As violências cotidianas contra as religiões de matriz africana não são resultantes da simples ignorância, nem do fanatismo de religiosos cristãos. Sua origem está na construção de uma ideologia que teve por objetivo justificar o colonialismo, o massacre de diversas nações africanas e o sequestro de milhões de pessoas para submetê-las à escravidão. Inaugura, então, a ideia de que a humanidade se divide em raças e dentre essas “raças” existiriam as superiores e as inferiores.
Por Martvs das Chagas, do Boa Informação
Foto Leonardo Costa
O racismo — em que pese a secular luta de negros e negras e, mais recentemente, nos governos Lula e Dilma, com o desenvolvimento de ações para promover a igualdade racial — se mantém praticamente inalterado e é materializado, inclusive por agentes do próprio Estado brasileiro.
Para além das ações das instituições, todavia, o racismo está presente na nossa sociedade, determina as relações pessoais e tem as manifestações culturais como forte instrumento ao insistir na demonização dos cultos de matriz africana, buscando-se atingir o cerne da identidade afrodescendente, a religião — uma das mais importantes manifestações culturais de qualquer povo.
Nos tristes tempos em que o mundo vive, com o aumento da violência, da intolerância, da concentração de renda e da desigualdade, indivíduos que se apresentam como religiosos maximizam o senso comum de parte do povo brasileiro e, como não podem exaltar o racismo de forma explícita, elegem as religiões de matriz africana como inimigas centrais.
A consequência dessa pregação — baseada no ódio e na manipulação de medos e incertezas de pessoas extremamente empobrecidas e com baixíssima escolaridade — é a explosão de violências contra religiosos, templos, imagens e fiéis que apenas exercem o seu direito constitucional de ter e manifestar a sua fé.
O projeto de Lei 9.398 de 2017, que emenda o Código Penal no seu artigo 208, protocolado no mês de dezembro na Câmara Federal, tem por objetivo coibir essas violências, combater a discriminação estrutural/institucional, contribuir para superação do racismo, promover a igualdade racial e garantir o direito à opção religiosa, pilar fundamental de um Estado laico e de uma sociedade democrática.
Acreditamos que essa iniciativa é fundamental para garantir um direito que está sendo ameaçado. Certamente, contará com o apoio de religiosas e religiosos de matriz africana, todas as demais confissões religiosas e até mesmo os não religiosos. igualmente, dos verdadeiros cristãos; que seguem os ensinamentos de alguém que só pregou o amor e a tolerância, fez opção preferencial pelos mais pobres e mais humildes e morreu vítima da crueldade dos poderosos e da traição de um homem que igualmente batia no peito afirmando ser seu seguidor, mas o entregou aos carrascos por 30 dinheiros.
Martvs das Chagas é secretário nacional de combate ao racismo do PT; Vicente Paulo da Silva é deputado federal (PT-SP)