6 histórias de clientes assediad@s por funcionários, taxistas e segurança de banco

O caso da jornalista Ana Prado, que foi assediada por um funcionário do telemarketing da NETnão é algo isolado. Na manhã do dia 26 de maio, ela recebeu uma ligação da empresa de TV por assinatura oferecendo uma promoção. Mais tarde, o mesmo atendente enviou mensagens de WhatsApp para o seu celular: “Desculpa. Mas fiquei curioso por causa da sua voz”, dizia uma delas.

por   no Brasil Post

O caso ganhou repercussão depois que a jornalista publicou prints das conversas em seu Facebook — e cobrou providências da NET. No dia seguinte, a empresa informou que demitiu o funcionário e que pretende criar um canal de denúncias específico para casos de assédio que, até então, “não chegavam a ela”.

A história encorajou dezenas de pessoas a compartilhar situações semelhantes nas redes sociais, provando que o assédio é algo recorrente não apenas por parte de atendentes de telemarketing, mas por funcionários de diversos setores – de taxista a segurança de banco.

 

“Boa noite, princesa”
Andréa Galvão*, 30 anos, Brasília, DF

“Tive problemas deste tipo duas vezes. Uma delas foi no Rio. Chamei o táxi pelo aplicativo, a corrida foi rápida e mal falei com o taxista. Assim que cheguei em casa recebi uma mensagem dele no WhatsApp: “Oi linda, precisando de mais um corrida ou companhia tô aqui”.

O outro foi em São Paulo. Saí de uma reunião, chamei o táxi e peguei “aquele” trânsito. De madrugada chega uma mensagem no WhatsApp: “Boa noite, princesa” – e a foto do taxista!

Nos dois casos bloqueei imediatamente os números no WhatsApp. Infelizmente, o Easy Taxi não dispõe de um canal no aplicativo para fazer denúncias. Você só consegue avaliar a experiência da corrida. Mas não me senti intimidada. Eu mudei de aplicativo e, até agora, não tive outra experiência ruim.”

“Você é sempre séria assim?”
Bela França, 25 anos, São Paulo, SP

“Isso aconteceu em 2011. O cara da NET chegou na minha casa para instalar o telefone e, neste momento, minha mãe estava lá. Um tempo depois ela precisou sair e eu fiquei na sala esperando ele terminar a instalação. E ele ficou tentando puxar papo comigo dizendo coisas do tipo: “Você é sempre séria assim?”. E eu: “Sou”, sempre respondendo de forma séria.

Depois de terminar o serviço, ele foi embora, mas minutos depois ligou na minha casa. “Eu acabei de sair da sua casa”, ele disse, se identificando. Depois perguntou se eu queria sair com ele. E eu obviamente neguei, né?! Aí ele me pediu pra não contar pra ninguém pois ele podia ser demitido por isso.

Contei pra minha mãe e ela me pediu para não contar para o meu pai porque ele ia “arrumar um escândalo”. Enfim, não quis “render” mas fiquei com medo de ele voltar na minha casa sabendo que eu estava sozinha. Eu morava em casa quando isso aconteceu. Saí da casa dos meus pais e no apartamento onde moro hoje contratei GVT e, entre os vários motivos, um era esse”.

“Ele só parou porque eu o bloqueei”
Rafael Mooglez, 32 anos, São Paulo, SP

“Eu havia pedido um serviço da NET. Durante a conclusão do pedido, a ligação caiu e o atendente entrou em contato comigo por WhatsApp para finalizar o serviço. Estranhei, mas imaginei que poderia ser algo novo. Duas semanas depois o atendente começou a falar comigo com frequência, sempre sobre assuntos não ligados à NET. Ele já tinha tentado outros assuntos sempre ligados a sexo e eu evitava. Às vezes até falava na minha esposa, pra ver se ele parava. Mas sempre sem sucesso.

Entrei em contato com a NET e eles não deram bola. Só falaram que não aprovavam a atitude. Ele [o atendente] falou o nome dele algumas vezes, mas nunca gravei. Ele só parou porque eu bloqueei. E mesmo assim, falou que só estava me sondando pra dar canais de graça, que faria isso sem a NET saber.

Eu não tinha dado importância para a história até ver esse post da Ana Prado. Sempre achei algo atípico, mas não dei bola. Achei extremamente invasivo, mas sei lá… Pode soar meio machista, mas como sou homem, não me preocupei. Acharia bem mais impactante se eu fosse mulher.”

 

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“O gerente quis dar meu telefone para o segurança do banco”
Raquel Batista*, 23 anos, São Paulo (SP)

“No prédio onde eu trabalho tem uma agência do Bradesco. O gerente sempre foi simpático comigo e eu igualmente. Sempre tratei bem todos os funcionários. Na última vez que fui ao banco, fiz a mesma coisa: dei bom dia, conversei, brinquei, e fui embora.

Quando cheguei ao meu andar, vi alguém falando comigo no WhatsApp, de um número que não estava salvo no meu celular. Era o gerente, que pegou meu número no cadastro e perguntou se poderia passar para o segurança, que estava a fim de mim. Eu falei que não, obviamente, que isso era ridículo e que ele poderia se dar mal, já que usou dados do banco para esse tipo de coisa. Ele pediu desculpas, assumiu o erro e não passou meu número, mas só o fato de ele ter pedido me incomodou muito.

