Youtuber aos 93 anos, Nelson Sargento brinca sobre seu celular velho: ‘Só liga e recebe chamada’

Há um povoado de frases avulsas no cérebro de Nelson Sargento. Diariamente, dezenas de máximas pessoais brotam sob os parcos fios da careca negra. Os pensamentos sempre cortam o silêncio. “Se a vaidade soubesse quantos adeptos tem, talvez ela fosse vaidosa também”, divaga o sambista de 93 anos, com orgulho das tiradas instantâneas. Mesmo aquilo que ainda gera dúvida serve de inspiração para as reflexões.

no EXTRA por Gustavo Cunha

— A internet é a nova janela das fofoqueiras da cidade — sentencia ele, um zero à esquerda quando o assunto é rede social.

Nelson Sargento testa smartphone Foto: EXTRA / Gustavo Cunha

Facebook? Twitter? Instagram? WhatsApp? Nada disso faz muito sentido para o baluarte mangueirense, dono de um dinossáurico celular flip. “Meu telefone sem-vergonha só liga e recebe chamada. Às vezes, nem isso faz, porque enguiça. Quero um aparelho inteligente agora!”, protesta, bem-humorado.

“Só a natureza pode responder sobre a minha vitalidade”, diz Nelson Sargento Foto: Leo Martins / Agência O Globo

A tecnologia se faz necessária — e já foi prometida por uma fã. Há duas semanas, o carioca de riso fácil criou um canal no YouTube, onde publica vídeos em que entrevista colegas e dá detalhes curiosos sobre sua trajetória. O trabalho produzido em família, dentro de casa, é encarado com a animação de quem descobre um mundo de novidades.

— É um fato sensacional me ver no YouTube com quase 94 anos. Muita gente se surpreende. Acho bom mostrar coisas que os mais jovens não viram. Tenho muito a falar. Desculpe, não é vaidade. É verdade — ressalta, concluindo que deve gesticular mais à frente das câmeras, após assistir ao youtuber Whindersson Nunes.

Nelson Sargento, em desfile da Mangueira de 2018 Foto: Mauro Pimentel / AFP

As inovações não param. Passado o desfile de carnaval na Sapucaí, o presidente de honra da Mangueira cumprirá uma agenda robusta (veja abaixo). A palavra “descanso” não é motivo para rimas criativas. Ainda.

— Nada mais prejudica quem trabalha do que a presença daqueles que nada fazem. Legal essa frase, né? — diverte-se: — Enquanto os meninos que moram dentro da minha cabeça estiverem na ativa, continuarei fazendo algumas coisas. Honestamente, só a natureza pode responder sobre minha vitalidade. Mas estarei sempre bem! Tenho habeas corpus com São Pedro até o ano 3000. Quando o cara abre o caderno lá no céu, ele diz: “Esse daí não é para vir, não!”.

Criolo e Nelson Sargento, em show na Fundição Progresso, no Rio Foto: Luiz Franco / Divulgação

Novidades à vista: CD para crianças e turnê com Criolo

Há uma porção de letras e melodias inéditas no caderno que Nelson Sargento guarda na gaveta. Avô de 29 netos — “e bisnetos a perder de vista”, diz —, o bamba sonha produzir um disco com canções voltadas para crianças.

— Nesse tempo cruel, os mais novos são quem mais sofrem. Quero fazer música que possa servir de conselho e apoio aos pequenos — revela ele, que tem como principal parceiro musical Agenor de Oliveira (não confunda com o Cartola).

Além da incursão no mundo virtual — em março, ele passará a fazer vídeos-selfies em seu canal na web —, Sargento mantém os dedos ocupados com pincéis: artista plástico, o carioca tem pintado quadros e instrumentos sob encomenda.

Em agosto, a rotina ficará mais agitada. É que ele rodará o Estado do Rio numa turnê de shows em comemoração aos 90 anos da Mangueira, ao lado do rapper Criolo e da Orquestra Sinfônica Cesgranrio.

— Quero me aposentar financeiramente. Inteligentemente, não — pondera.

Nelson Sargento faz careta em foto Foto: Leo Martins / Agência O Globo

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