Juventude e estudos
Kwame Nkrumah nasceu em 1909 em Nkroful, Costa do Ouro, filho da Senhora Nyaniba. Formou-se pela prestigiosa Achimota School em Accra, em 1930, estudou em um seminário católico e lecionou numa escola católica em Axim. Em 1935 partiu de Gana para os Estados Unidos, bacharelando-se na Universidade Lincoln, Pennsylvania, em 1939, onde ingressou na Fraternidade Phi Beta Sigma, Inc.
Naquela mesma universidade bacharelou-se em Teologia Sagrada, em 1942. Recebeu o título de mestre das ciências da educação na Universidade de Pennsylvania em 1942 e o título de mestre de artes em filosofia, no ano seguinte. Quando lecionava ciência política na Universidade Lincoln, foi eleito presidente da Organização de Estudantes Africanos dos Estados Unidos e do Canadá. Quando seguia o curso de graduação em Lincoln participou de pelo menos uma montagem teatral universitária e publicou uma matéria sobre a África em um jornal estudantil,The Lincolnian.
Durante sua permanência nos Estados Unidos, Nkrumah pregou em igrejas presbiterianas negras em Filadélfia e Nova York. Leu livros sobre política e teologia, além de orientar estudantes de filosofia. Nkrumah entrou em contato com as idéias de Marcus Grey e, em 1943, deu início a prolongada correspondência com C.L.R. James,marxista de Trinidad,com a expatriada russa Raya Dunauyevskaya e a sino-americana Grace Lee Boggs, todos eles membros de um grupo intelectual trotskista, baseado nos Estados Unidos. Mais tarde Nkrumah deu créditos a James por ensinar-lhe “como funcionava um movimento subterrâneo”.
Chegou a Londres em maio de 1945, com a intenção de estudar na Escola de Economia de Londres. Após conhecer George Padmore, ajudou a organizar o Quinto Congresso Pan-Africano em Manchester, Inglaterra. Fundou em seguida o Secretariado Nacional da África Ocidental, com o objetivo de trabalhar em favor do fim da colonização na África. Foi vice-presidente da União dos Estudantes da África Ocidental.
Ao longo de sua existência, Nkrumah foi distinguido com doutorados honorários pela Universidade Lincoln, Universidade Estatal de Moscou, Universidade do Cairo, Universidade Jagiellona, de Cracóvia, Polônia, Universidade Humboldt, de Berlim Oriental e outras universidades.
Regresso à Costa do Ouro
No outono de 1947, Nkrumah foi convidado para ocupar o posto de secretário geral da Convenção Unida da Costa do Ouro, presidida por Joseph B. Danquah. Essa convenção política objetivava propor os meios para se alcançar a independência. Nkrumah aceitou a indicação e viajou para Costa do Ouro. Após rápidas paradas em Serra Leoa, Libéria e Costa do Marfim, chegou à Costa do Ouro em dezembro de 1947.
Em fevereiro de 1948 a polícia abriu fogo contra ex-recrutas africanos que protestavam contra o custo de vida. O tiroteio provocou manifestações em Accra, Kumasi e outras localidades. O governo suspeitou de que a Convenção Unida da Costa do Ouro estava por detrás dos protestos e prendeu Krumah, além de outros líderes partidários. Ao se dar conta de seu erro, os britânicos em breve soltaram os líderes da convenção. Após sua prisão pelo governo colonial, Nkrumah emergiu como líder do movimento da juventude, em 1948.
Após ser solto, Nkrumah percorreu o país. Proclamou que a Costa do Ouro precisava “de um auto-governo já” e construiu uma substancial base de poder. Os plantadores de cacau abraçaram sua causa, pois discordavam da política britânica, em sua tentativa de conter as pragas que infestavam as plantações. Nkrumah convidou as mulheres a participar do processo político, numa época em que o sufrágio feminino era algo novo na África. Os sindicatos também se aliaram a seu movimento. Em 1949 ele organizou esses grupos em um novo partido político, o Partido da Convenção do Povo.
Os britânicos
Os britânicos convocaram uma comissão composta de africanos de classe média para estabelecer uma nova constituição que daria a Gana mais auto-governo.
Sob a nova constituição, apenas aquelas pessoas que dispusessem de renda suficiente e de propriedade poderiam votar.
Nkrumah organizou uma “Assembléia do Povo”, com membros do Partido da Convenção do Povo, juventude, sindicalistas, agricultores e veteranos.
