Vôlei brasileiro tem denúncias de racismo em dias consecutivos, e atletas cobram confederação

Jogadoras e técnico relatam ofensas em partidas feminina e masculina da Superliga B

A Superliga B, segunda divisão da principal competição de vôlei do país, registrou duas denúncias de racismo na última semana —uma na disputa feminina e outra na masculina. Os casos são investigados pela CBV (Confederação Brasileira de Voleibol), enquanto atletas pedem por punição.

Na sexta-feira (26), três jogadoras do Tijuca Tênis Clube, do Rio de Janeiro, declararam ter escutado sons de macaco vindos da torcida do Curitiba Vôlei durante partida na capital paranaense. Após o encontro, a central Dani Suco, a ponteira Camilly Ornellas e a levantadora Thaís Oliveira gravaram vídeo relatando o ocorrido.

“Era o segundo set, teve um rali, nós ganhamos, e eu fui para o saque. No momento em que eu estava batendo a bola, escutei, em alto e bom som, barulhos de macaco mesmo”, disse Dani. “Não acreditei, olhei para trás e vi que eram muitas pessoas, mas não consegui identificar ninguém. Quando eu saí da quadra, perguntei para as meninas se elas tinham escutado, e disseram que sim”, continuou.

O Curitiba diz ter solicitado abertura de inquérito policial para apuração minuciosa dos fatos.

Cabe à CBV, porém, incitar qualquer punição esportiva ao mandante pela atitude da sua torcida. A entidade afirmou à Folha que está fazendo o levantamento de imagens do jogo, além de analisar súmula, relatório do delegado da partida e manifestações de atletas e clubes envolvidos.

“O material está sendo encaminhado aos órgãos competentes para serem tomadas as medidas cabíveis no âmbito esportivo e perante o poder público e demais instâncias”, explicou a confederação. O caso pode ser levado ao STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) e ao Comitê de Ética do COB (Comitê Olímpico Brasileiro).

Nesta terça-feira (30), representantes da CBV irão ao Tijuca ouvir envolvidos a fim de reunir mais informações sobre o caso. O clima no clube, que se posicionou a favor das vítimas, é de perplexidade. Comissão técnica e atletas dizem estar abalados.

EM POUCAS HORAS, MAIS UMA DENÚNCIA

No sábado (27), foi a vez de a competição masculina ter seu relato de racismo. Durante partida em Goiânia entre Goiás e América-RN, o técnico da equipe potiguar, Alessandro Fadul, interrompeu a disputa de um dos pontos para informar ter sido chamado de macaco por um espectador.

A atitude do profissional irritou o árbitro, que o apresentou um cartão vermelho. No esporte, a punição representa um ponto para o adversário.

O homem acusado por Fadul não foi retirado do ginásio, e a Associação Esportiva Vôlei Pró, mantenedora do time goiano, negou ter havido qualquer tipo de injúria. “Diante do que foi apurado, não houve o alegado fato envolvendo insultos racistas por parte de um torcedor”, divulgou em nota.

Sobre o caso, a CBV disse aguardar um posicionamento oficial do América e de seu comandante para seguir os devidos trâmites. Sem sucesso, a reportagem tentou contato com a equipe por email e por telefone.

A comunidade do vôlei, em especial atletas negros, tem emitido manifestações sobre as denúncias surgidas na Superliga B e questionaram sobre punições, alfinetando a confederação. Fabiana Claudiano, central bicampeã olímpica, publicou vídeo no Instagram dizendo ser inadmissível nada ter sido feito quando as ofensas foram percebidas.

“Estamos cansadas de notas de esclarecimento no dia seguinte e de um crime não ter a devida importância e investigação. Até quando, hein? Toda a solidariedade às vítimas e todo o meu repúdio aos responsáveis que sempre se omitem quando o assunto é crime de racismo. Chega!”, declarou ela.

Serginho, líbero histórico da seleção masculina, também se pronunciou na mesma rede social. “Prisão para os racistas”, escreveu. “Impressionante como a impunidade faz com que essas atitudes criminosas aconteçam”, opinou também Fernanda Garay, ponteira com três participações olímpicas e duas medalhas no currículo.

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