Voto livre é como canja de galinha: não faz mal a ninguém

Por: FÁTIMA OLIVEIRA

Quando penso que já vi ou li sobre toda a podridão imaginável dos porões e sótãos da política partidária, a realidade diz que não! O que foi aquilo lá no Maranhão que redundou em greve de fome pelo voto livre de três petistas gabaritados: o líder camponês Manoel da Conceição, o deputado federal Domingos Dutra e a ex-deputada federal Terezinha Fernandes? A Direção Nacional do PT anulou o Encontro Estadual que decidiu apoio a Flávio Dino para governador e impôs o apoio à candidatura Roseana Sarney!

Todo mundo sabe o que penso da suserana, de dom Bigodom et caterva. Quem diria que o purismo petista se afogaria na ilha de Curupu? Aconteceu. Falta de senso é pouco. É coisa de quem nasceu sem o “locus” da moralidade, em si um quadro psiquiátrico. Não canso minha beleza e nem escangalho minha saúde acolhendo gato que se passa por lebre. Só obedeço à minha consciência de livre-pensadora. Abomino a cordeirice – a postura de que, para se militar em um partido, é exigido que abdiquemos dos próprios neurônios.

Uma amiga diagnosticou a doença e receitou o remédio para o que a Direção Nacional do PT aprontou: “Só canja de galinha dá jeito nessa gente delirante! Vai ver que esse delírio é febre, que nem aquele ex-governador que anda a repetir: ‘oncotô proncovô’? Não vê dom Pedro II? Nos últimos anos de vida, só comia canja”. Disse-lhe que ele morreu de pneumonia (5.11.1891) e que caldo de galinha não substitui antibiótico.

Relembrando a conversa, desejei comer uma canja caliente, que adoro e é uma invenção gastronômica medicinal com sabor de infância. Em minha casa, criança com febre não bebia leite de vaca, que para vovó era forte demais, então era agraciada com “leite Ninho”; e carne, só canja de galinha, que fazia suar e “passava a febre”! A canja era “comida para doentes”. Quando estou gripada e febril, corro pra canja de galinha e pros chás, de gengibre, erva cidreira…

Há comprovação científica do poder curativo da canja. Na crônica “A favorita do Imperador”, Daniela Prandi relata que Stephen Rennard, da Universidade de Nebraska (EUA), reabilitou a canja de galinha ao posto de “remédio”. Seus estudos evidenciaram que a cisteína, um aminoácido que galináceos liberam durante o cozimento, é, no aspecto químico, similar à acetilcisteína – usada como mucolítico que protege as células pulmonares contra o dano dos radicais livres oxidantes; e que caldo de galinha e legumes, como cebola, cenoura e batata, retardam o movimento dos neutrófilos, um tipo de glóbulo branco do sangue que, embora ataquem os germes invasores, são responsáveis por grande parte dos sintomas do resfriado.

De origem asiática, a canja foi oficialmente prescrita por Garcia da Orta (1490-1570), médico da Corte Portuguesa, que, “depois de uma viagem à Índia, escreveu ‘Colóquios dos Simples e Drogas e Coisas Medicinais da Índia’ (1563), no qual mencionou um certo ‘caldo de arroz, ou canje'”. Há registros de que, no palácio da Ajuda, em Portugal, “A cozinha devia ter sempre canja fresca elaborada para a rainha dona Maria Pia, que a consumia todos os dias”, o que lança luzes sobre a veneração que dom Pedro II (1825-1891) nutria pelo prato, que rendeu até um livro, com histórias inusitadas, “A Canja do Imperador”, de J. A. Dias Lopes (Companhia Editora Nacional). Dizem que, quando ele ia ao teatro, saboreava “uma canja quente entre o segundo e o terceiro atos, que só começava, por isso mesmo, ao ser dado o aviso de que Sua Majestade terminara a ceiazinha”.

Fonte: O Tempo

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