatos que marcaram a atuação política de Pepe Mujica na presidência do Uruguai 

Pepe Mujica viveu até os 89 anos de idade e marcou a política latino-americana com suas ações em prol de causas populares e em...

INSS notificará beneficiários vítimas de descontos a partir de terça

A partir desta terça-feira (13), os aposentados e pensionistas que sofreram descontos em seus benefícios por meio de associações irão receber uma notificação do Instituto Nacional do...
-+=
Geledés Instituto da Mulher Negra
Privacy Overview

This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.