Eles propuseram o voto universal, sem qualificações relacionadas à propriedade, uma câmara separada, integrada por chefes locais, e o status de auto-governo, em consonância com o Estatuto de Westminster. Tais resoluções, conhecidas como as Propostas Constitucionais de Outubro de 1949,foram rejeitadas pela administração colonial.
Quando os administradores coloniais rejeitaram as recomendações da Assembléia do Povo, Nkrumah organizou uma campanha de “Ação Positiva”, em janeiro de 1950, que incluía desobediência civil, recusa à cooperação, boicotes e greves. A administração colonial prendeu Nkrumah e muitos dos que apoiavam o Partido da Convenção do Povo.
Ele foi condenado a três anos de prisão.Ao encarar protestos internacionais e resistência interna, os britânicos decidiram deixar a Costa do Ouro. Organizaram a primeira eleição geral, com voto universal, de 5 a 10 de fevereiro de 1951. Embora Nkrumah estivesse na prisão, o Partido da Convenção do Povo foi eleito por esmagadora maioria, conquistando 34 dos 38 assentos na Assembléia Legislativa. Nkrumah foi solto em 12 de fevereiro e convocado pelo governador britânico Charles Arden-Clarke, que lhe pediu para formar um governo no dia 13.
A nova Assembléia Legislativa reuniu-se no dia 20 de fevereiro, tendo Nkrumah como Líder dos Assuntos do Governo e E. C. Quist como Presidente da Assembléia. Um ano mais tarde a constituição foi emendada, a fim de instituir o cargo de Primeiro Ministro, no dia 10 de março de 1952. Nkrumah foi eleito para o posto mediante votação secreta na Assembléia (45 votos a favor, 31 contra e 8 abstenções),no dia 21 d março. Ele apresentou em 10 de julho de 1953 sua “Moção do Destino” à Assembléia, solicitando a independência, embora afiliação à Comunidade Britânica “tão logo sejam tomadas as necessárias providências constitucionais”. Sua moção foi aprovada.
Independência
Na qualidade de líder daquele governo, Nkrumah encarou três sérios desafios: primeiro, aprender a governar; segundo, unificar a nação de Gana a partir dos quatro territórios da Costa do Ouro; terceiro, conquistar a completa independência da nação em relação ao Reino Unido. Nkrumah foi bem sucedido em relação aos três objetivos. Decorridos seis anos de sua soltura da prisão, era o líder de uma nação independente.Ao meio dia de 6 de março de 1957, Nkrumah declarou Gana independente. Ele foi aclamado “Osagyefo”, que significa “redentor”, no idioma Twi.Em 6 de março de 1960 Nkrumah anunciou os planos de uma nova constituição, a qual tornaria Gana uma república.
A resolução incluía uma provisão que incluiria a soberania de Gana em uma união de Estados africanos. Nos dias 19, 23 e 27 de abril de 1960 ocorreu a eleição presidencial e um plebiscito sobre a constituição. Esta foi ratificada e Nkrumah foi eleito presidente, ganhando do candidato J.B. Danquah, da UP: 1.016.076 votos contra 124.623. Em 1961, Nkrumah inaugurou o início das obras do Instituto Ideológico Kwame Nkrumah, criado para formar funcionários públicos ganenses, bem como para promover o pan-africanismo.
Em 1963 Krumah recebeu da União Soviética o Prêmio Lenin da Paz. Gana tornou-se membro fundador da Organização da Unidade Africana em 1963.A Costa do Ouro havia sido uma das regiões mais ricas e socialmente adiantadas da África, com escolas, ferrovias, hospitais, assistência social e economia avançada. Sob a liderança de Nkrumah, Gana adotou algumas políticas e práticas socialistas. Ele criou um sistema de bem-estar social, iniciou vários programas comunitários e implantou escolas.
Ordenou a construção de estradas e pontes para incrementar o comércio e a comunicação. Com a finalidade de melhorar a saúde e o saneamento básico nas aldeias, foi instalado o fornecimento de água com torneiras, bem como sistemas de escoamento para as latrinas.
Política
Nkrumah adotou, em geral, uma perspectiva marxista de não alinhamento em relação à economia e acreditava que o capitalismo havia exercido efeitos malignos, que persistiriam na África durante muito tempo. Embora se distanciasse com clareza do socialismo africano de muitos de seus contemporâneos, Nkrumah argumentou que o socialismo era o sistema que melhor se acomodaria às mudanças introduzidas pelo capitalismo, ao mesmo tempo em que ainda respeitava os valores africanos. Ele abordou especificamente tais questões e a política que praticou em um escrito de 1967, intitulado “O socialismo africano revisitado”.
