‘Um Defeito de Cor’, épico sobre passado escravagista, vira supersérie na Globo em 2021

Épico narrado por uma senhora negra que relembra sua trajetória desde a chegada ao Brasil, ainda criança, em um navio negreiro, o livro “Um Defeito de Cor” será produzido como supersérie (ou novela das onze) na Globo em 2021.

por Cristina Padiglione no Telepadi

Nei Lopes, músico especialista na cultura africana e sua diáspora, é o supervisor da supersérie, adaptada por Maria Camargo/Divulgação

A adaptação está nas mãos de Maria Camargo, que já levou à TV os livros “Dois Irmãos”, de Milton Hatoum, e ” A Clínica: a Farsa e os Crimes de Roger Abdelmassih”, de Vicente Vilardaga, resultado na minissérie “Assédio”.

“Estamos imaginando uma coisa bem complexa para 2021: estamos  trabalhando num grande épico, uma coisa bem complexa, que o Ricardo (Waddington, responsável pelo funcionamento dos Estúdios Globo) tá quebrando a cabeça pra resolver “, disse o diretor-geral da Globo Calos Henrique Schroder durante entrevista na inauguração do MG4, os novos estúdios da Globo no Rio.

Este blog apurou em seguida que Schroder falava de “Um Defeito de Cor”.

O diretor explicou que a emissora testou a ausência de supersérie este ano, o que não significa que vai abandonar o formato. “Foi uma experiência, mas, para o ano que vem já está em andamento ‘O Selvagem da Ópera’”, confirmou ele, sobre a obra de Maria Adelaide Amaral a respeito de Carlos Gomes.

“Um Defeito de Cor”, premiado livro de Ana Maria Gonçalves, é narrado por Kehinde, que até os oito anos de idade vivia em Savalu, na República do Benim, no continente africano. Após a morte da mãe e do irmão, ela, a irmã gêmea, Taiwo, e a avó viajam sem rumo, indo parar em Uidá, onde são capturadas e jogadas em um navio negreiro com destino ao Brasil. Ao fim da viagem, Kehinde é a única sobrevivente da família.

Após longa jornada, já velhinha, cega e à beira da morte, ela viaja do continente africano para o Brasil em busca do filho perdido há décadas. Ao longo da travessia, vai contando sua vida, marcada por mortes, estupros, violência e escravidão, acumulando derrotas e vitórias, em uma trajetória que se confunde com épicos da literatura universal.

A equipe de adaptação conta com Paulo Lins, autor de “Cidade de Deus”, Bianca Ramoneda, que esteve na equipe de Maria Camargo em “Assédio”, Pedro Barros, Mariana Jaspe e Luciana Pessanha. Eduarda Azevedo faz a pesquisa. A supervisão é de Nei Lopes, compositor, cantor, escritor e estudioso das culturas africanas, no continente de origem e na diáspora africana.

Representatividade negra na tela

O elenco começa a ser pensado desde já, com muitas possibilidades, inclusive de lançamento de novos atores, ampliando assim a diversidade de cores dentro da emissora. Essa é uma questão que tem merecido cobranças não só de fora da casa, mas também internas, por parte de autores, diretores e atores interessados em ampliar a representatividade dos negros na tela.

Em “Segundo Sol”, novela de João Emanuel Carneiro que tinha apenas um negro (Fabrício Boliveira) no elenco central de um enredo que se passava na Bahia, estado com maior número de negros do país,  a emissora foi muito cobrada pela distância étnica entre a vida real e a TV. É uma lacuna que sempre existiu, mas que só de uns anos para cá começou a ser sentida pela sociedade. Na ocasião, o próprio elenco da novela saiu em defesa da ampliação identitária negra na tela.

Fato é que desde então a Globo tem se empenhado bem mais na busca por talentos de outras cores, com bons resultados na ficção, inclusive no humor, e no jornalismo. A novela das sete, “Bom Sucesso”, traz um casal formado por uma loira e um negro na linha de frente, com ecos entre seus descendentes, e estende a diversidade à equipe por trás das câmeras, no trabalho com o diretor Luiz Henrique Rios.

O Zorra trouxe Paulo Vieira, revelação de Fábio Porchat na Record, com bom aproveitamento. Érico Braz, único representante negro no humorístico por um bom tempo, fará par com Fernanda Gentil no novo programa vespertino da Globo.

O avanço da emissora nesse terreno não é mera vontade de atender à chiadeira de críticos, mas, muito melhor: é reflexo da demanda de um público que tem se percebido alijado do glamour no cinema e na TV há séculos e que tem lutado por postos de trabalho de relevância intelectual. Ainda que não seja mérito encontrar negros para uma produção sobre cultura escravocrata, é interessante que este tema ganhe protagonismo e que sirva de oportunidade para ampliar a diversidade do banco de elenco da Globo  .

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