Não voltei lá depois, mas encontrei por duas vezes o segurança no café, e ele fica me olhando com cara de safado. Fiquei com ódio! E nojo, claro. E insegura, porque né… se o cara faz isso com meus dados pessoais, imagina o que ele pode fazer com os meus dados bancários? Mas meu medo mesmo é do segurança”

“Ele disse que me achou ‘fofa'”
Nayara Dalla Vecchia, 25 anos, Recife (PE)

“Solicitei uma visita da NET para reinstalar o serviço de TV no meu quarto. Eu já tinha recebido técnicos de diversas empresas em casa, sozinha, inclusive da própria NET, então deixei os dois funcionários no quarto e fiquei na sala.

Aparentemente, tudo estava resolvido quando um deles me chamou no quarto e o outro ficou no hall do prédio (já que estavam para ir embora). Atendi ao chamado porque achei que ele queria me mostrar algo sobre a instalação. Reparei que ele ficava falando ‘bobagens’ e fazendo brincadeiras, mas até aí, tudo bem. Eu sempre tento ser gentil com as pessoas.

Tudo ia bem — apesar das piadinhas — até que, depois de assinar a ordem de serviço, eu dei as costas e ele segurou e puxou o meu braço. Foi aí que eu me esquivei e coloquei a mão para interrompê-lo e perguntei se ele estava ficando louco. Aí ele pediu desculpas, disse que me achou “fofa”, e foi embora. Eu fiquei meio sem reação depois.

Quando minha mãe chegou, eu contei o que aconteceu e ela me fez ligar na NET para reclamar. Só que os funcionários não passavam nenhuma informação. Eu só queria que o técnico fosse repreendido e eles não falavam nada, jogavam a culpa na empresa terceirizada e se isentavam de qualquer responsabilidade.

Mas pior que o assédio é pensar que a empresa protege essas atitudes enquanto você põe um desconhecido dentro da sua casa. Depois, quando contei para uma amiga, tive que ouvir ela me perguntar qual roupa eu estava vestindo para isso acontecer.”

“Tu deu mole, também”
Raquel Estrella, de Nova Iguaçu, RJ

“No dia 27 de janeiro, liguei para a Sky porque estava sem sinal. Um funcionário chamado Lucas me atendeu. Pediu que eu confirmasse meu CPF, nome e telefone. Confirmei tudo, mas não disse meu celular. Passei meu número residencial.

No mesmo dia, bem mais tarde, por volta de 23h, um número de São Paulo me chamou no WhatsApp. Perguntei quem era. Ele disse que era o Lucas, que havia me atendido na Sky e pegou meu telefone. Eu sou casada, meu marido ficou chateado.

Entrei na Justiça contra a Sky porque tenho medo desse tipo de invasão. Nem entrei em contato com a empresa, fui direto no meu advogado. No dia 20 de maio foi a audiência, depois de cinco meses de espera. Todos riram, ficaram impressionados com a cara de pau (do funcionário). O advogado tinha uma proposta de acordo, R$ 1.000 em dinheiro. Eu não aceitei. No fim, recebi R$ 1.300.

Mas a verdade é que não foi pelo dinheiro. Fui à Justiça porque foi absurdo. Fiquei preocupada com o tipo de informação à qual ele poderia ter acesso. Eu não conheço a pessoa. Se tiver má índole, com meu CPF, endereço e telefone faz a festa.

Depois da audiência, o advogado da Sky disse que eles não conseguem encontrar esta pessoa [Lucas] que entrou em contato comigo pelo número que aparece no WhatsApp, para desligá-la. Como se não tivessem controle sobre quem é o atendente. Eu realmente não acredito que não tenham como localizar o atendente que abriu o protocolo.

Eu queria que tivesse sido muito dinheiro. Um dinheiro que chamasse atenção dos diretores. Porque isso é rotina. O assédio é todo dia. Já aconteceu até com um policial isso. Fui registrar uma ocorrência de assalto, e o policial que me atendeu pegou meu telefone, me adicionou no WhatsApp e me chamou para almoçar. Como vivemos numa sociedade machista, quando a gente conta esses episódios as pessoas dizem ‘Tu deu mole, também’. Você não pode ser educada. Se você sorri, você dá mole.”

Outro lado

Ao Brasil Post, a Easy Táxi informou que está trabalhando para atualizar o aplicativo com uma tecnologia que “realiza telefonemas entre passageiro e taxista sem mostrar nem armazenar o telefone um do outro” para evitar que outros casos aconteçam.

Já a NET, após várias denúncias a partir do caso de Ana Prado, criou um canal de denúncias (conduta.net@net.com.br) e disse “tratar as informações pessoais com as mais rigorosas práticas e políticas de proteção ao sigilo”.

Bradesco informou que desconhece o caso e que “está à disposição para apurar o ocorrido mediante fornecimento de mais informações”. A cliente citada na reportagem afirmou que não quis denunciar o caso à ouvidoria do banco por medo de prejudicar sua relação com o gerente.

Sky disse que seus colaboradores são treinados constantemente para atender aos clientes “de modo profissional e com muita qualidade”. De acordo com a empresa, o caso levantado pela reportagem foi um fato isolado, que resultou no afastamento do colaborador.“.

*Nomes foram alterados para preservar a fonte.

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