Após um homem negro ser ferido com uma faca e preso por policiais, o Sindicato dos Motoboys de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, realizou um ato, neste domingo (18), contra “a violência do racismo” (veja acima).
A vítima fez dois boletins de ocorrência, um como lesão corporal e o outro como abuso de autoridade. Ele prestou esclarecimentos às autoridades e liberado na sequência.
Imagens que circulam nas redes sociais mostram a vítima sendo algemada pelos agentes da Brigada Militar sob protestos de testemunhas, que apontam para um homem branco como agressor.
O homem branco, morador de um dos prédios da vizinhança, teria ficado incomodado com o barulho causado por motoboys que ficam em frente a um restaurante da rua onde o caso aconteceu. Ele estava com uma faca na mão e ameaçou todos que estavam por perto, até que esfaqueou um dos motoboys no pescoço.
A vítima, além de ser algemada, foi levada para a viatura pelos policiais. No entanto, o outro homem não foi algemado durante a abordagem. No vídeo é possível ver ele entrando em um prédio.
No vídeo que circula pela internet, é possível ouvir testemunhas dizendo que a vítima “tomou uma facada” e que a abordagem foi “racismo puro”.
Em nota, a Brigada Militar disse que os dois homens foram conduzidos à delegacia para esclarecimentos e que irá instaurar um processo para apuração dos fatos. O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, determinou abertura de sindicância na BM sobre o episódio denunciado como racismo.
Eduardo Leite declarou que a investigação deve “ouvir imediatamente testemunhas e apurar as circunstâncias da ocorrência, com a mais absoluta celeridade”.
Nem o perfil e nem o site da corporação trazem qualquer informação sobre o episódio. No último dia 8, “os alunos-oficiais da Brigada Militar participaram (…) de palestra com o tema ‘Racismo Estrutural e a Importância do Letramento Racial para as Instituições de Segurança Pública’”, informa a página da instituição.
Governo federal acompanha o caso
O ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, declarou neste domingo (18)que o caso da vítima de agressão sendo tratada como criminosa pelos policiais demonstra, mais uma vez, “a forma como o racismo perverte as instituições e, por consequência, seus agentes”.
“É preciso que as instituições passem a analisar de forma crítica o seu modo de funcionamento e aceitar que em uma sociedade em que o racismo é estrutural, medidas consistentes e constantes no campo da formação e das práticas de governança antirracista devem ser adotadas. Em outras palavras, é preciso aceitar críticas e passar a adotar medidas sérias de combate ao racismo em nível institucional”, escreveu o ministro.
Silvio Almeida destacou que conversou com a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, e estão em contato com as autoridades gaúchas para acompanhar o caso, além de “ajudar na construção de políticas de maior alcance”.
Anielle Franco declarou que recebeu com indignação as imagens da abordagem policial. Para ela, os registros causaram revolta, “pelos indícios de racismo institucional”.
“Nossa equipe buscará, junto ao Ministério da Justiça e Ministério dos Direitos Humanos, acompanhar os desdobramentos das investigações”, pontuou a ministra da Igualdade Racial.