30 anos sem Bob Marley: como surgiram e onde estão hoje as bandeiras levantadas pelo músico

Bob Marley, nascido Robert Nesta Marley e batizado Berhane Selassie pela Igreja Etíope Ortodoxa seis meses antes de sua morte, era uma força musical, política e religiosa.

Em seus 36 anos de vida e 20 de carreira, o compositor e cantor fez mais do que qualquer outro para levar a musicalidade jamaicana do reggae ao reconhecimento internacional, plantando suas ideias e visões nas canções, espalhando sua espiritualidade através da arte, angariando fiéis e criando estéticas.

Esta quarta-feira (11) completa-se 30 anos de sua morte. Saiba como surgiram e como estão hoje as principais ideias que Bob Marley pregava:

O MOVIMENTO RASTAFÁRI

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Hoje somando mais de um milhão de seguidores pelo mundo, além de representar cerca de 5% da população da Jamaica, o Movimento Rastafári se caracteriza mais como uma ideologia do que uma religião organizada. Nascido em fins da década de 20, a partir das ideias de pan-africanismo e de volta do povo negro às raízes africanas propagadas pelo ativista e religioso Marcus Garvey, o movimento Rasta via no Imperador da Etiópia Haile Selassie –ou Ras Tafari Makonnen– a reencarnação de Jah, como chamam a Deus.

A irmandade, comunhão com a natureza, interpretação própria da Bíblia, a força dos negros africanos e o uso de maconha –a “erva da sabedoria”– para fins espirituais estão entre as características do movimento Rasta e consequentemente das mensagens da música de Bob Marley, ecoando até hoje entre seus seguidores.

MACONHA

maconha

Há milhares de anos as propriedades da planta Cannabis sativa são cultivadas no mundo: da fibra natural do cânhamo para produzir roupas e papéis até as propriedades calmantes e alucinógenas da maconha para efeitos analgésicos ou uso recreativo. Para Bob Marley, que costumava repetir que não se pode dizer a Jah que uma planta que ele criou é ilegal, a marijuana, ou kaya, ou ganja, era mais: elemento de uso ritualístico e espiritual. Para a cultura Rasta, o consumo de maconha é uma maneira de buscar comunhão com a natureza e se aproximar de Jah. Na via contrária, desde o começo do século 20, a cannabis se tornou amplamente ilegal pelo planeta, apesar de ser a substância ilícita mais usada no mundo, segundo as Nações Unidas.

Na história da música pop, mais músicos do que seria possível contabilizar cantaram a planta, dos Beatles ao africano Fela Kuti, passando por Ben Harper, Sublime, Willie Nelson, Cab Calloway e, no Brasil, Marcelo D2, desde os tempos de sua banda Planet Hemp, e mais recentemente cantando Bezerra da Silva, outro advogador da causa. A discussão sobre a legalização da droga é hoje uma tendência mundial e, apesar do uso ainda ser proibido em muitos países, lugares como Alemanha e Holanda encaram o assunto com leveza, além de em mais de dez estados americanos a maconha ser descriminalizada ou permitida para uso medicinal.

OS DREADS

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Os cabelos trançados em mechas, formando longos tufos enrolados, são uma tradição milenar. Desde o Egito Antigo, passando por inúmeros povos e culturas, com diferentes significados e funções estéticas, os dreadlocks são símbolos de orgulho racial, manifestação política e afirmação espiritual. Quando os Rastas começaram a usá-los como amostra e poder de sua crença, os dreads se tornaram mundialmente uma assinatura visual, um conceito religioso, um ícone pop, ideológico e comportamental contemporâneo. Mais do que identificação imediata com um estilo musical, é a definição de um estilo de vida.

Além de ser um estilo tradicional da cultura negra, no Brasil os dreads podem ser feitos em cabeleireiros tipicamente black, mas também são opção comum em salões de classe média com preços de R$ 300 a R$ 800, e tempo de produção de 5 a 12 horas. Ana Paula Tabalipa, Daniela Mercury, Felipe Dylon e Marcelo Falcão, d’O Rappa, são representantes do uso do estilo recentemente no país. Gilberto Gil os cultiva há dez anos.

REGGAE

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Com seu ritmo próprio, suas dinâmicas particulares e seu universo temático, o reggae partiu de suas influências do jazz e do soul americano para criar uma linguagem única, desenvolvida por músicos jamaicanos a partir dos anos 60. Inicialmente surgido como uma evolução mais lenta de ritmos como ska e rocksteady, o reggae acompanhou seu maior expoente, Bob Marley, na expansão por todo o mundo. Se hoje em dia aderir ao estilo significa quase cantar sobre Jah, louvar a volta às raízes e assumir a influência da cannabis, o ritmo hipnótico, andamento lento, fortes linhas de baixo e batida no contratempo são elementos musicais universalmente reconhecidos.

O reggae é uma opção musical e comportamental rica. No Brasil há uma forte cena dedicada ao estilo, com nomes como Edson Gomes, Tribo de Jah, Ponto de Equilíbrio e Planta e Raiz, além de Gilberto Gil, que em em 2001 chegou a viajar a Jamaica para gravar disco dedicado a Bob Marley. A cada dia surgem novos nomes, a cada disco mostram-se novas possibilidades, a cada canção o estilo se amplia. O dub, espécie de variação instrumental e mais experimental do gênero, é também cada vez mais aceito e tocado, representado no Brasil por nomes como Buguinha Dub e Rockers Control.

 

Fonte: UOL

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