Sabemos que a sociedade africana tradicional foi fundada em princípios igualitários. Entretanto, no modo como ela opera atualmente, há várias deficiências. Seu impulso humanista, porém , é algo que continua a nos incitar a prosseguir na reconstrução socialista inteiramente africana. Postulamos que cada homem constitui um fim em si mesmo, não simplesmente um meio, e aceitamos a necessidade de garantir a cada homem idênticas oportunidades para seu desenvolvimento. As implicações deste fato para a prática sócio-política precisam ser alcançadas cientificamente e as políticas sociais e econômicas necessárias devem ser perseguidas com determinação. Qualquer humanismo consistente deve começar pela igualdade e precisa conduzir a políticas objetivamente escolhidas para salvaguardar e sustentar esta igualdade. Por isso o socialismo, por isso, também, o socialismo científico.
Talvez Kkrumah ficou sendo politicamente mais conhecido por seu vigoroso compromisso e pela promoção do pan-africanismo. Inspirando-se nos escritos e em seu relacionamento com intelectuais negros como Marcus Garvey, W.E.B. DuBois e George Padmore, Nkrumah dedicou-se a inspirar e a encorajar posições pan-africanas entre inúmeros líderes da independência africana, tais como Edward Okadjian e ativistas da diáspora africana de Eli Nrwoku. Possivelmente o maior sucesso alcançado por Nkrumah, nesta área, foi sua significativa influência na fundação da Organização da Unidade Africana.
Economia
Nkrumah tentou industrializar rapidamente a economia de Gana. Raciocinava que, se Gana havia escapado do sistema colonial de comércio ao reduzir a dependência do capital, da tecnologia e dos bens materiais estrangeiros, ela poderia tornar-se um país verdadeiramente independente. Infelizmente a industrialização prejudicou o setor cacaueiro do país. Muitos dos projetos econômicos que ele iniciou foram mal sucedidos ou apresentaram benefícios tardios. A Represa de Akosombo custou caro, mas hoje gera a maior parte do fornecimento hidroelétrico de Gana. As medidas de Nkrumah não libertaram Gana da dependência da importação de bens do Ocidente. Quando ele foi deposto, em 1966, Gana, que havia ocupado a posição de um dos mais ricos países da África, tornou-se um dos mais pobres.
Declínio e queda
O ano de 1954 foi fundamental, durante a era de Nkrumah. Naquele ano de eleições em torno da independência, ele obteve alguns votos. No entanto aquele mesmo ano presenciou a alta mundial do preço do cacau, que subiu de 150 para 450 libras por tonelada.
Em vez de permitir que os plantadores de cacau gozassem daquela sorte inesperada, Nkrumah apropriou-se do aumento da renda, por meio de impostos federais, investindo em seguida o capital em vários projetos nacionais de desenvolvimento. Sua política alienou uma das maiores parcelas de eleitores que o ajudaram a assumir o poder.Em 1958 Kkrumah introduziu uma legislação que restringia várias liberdades em Gana.
Após a greve dos trabalhadores nas minas, em 1955, Nkrumah introduziu o Ato dos Sindicatos, que tornava as greves ilegais. Quando desconfiou que seus opositores no parlamento conspiravam contra ele, redigiu o Ato de Detenção Preventiva, que possibilitava a sua administração prender e deter qualquer pessoa acusada de traição, sem o devido processo legal no sistema judiciário.
Quando os ferroviários entraram em greve em 1961, Nkrumah ordenou que os líderes da greve e os políticos da oposição fossem presos, em conformidade com o Ato dos Sindicatos. Embora tivesse organizado greves havia apenas alguns anos, agora ele se opunha à democracia industrial, pois ela conflitava com o desenvolvimento industrial rápido.
Comunicou aos sindicatos que seus dias como advogados da segurança e da justa compensação para os mineiros haviam chegado ao fim e que sua nova tarefa era atuar na operacionalidade e mobilização de recursos humanos. Os salários deveriam ceder lugar ao dever patriótico, pois o bem da nação estava acima do bem de cada um dos trabalhadores, conforme colocou a administração de Nkrumah.
O Ato de Detenção resultou em ampla discordância e rejeição ao governo de Nkrumah. Alguns de seus correligionários usaram a lei para prender pessoas inocentes, com a finalidade de ocupar seus cargos públicos e de apropriar-se de seus negócios. Conselheiros próximos de Nkrumah começaram a relutar em questionar sua política, temendo ser vistos como opositores. Quando as clínicas ficavam sem remédios, ninguém o notificava.
