100 dias sem Marielle Franco e ainda não há respostas

Enviado por / FonteDa Claudia 

Nesta sexta-feira (22), os assassinatos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes completam 100 dias. Os dois e a assessora, que não quis ser identificada, voltavam do evento “Jovens Negras Movendo as Estruturas”, que aconteceu na região central do Rio de Janeiro, quando o carro em que estavam foi alvejado. Ao menos 13 tiros foram disparados contra o veículo naquele 14 de março.

Até agora, nenhum esclarecimento foi prestado à sociedade. As perguntas permanecem sem resposta: quem matou Marielle? Quem mandou matar Marielle? Por que mandaram matar Marielle? 

A investigação

O caso vem sendo apurado pela Delegacia de Homicídios da Polícia Civil do Rio de Janeiro e segue sob sigilo. As principais linhas de investigação apontam para a atuação de milícias e motivações políticas. A participação de autoridades também não foi descartada.

Em maio, o jornal O Globo teve acesso ao depoimento de uma testemunha que procurou a polícia sob a afirmação de que estaria sendo ameaçada por saber quem são os assassinos. Ela apontou o vereador Marcello Siciliano (PHS) e o ex-PM e miliciano Orlando Oliveira de Araújo, atualmente preso enquanto responde por homicídio e porte ilegal de arma, como mandantes do crime.

Ainda de acordo com o relato, a motivação seria o avanço das políticas de Marielle em áreas de interesse da milícia. Em defesa dos direitos humanos, ela denunciava abusos da Polícia Militar contra moradores das comunidades e atendia vítimas da violência urbana no RJ.

Entretanto, o material é considerado frágil. Recentemente, a polícia ligou tal testemunha à família Brazão, que disputaria influência política com Siciliano. Domingos Brazão é um ex-vereador, ex-deputado estadual pelo MDB e conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Estado. Seu irmão, Chiquinho Brazão, é vereador do Rio pelo partido Avante. Eles também negam qualquer participação nos crimes.

Na última terça-feira (19), Raul Jungmann, ministro extraordinário da Segurança Pública, disse em entrevista para a Rádio Eldorado que a demora na conclusão do inquérito se deve à complexidade do caso. Segundo ele, as equipes sabem quem são os envolvidos, mas estão trabalhando no levantamento de provas concretas para apresentar a denúncia.

“O crime foi planejado, feito por profissionais. Também há a dificuldade de se encontrar a razão que teria levado à morte da Marielle, porque ela não apresentaria ameaça pessoal, o que torna a complexidade adicional. É preciso fazer a construção dessas possíveis ameaças, que sempre tendem a acontecer nesse tipo de caso. Também há a percepção de que o círculo dos envolvidos é maior do que se pensava anteriormente, apontando para a participação de autoridades do Rio de Janeiro como mandantes. Então, se faz necessária a construção de provas robustas para poder indicar e apresentar a denúncia”, afirmou Jungmann.

A memória de Marielle Franco

Desde o assassinato da vereadora, atos por todo o Brasil lembraram suas ações em prol daqueles que vivem às margens sociais. Marielle era uma mulher negra, nascida e criada na Favela da Maré, casada com uma mulher e ativista. Participava ativamente da construção de uma sociedade menos desigual e com mais oportunidades.

Prova disso são os cinco projetos aprovados, em primeira votação, durante uma assembleia extraordinária na Câmara.

No dia 2 de maio, amigos, familiares e militantes lotaram a casa para ver a sequência de trabalhos que começaram muito antes. Entre eles, um programa de acolhimento às crianças no período da noite, enquanto seus responsáveis trabalham ou estudam; uma campanha permanente contra a violência sexual em espaços e transportes públicos e a criação do Dossiê Mulher Carioca, para auxiliar a formulação de políticas públicas voltadas para mulheres por meio da compilação de dados da Saúde, Assistência Social e Direitos Humanos do Rio de Janeiro.

Não há sinais de desistência naqueles que compartilham dos ideais de Marielle. “Aqui fica a saudade e a vontade de levar seu legado adiante. Não vamos sossegar enquanto o caso não for concluído mas não aceitaremos condenados sem provas. Queremos justiça e não vingança. Seguiremos lutando e resistindo”, escreveu hoje o deputado estadual Marcelo Freixo, amigo e padrinho político da vereadora, em sua conta no Facebook.

+ sobre o tema

Em Minas Gerais, tornozeleira eletrônica evita que homem volte a atacar mulher

Cintia Sasse A Lei Maria da Penha é admirável não...

Escritora escreve carta a Machado de Assis sobre candidatura de Conceição Evaristo à ABL

Pedimos à Eliana Alves Cruz um texto sobre a candidatura...

Denegrindo e Feminizando o cinema estadunidense

O Filme baseado em poemas da feminista Ntozake Shange,...

Militantes apontam falhas no combate à violência contra mulher

Os movimentos social e feminista, que participaram da audiência...

para lembrar

Aos 50, Naomi Campbell é velha demais para ser mãe, mas não para ser pai

Naomi Campbell, 50 anos, se tornou mãe nesta semana....

Cunha é denunciado à OEA por barrar aborto legal

A Associação Artemis de defesa dos direitos das mulheres...

O feminismo chegou ao mundo da moda?

"Todos devíamos ser feministas”. Se há uns dias me...

Democracia feminista

à generosidade de cada feminista que se reuniu no dia...
spot_imgspot_img

Universidade é condenada por não alterar nome de aluna trans

A utilização do nome antigo de uma mulher trans fere diretamente seus direitos de personalidade, já que nega a maneira como ela se identifica,...

O vídeo premiado na Mostra Audiovisual Entre(vivências) Negras, que conta a história da sambista Vó Maria, é destaque do mês no Museu da Pessoa

Vó Maria, cantora e compositora, conta em vídeo um pouco sobre o início de sua vida no samba, onde foi muito feliz. A Mostra conta...

Nath Finanças entra para lista dos 100 afrodescendentes mais influentes do mundo

A empresária e influencer Nathalia Rodrigues de Oliveira, a Nath Finanças, foi eleita uma das 100 pessoas afrodescendentes mais influentes do mundo pela organização...
-+=