Xenofobia – a morte de um angolano no Brasil sem auxílio emergencial

FONTEPor Marcelino Curimenha, enviado para o Portal Geledés
João Manuel, de 47 anos, morreu esfaqueado em Itaquera (Arquivo Pessoal)

A xenofobia é o medo ou ódio por estrangeiros. O medo de perder seu status social e que sua identidade nacional pode ser contaminada por sangues e raças ruins, consideradas inferiores. O xenófobo (aquele que sente aversão pelo estrangeiro) vive numa paranoia horrorosa de que o imigrante é uma ameaça ao seu sucesso econômico. Ao se deparar com o estrangeiro, ele treme, se apavora, acreditando que este invasor penetraria nas suas deliciosas terras e tomaria a sua vaga de trabalho que antes estava por aí abundante para os seus patrícios. O xenófobo é excessivamente nacionalista, ostenta uma superioridade descomunal, ondula bandeira, excitasse ao entoar o hino e possui um encantamento religioso pelos símbolos nacionais – se pudesse, por força, violência ou guerra, espalharia seu poderio às nações. O xenófobo é amante do império e da colonia.

Dizem que o Brasil é uma mistura de raças e que existe uma suposta democracia racial, o tal da miscigenação cultural. Sendo assim, não há mais uma suprema raça que diferenciaria a “familia real” com os párias. E como o Brasil, “dos filhos deste solo é a mãe mais gentil”, recebe a todos: americanos, europeus, asiáticos e até africanos. Mas, porque que São Paulo é o Estado Brasileiro que mais mata angolanos? De onde sai esse ressentimento contra a sociedade africana negra? Segundo o cardápio de ódio do xenófobo, seria: o roubo das vagas de emprego e o desconforto social que eles causam. Isso não faz sentido. No Brasil, de acordo com a Constituição Federal de 88, no seu Art. 37, I, diz que o serviço público (concursado) é apenas para brasileiros (salvas as excessões). Antes de 2017 e da Lei n. 13.445, art. 4, estudantes imigrantes não poderiam trabalhar e que só os com vistos permanantes estavam liberados a exercerem serviços remunerados. O que restou para esses indigentes era o trabalho informal, precário e sem direitos.

Mesmo assim, a ameaça contra negros africanos acontece por aí movido por pessoas ressentidas por causa do insucesso ou fracasso pessoal – fruto de um Governo omisso e não dos estrangeiros – ou porque o imigrante africano é um vírus que aparece para tirar aquela harmonia que havia em um passado fantasmagórico, duma cultura superior e que agora está contaminado por esses pretos que vagavam seminu nos safáris africanos. Logo, precisamos elimina-lós um por um, precisamos espanta-lós, amedronta-lós, afugenta-lós. Voltem pras vossas sanzalas ou sentirão a nossa fúria!

Mais um angolano tombou em São Paulo – Brasil  fruto do ódio e da ignorância da xenofobia. Era apenas uma pessoa que saiu de sua terra como milhares de brasileiros fazem ao irem em Angola e no mundo afora. Esse angolano procurou honestamente buscar meios de sobrevivencia que a oportunidade oferecia – afinal em épocas de coronavírus não estamos todos no mesmo barco? Parece que não, morreu feito um animal na rua, golpeado a facadas. A frieza e o desprezo pela vida humana viu-se na risada do xenófobo ao praticar tamanha barbaridade. Mas o ódio nunca vencerá o amor e que a justiça humana e divina sejam feitas!

Enfim, quando os alemãos gritavam contra os judeus que a Alemanha estava acima de tudo e de todos, Deus não estava lá. Deus estava escondido no texto de Êxodo 23:9 que diz: não oprimirás o estrangeiro!


** Este artigo é de autoria de colaboradores ou articulistas do PORTAL GELEDÉS e não representa ideias ou opiniões do veículo. Portal Geledés oferece espaço para vozes diversas da esfera pública, garantindo assim a pluralidade do debate na sociedade.

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