2010: Copa do Mundo, eleições e o Censo do IBGE

César Martins*

Em 2010, o território e a sociedade brasileiros serão tomados por três forças: a Copa do Mundo, as eleições e o 12º Censo Demográfico do IBGE. A Copa do Mundo e as eleições são quadrienais. O Censo é aquele realizado desde 1940 pelo IBGE, em que um órgão do Estado, portanto independente de governos, reconhecido internacionalmente, convoca os brasileiros para responder questões que servirão para análises que apoiarão o planejamento e ações não somente estatais, mas também dos diferentes grupos e instituições do país. Com um custo de 1,4 bilhões de reais e mobilizando os melhores quadros técnicos, milhares de pessoas e equipamentos de última geração, o Censo 2010 qualifica seu trabalho com as melhores tecnologias da informação mantendo a confiabilidade e a privacidade das informações fornecidas pelos brasileiros. Assim, não é dependente de contrapartidas ou de caronas de atividades de outros órgãos que possam inviabilizar, atrasar, colocar em suspeita seus resultados ou aparecer em relatórios internacionais que surpreendam os brasileiros.

 

Positivamente não há indícios de penalização para qualquer pessoa ou instituição, protegida por títulos, cargos ou dinheiro que faça um “censo”. Quem pode ser qualquer pessoa ou instituição? Pode ser um empresário interessado em conhecer a sua clientela, um líder de associação querendo descobrir os problemas dos associados ou um professor de Geografia para estimular os estudantes em conhecer o bairro da escola. Porém, a validação dos dados obtidos e quiçá de suas análises é frágil, pois há rigorosos critérios metodológicos que incluem a possibilidade de amostragens e de estimativas e, sobretudo, a garantia do sigilo das informações difíceis de garantir quando realizado por equipes sem treinamento adequado, com escassos equipamentos e que não estão sujeitos aos rigores da legislação. Ou seja, pessoas com o mínimo de formação e informação realizam no máximo “levantamentos sobre isto ou aquilo” que podem servir no máximo de treinamento de pessoal e no caso das empresas, é da conta e risco de seu investimento. No caso do serviço público? É a viúva que paga conta: obrigado Elio Gaspari! Depois de anos à míngua, os servidores públicos das Universidades, com algum recurso para seduzir estudantes, eventualmente exercitam suas imaginações com tonalidades salvacionistas e tendencialmente premonitórias se sobrepondo as atividades de outros órgãos de Estado, engordam seus currículos e se omitem em executar as atividades fins para que foram contratados e são pagos: lecionar prioritariamente nos cursos de graduação e refletir teoricamente sobre o Planeta e o Mundo. Portanto, distanciam-se do “inocente útil” e se aproximam dos serviçais dos totalitarismos, que sem saber o que faziam, faziam e fazem como analisa Slajov Zizek. E a conta? A viúva paga!

 

Com o censo do IBGE e a divulgação de seus resultados, haverá as explosões de razão e emoção, assim como no processo eleitoral e a Copa. A atenção deve ser redobrada, pois há indícios que alguns portadores e ex-portadores de cargos nos executivos, seguindo seja lá quais os interesses, utilizaram suas posições para realizar alianças estratégicas nas instituições públicas para penetrar em alguns setores da sociedade brasileira, especialmente de grande vulnerabilidade social, para construir e consolidar bases eleitorais. Conscientemente ou não colaboram para retirar do IBGE, órgão de Estado, o monopólio dos censos para colocá-los sob a tutela de órgãos administrados por cargos comissionados e por interesseiros de todas matrizes com velhos e novos prepostos. A consolidação da democracia no país deve insistir na diferença entre o que é do governo X ou Y e o que é estatal e controlado pela sociedade, portanto público. Assim, a sociedade brasileira deve estar atenta para possíveis confusões entre alguns projetos que tentem a se viabilizar eleitoralmente ante as saudáveis surpresas que as urnas, os resultados do censo e da Copa podem trazer.

*Professor de Geografia no ICHI da Furg

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