Algumas pessoas acreditavam que ele já não se importava mais. A polícia passou a ressentir-se de seu papel na sociedade. Nkrumah desapareceu da vista do público, devido a um justificável temor de assassinato. Em 1946 ele propôs uma emenda constitucional, tornando o Partido da Convenção do Povo o único partido legal e ele, presidente vitalício da nação e do partido.
A emenda passou com 99 por cento de votos, total altamente implausível, que somente pôde ser obtido através da fraude. De qualquer modo, Gana, efetivamente, era um Estado de partido único desde que se tornou uma república, mas a emenda transformou a presidência de Nkrumah em uma ditadura legalizada.
Nkrumah propugnou o desenvolvimento industrial a qualquer custo, com o auxílio de seu amigo de longa data e Ministro das Finanças, Komla Agbeli Gbedema, o que levou à construção de uma hidroelétrica, a Represa de Akosombo, no rio Volta, leste de Gana.
Companhias americanas concordaram em construir a represa para Nkrumah, mas com restrições quanto àquilo que poderia ser produzido no uso da energia gerada.
Nkrumah recorreu a empréstimos para construir a represa e Gana contraiu dívidas. A fim de financiá-la, ele aumentou os impostos dos plantadores de cacau, no sul, o que acentuou as diferenças regionais e o ciúme. A represa foi construída e inaugurada por Nkrumah no dia 22 de janeiro de 1966, com divulgação mundial.
Nkrumah parecia estar no auge do poder, mas o fim de seu regime se aproximava rapidamente. Nkrumah desejava que Gana tivesse forças armadas modernas e, assim, adquiriu aeronaves, navios e introduziu o serviço militar obrigatório. Ofereceu também apoio militar àqueles que lutavam contra o governo de Smith, no Zimbábue, então denominado Rodésia.
Em fevereiro de 1966, enquanto Nkrumah fazia uma visita de estado ao Vietnã, seu governo foi derrubado por um golpe militar, que alguns dizem ter sido apoiado pela CIA.
Hoje, Kkrumah é um dos líderes mais respeitados da história africana. Em 2000 ele foi votado homem do milênio por ouvintes do Serviço Mundial da BBC.
Exílio, Mortes e Homenagens
Nkrumah jamais voltou a Gana, mas continuou a levar adiante sua visão da unidade africana. Viveu em exílio em Conakry, Guiné, como hóspede do presidente Ahmed Sékou Touré, que o tornou co-presidente honorário do país.
Leu, escreveu, correspondeu-se, praticou jardinagem e recebeu hóspedes. Apesar de seu afastamento da vida pública, ainda temia as operações dos serviços de inteligência ocidentais.
Quando seu cozinheiro morreu, receou que alguém o envenenaria e começou a armazenar comida em seu próprio quarto. Desconfiava de que agentes estrangeiros violavam sua correspondência e vivia em constante medo de rapto e assassinato. Com a saúde declinante, voou para Bucareste, Romênia, para tratamento médico, em agosto de 1971.
Ali morreu de câncer de pele em abril de 1972, aos 62 anos.Nkrumah foi enterrado na aldeia em que nasceu, Nkroful, Gana. O túmulo ainda existe em Nkroful, porém seus restos foram trasladados para um grande monumento em sua memória e um parque em Accra.
Escritos de Kwame Nkrumah
• “Negro History: European Government in Africa,” The Lincolnian, 12 de abril de 1938, p. 2 (Lincoln University, Pennsylvania) – ver Special Collections and Archives, Lincoln University
• Ghana: The Autobiography of Kwame Nkrumah (1957) ISBN 0-901787-60-4
• Africa Must Unite (1963) ISBN 0-901787-13-2
• African Personality (1963)
• Neo-Colonialism: the Last Stage of Imperialism (1965) ISBN 0-901787-23-X
• Axioms of Kwame Nkrumah (1967) ISBN 0-901787-54-X
• African Socialism Revisited (1967)
• Voice From Conakry (1967) ISBN 90-17-87027-3
• Handbook for Revolutionary Warfare (1968) – primeira introdução de Pan-African pellet compass
• Consciencism: Philosophy and Ideology for De-Colonisation (1970) ISBN 0-901787-11-6
• Class Struggle in Africa (1970) ISBN 0-901787-12-4
• The Struggle Continues (1973) ISBN 0-901787-41-8
• I Speak of Freedom (1973) ISBN 0-901787-14-0
• Revolutionary Path (1973) ISBN 0-901787-22-1
Fonte: Wikipédia
Tradução: Carlos Eugênio Marcondes de Moura