Xaolin da Rocinha critica em artigo vaias à Dilma

Antonio Xaolin, líder comunitário da Rocinha, escreveu artigo para o Favela 247 criticando as vaias recebidas pela presidenta Dilma Roussef no jogo de abertura da Copa. Segundo Xaolin, há uma disputa política fora dos gramados: “Tudo não passa de um processo arquitetado para impedir o avanço da democracia e a geração de benefícios públicos. A população negra, favelada e pobre começa a conquistar seus direitos incentivados por politicas públicas que beneficiam milhões de trabalhadores brasileiros (…)”, e completa: “Tudo isso gera insatisfação numa classe que nunca dividiu o bolo (…) que o Estado oferecia”.

Por *Antonio Xaolin, para o Favela 247

Uma vaia inconcebível!

Jogo do Brasil e Croácia. Arena Itaquera lotada de torcedores.

O local e o cenário são de um ambiente de classe média burguesa saudável com plano de saúde em dia, formada em universidades públicas, mas que fez o ensino médio em escolas privadas, com estabilidade no emprego e que pagou caro por um ingresso excludente das demandas financeiras do povo. Ingresso cujo valor foi definido pela entidade que comanda o espetáculo de futebol transformado em indústria do entretenimento. A Copa do Mundo.

Quando os autofalantes anunciam a presença da Presidente da República Federativa do Brasil no estádio, os torcedores a recebem com vaias e impropérios.

Por quê?

A realidade brasileira mostra que há um jogo em disputa fora dos gramados da Fifa. Neste jogo é permitido jogar com todas as armas e formas, devido à democracia instaurada. Entretanto, hostilizar a mandatária do país do jeito que aconteceu é inadmissível. Essas atitudes inconsequentes da pequena burguesia não justificam a luta legal por mais educação, mais investimentos na saúde e na qualidade de vida do povo.

Para que ocorra qualquer reação contrária à insatisfação é necessária uma indignação. O Brasil deu um grande passo rumo às mudanças necessárias para o país se desenvolver. Essa melhoria para o povo trouxe descontentamento e ameaças para a classe dominante burguesa, saudável e riquinha. E quando começa a disputa no campo político dos direitos, essa mesma população se apercebe que a classe proletária pode avançar e conquistar direitos nunca dantes permitidos neste país e reage com agressividade.

A grande mídia hegemônica ameaçada pela luta da comunicação e com medo de perder o controle de dominação das massas passa a ser porta-voz da elite e tenta a todo custo criar o senso comum que nada presta incentivando o ódio e a desesperança. Nas redes sociais sites e blogs, os vassalos que formam a corrente de transmissão da grande mídia, repetem a panaceia e nas ruas os coxinhas e blackblocs aproveitam a cantilena incentivando o povo a pensar que tudo está degradado e atacam e achincalham as conquistas e as políticas públicas que beneficiam a população. Os mesmos coxinhas, mascarados ou não, incentivados sutilmente pela mídia, depreda os bens e patrimônios públicos com justificativa marota com agressão aos símbolos capitalistas e destruição do patrimônio público.

Tudo não passa de um processo arquitetado para impedir o avanço da democracia e a geração de benefícios públicos. A população negra, favelada e pobre começa a conquistar seus direitos incentivados por politicas públicas que beneficiam milhões de trabalhadores brasileiros e esses brasileiros ainda querem mais. Ter o médico ao alcance com o Programa Mais Médicos, Clínica da Família, Upa 24 Horas, embarcar no avião a preços acessíveis, ter a casa própria no Programa Minha Casa Minha Vida, Pró Uni, cotas para negros e carentes nas universidades públicas, erradicação da pobreza, diminuição da miséria, disponibilidade de mais empregos, cotas para negros e pardos nos concursos públicos, construção de mais universidades públicas… Tudo isto gera insatisfação numa classe que nunca dividiu o bolo e os benefícios que o estado oferecia.

Hostilizar com vaias a Presidenta da República, não pelos seus defeitos e sim pelos seus méritos, em função do ódio de classe, é simplesmente falta de respeito ao povo e a uma cidadã que lutou, junto com outros brasileiros, contra a ditadura para que hoje se tenha o direito a manifestar-se do jeito que queira, mas deve também ter o respeito à liberdade do outro e pelo outro.

A favela, a periferia, os negros, as mulheres, a juventude pobre, quer os mesmos direitos que a elite sempre manteve para si. O direito à cidade, o direito à moradia, o direito à educação, o direito à saúde, o direito a ter qualidade de vida, o direito ao saneamento, o direito à mobilidade, o direito aos bens de qualidade, o direito de usufruir daquilo que as políticas públicas têm de melhor para todos.

A presidenta não pode parar com os avanços. Avançar nas mudanças é promover mais legados, arquitetônicos e sociais, para um povo que sabe que o país mudou, mudou para melhor.

Querer impedir o avanço nas mudanças pressionando e manipulando as massas para escolhas erradas, não passarão! Retroceder jamais!

Os trabalhadores e o povo também têm direitos. Direito à dignidade! Direito à felicidade!

*Antonio Xaolin é coordenador geral da Câmara Comunitária da Rocinha, São Conrado e Gávea, foi presidente da Associação de Moradores da Rocinha e diretor do Sindicato os Metroviários

Fonte: Brasil 247

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