63 anos da independência de Gana, a primeira na África Subsaariana

Organizado pelo político socialista Kwame Nkrumah, o povo ganense lutou pela autonomia até 1957, quando deixou de ser a Costa d’Ouro

Por ANDRÉ NOGUEIRA, do Aventuras na História

Nkrumah e partidários em discurso – Getty Images

No século 19, uma região na costa oeste africana, tomada em parte pelos portugueses, tornou-se alvo do colonialismo britânico. Com pouco tempo de guerra, todos os grupos políticos originários do local seria subjugados, se tronando parte da Costa d’Ouro. Esse espaço, cheio de contradições e singularidades, seria o primeiro país da África Subsaariana a conquistar sua independência: Gana.

Diferente de muitos países que traçavam sua emancipação naquele momento, através da guerra, Gana, por mais que com a presença de muitas formas de resistência violentas, buscou sua separação do Reino Unido pela diplomacia, e a figura chave desse momento foi Kwame Nkrumah, que chefiava a Costa d’Ouro e liderava um movimento político chamado pan-africanismo (a busca pela união sociopolítica de todos os originais africanos).

O processo de independência do país começou com as reformas, incitadas por uma série de revoltas e motins, feitas pela Inglaterra, dando mais autonomia à colônia após o fim da Segunda Guerra. Os ganenses passaram a organizar uma Assembleia Legislativa. Porém, não foi o suficiente para aquietar os movimentos pró-emancipação, que dedicaram esforços em motins extremamente violentos.

Como consequência, o Reino Unido organizou uma proposta de independência gradual do país, o que foi aceito por boa parte dos líderes nacionalistas, com exceção de Nkrumah, que com uma proposta de independência imediata, desobediência civil e união dos povos, passou a ganhar adeptos. Por esse motivo, o pan-africanista foi preso pelos britânicos em 1951, o que aumentou sua popularidade.

Em seguida, A Convenção do Partido Popular, seu bloco politico, tomou quase a todas as vagas da Assembleia Legislativa, o que pressionou o Parlamento Britânico e o Ministério das Colônias a negociarem diretamente com Nkrumah. A partir de um projeto de emancipação unificada e nacional, e sem retaliações do novo país, Kwame Nkrumah declarou a independência da colônia.

O país passou a se chamar Gana, em referência ao império antigo de mesmo nome, que dominou aquela região da África entre os séculos 9 e 13. Sua capital passou a ser a cidade de Accra, que sediaria uma grande conferência de promoção do pan-africanismo no ano seguinte. Passou-se a comemorar a vitória contra os ingleses no dia 6 de março, em referência ao ano de 1957.

Nkrumah foi eleito primeiro-ministro do país, passando a organizar o país a partir das doutrinas do socialismo planificador e do não-alinhamento diplomático. Auxiliou a organização de movimentos independentistas ao redor da África e tentou promover o programa de unificação nacional do Continente Africano, que nunca ocorreu. Ele sofreria um golpe de Estado em 1966, e morreria em exílio.

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