Solo expõe violência sofrida pela mulher

Entrelinhas, espetáculo solo protagonizado pela coreografa, diretora e performer Jaqueline Elesbão, será encenado nesta sexta-feira, 13, e sábado, 14, às 21h30, no Teatro do Sesc. Recomendado para maiores de 16 anos, a produção do Coletivo Ponto Art, de Salvador, traz como temática central a violência psicológica, emocional e sexual sofrida pela mulher, especialmente a negra, criando um diálogo entre o passado e o presente.

Do Diário da Região

Jaqueline Elesbão traz elementos cênicos com referências históricas, como a máscara de flandres Chun/Divulgação

O espetáculo, que está com os ingressos esgotados, expõe e denuncia os processos de opressão, exclusão e silenciamento sobre as vozes femininas e seus discursos, passados de gerações em gerações por uma sociedade patriarcal, racista, machista e misógina. No palco, Jaqueline utiliza máscara de flandres, usada pela lendária escrava Anastácia nas sessões de tortura, e sutiã, símbolo da luta pela liberdade feminina na década de 1960.

O solo perpassa as violências psicológica, emocional e sexual contra a mulher para retratar como a voz feminina tem sido silenciada diante da força física, da mentalidade escravocrata e do comportamento machista dominador. Jaqueline Elesbão conta que o espetáculo estreou em 2012. No entanto, na ocasião, a atriz recebeu críticas pesadas. Quando passou a integrar o Coletivo Ponto Art, ela se sentiu fortalecida e encorajada para voltar à cena com a produção.

O assunto do espetáculo, no retorno, estava sendo tratado com mais frequência em seu circuito, e Jaqueline, neste cenário, passou a contribuir com o discurso que já estava sendo debatido ao seu redor. Durante a pesquisa e encenação, a atriz conheceu várias histórias e percebeu que a violência não é apenas a agressão física. “Durante muito tempo eu achei que fosse até por causa da minha vivência na infância. Embora meu pai não utilizasse a violência física, ela usava a psicológica.”

Jaqueline fala ainda do medo da violência sexual. “Eu não fui estuprada até o momento. Mas não sei como vai ser amanhã. Basta eu ou qualquer mulher se deparar com um covarde que utiliza da força em um ambiente propicio, isso vai ser feito, como vem sendo feito.” Para a atriz, é preciso falar fortalecer o coletivo feminino. “As violências estão aí e fazem parte da história, que é legitimada por todo mundo nesta sociedade patriarca, que tem manutenção machista e perversa.”

A atriz conta que conheceu a máscara de flandres e a escrava aos 19 anos, quando se mudou para São Paulo. A partir daí, ela quis construir um solo falando sobre a necessidade que as mulheres têm de falar e sobre as desvantagens físicas da mulher. “Para mim, a oratória sempre foi uma vantagem da mulher neste universo que tem muitas atitudes machistas, agressivas de homens perversos. A máscara simboliza este silencio histórico. A Anastácia é uma escrava lendária, que morreu com feridas de chagas na boca por causa da presença permanente da máscara como castigo. Eu me identifiquei com esta história.”

Já os sutiãs, segundo a atriz, são simbolicamente as amarradas que as mulheres se deparam durante a vida, desde a escravidão até os dias atuais. Além da peça íntima, Jaqueline usa outros símbolos importantes e significativos para o sexo feminino, como o salto alto. Participar do festival com este espetáculo que fala sobre as violências que silenciam vozes femininas, segundo a artista, é bacana porque é um assunto que interessa, levanta discussão e promove troca.

Serviço

  • Entrelinhas, solo de Jaqueline Elesbão. Nesta sexta-feira, 13, e sábado, 14, às 21h30, no Teatro do Sesc. Os ingressos estão esgotados. Informações: fitriopreto.com.br.

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