As mulheres que foram escravizadas no Brasil contribuiram, e muito, para acabar com escravidão no país. Engana-se quem acha que a Princesa Isabel foi a responsável pela libertação dos escravizados, como diria a cantora Yzalú,” a Lei Áurea não passa de um texto morto”, afinal após o 13 de maio de 1888, mulheres lutaram, e ainda lutam contra a racismo e machismo.
Por Patrícia Gonçalves, do Catraca Livre
Os passos das mulheres negras vêm de longe, mesmo. Por isso, separamos 17 mulheres negras que fizeram parte de quilombos brasileiros e foram fundamentais em algum momento para a comunidade negra. As histórias são relatadas nos cordéis de Jarid Arraes e do Mural Memória das Mulheres Negras, acervo do Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul, Rio de Janeiro.
1. Dandara dos Palmares
É uma das líderes mais conhecidas no Brasil. Lutou contra a escravidão em Palmares. Foi contra a proposta da Coroa Portuguesa em condicionar as reivindicações dos quilombolas. A guerreira morreu durante a disputa no Quilombo dos Macacos pertencente ao Quilombo de Palmares, onde vivia também seu marido, Zumbi dos Palmares.
2. Anastácia
Ajudou escravos quando eram castigados, ou facilitando a fuga. Certa vez, lutou contra a violência física e sexual de um homem branco, por isso, recebeu o castigo de usar um mordaça de folha de flandres e uma gargantilha de ferro. Apesar de viver na Bahia e em Minas Gerais foi levada para o Rio de Janeiro no fim da vida, lá atribuíram vários milagres durante sua estadia.
3. Luiza Mahín
Passou muito tempo na Bahia e participou do levante na Revolta dos Malês, em 1835 e a Sabinada, em 1837. Trabalhava como ganhadeira (no comércio de rua).
4. Tereza de Benguela
No Brasil, dia 25 de julho é comemorado o Dia de Tereza de Benguela em homenagem a líder quilombola. Era mulher do líder do Quilombo de Quarterê ou do Piolho, no Mato Grosso. Por lá, foram abrigados até índios bolivianos incomodando autoridades das Coroas espanhola e portuguesa. Tereza foi presa em um dos confrontos e como não aceitou a condição de escravizada suicidou-se.
5. Aqualtune
Era filha do Rei do Congo e foi vendida para o Brasil. Grávida no Quilombo dos Palmares organizou sua primeira fuga. Ficou conhecida por ficar ao lado de Ganga Zumba, antecessor de Zumbi, seu neto. A guerreira morreu queimada.
6. Zeferina
Líder no quilombo de Urubu, na Bahia. Era angolana e foi trazida ainda criança para o Brasil. As histórias relatam que ela confrontava os capitães do mato com arco e flecha.
7. Maria Felipa de Oliveira
Foi líder na Ilha de Itaparica, Bahia. Aprendeu a jogar capoeira para se defender. Tinha como missão principalmente libertar seus descendentes e avós. Ficava escondida na Fazenda 27, em Gameleira (Itaparica), para acompanhar, durante a noite, a movimentação das caravelas lusitanas. Em seguida, tomava uma jangada e ia para Salvador, passar as informações para o Comando do Movimento de Libertação.
Créditos: Alberto Henschel
8. Acotirene
Era considerada matriarca no Quilombo dos Palmares e conselheira dos primeiros negros refugiados na Cerca Real dos Macacos. Um dos mocambos (casa) foi batizado com o seu nome.
9. Adelina Charuteira
Era uma das líderes no Maranhão. Era filha de uma escravizada com um senhor, por isso, sabia ler e escrever. Apesar do pai, não foi libertada aos 17 anos, mas era ativamente parte da sociedade abolicionista de rapazes, o Clube dos Mortos. Para arrecadar dinheiro vendia charutos fabricados pelo pai, com essa articulação descobria vários planos de perseguição aos escravos.
10. Rainha Tereza do Quariterê
Foi guerreira no Quilombo do Quariterê, em Cuiabá. Comandou toda a estrutura política, econômica e administrativa do quilombo. Mantinha até um sistema de defesa com armas trocadas com homens brancos ou resgatadas pelos escravizados.
Créditos: Azuir Filho
11. Mariana Crioula
Era mucama em Vila das Vassouras, Rio de Janeiro. Se juntou com escravizados na maior fuga de escravos da história fluminense em 5 de novembro de 1838. Liderou a fuga e um quilombo com Manuel Congo.
12. Esperança Garcia
Ousou a escrever uma carta para o presidente da Província de São José do Piauí, Gonçalo Lourenço Botelho de Castro, denunciando os maus-tratos físicos de que era vítima, ela e seu filho, por parte do feitor da Fazenda Algodões.
13. Maria Firmina dos Reis
Foi considerada a primeira romancista brasileira, além de escrever o primeiro romance abolicionista, Úrsula, que narra a condição da população negra no Brasil com elementos da tradição africana. Dedicou sua vida a leitura e escrita.
14. Eva Maria de Bonsucesso
Era uma escrava alforriada que vendia frutas e verduras no Rio de Janeiro. Foi agredida por um homem branco e conseguiu que ele fosse preso, e condenado pela agressão
15. Maria Aranha
Foi líder do Quilombo de Mola, no Tocantins. Venceu todos os ataques escravistas e organizou toda a sociedade do local.
15. Na Agontimé
Era rainha do Benim e foi vendida como escrava para o Maranhão, até ganhou um novo nome, Maria Jesuína. Ela fundou a Casa das Minas e reconstruiu o culto aos ancestrais.
16. Tia Simoa
Liderou a luta contra a escravidão no Ceará. Foi do Grupo de Mulheres Negras do Cariri, o Pretas Simoa.
correção: (O grupo de mulheres negras do cariri se chama Pretas Simoa, em homenagem a tia Simoa. Mas, por uma questão de tempo mesmo, seria impossível tia Simoa ser de fato desse grupo.) enviado por Amanda Sampaio (Ceará) - Segue o site do Pretas Simoa: https://pretassimoa.wordpress.com/tag/preta-simoa/
17. Zacimba Gaba
Era princesa angolana e acabou no Espírito Santo. Provocou uma revolta das pessoas escravizadas contra a Casa Grande e liderou um quilombo onde foi rainha. Comandou durante anos ataques aos navios, surgindo no meio da noite em canos precárias para resgatar os negros escravos, a referência à sua morte seja em um desses enfrentamentos.