‘Gosto de ter meu cabelo assim’, diz jovem agredido por PM que também fez insultos racistas em Salvador

Caso aconteceu durante abordagem no bairro de Paripe. Durante agressões, que foram flagradas em vídeo, PM diz: ‘Você para mim é ladrão, olha esse cabelo’.

Do G1

Jovem foi agredido por policial no bairro de Paripe, em Salvador — Foto: Victor Silveira / TV Bahia

“Eu gosto de ter o meu cabelo assim. É bonito, e é a primeira vez que acontece isso [agressão de policial]”, disse o adolescente que foi agredido por um policial militar durante abordagem no bairro de Paripe, no subúrbio ferroviário de Salvador. A ação aconteceu no último domingo (2) e foi filmada por moradores.

Em entrevista ao G1, a vítima contou que o caso aconteceu quando ele voltava da praia e ia levar a amiga da namorada dele no ponto de ônibus.

“A gente estava no ponto de ônibus, porque a gente tinha vindo da praia. Aí a gente parou para conversar. Ficou tarde, e aí fui levar a amiga de minha namorada no ponto. Chegou lá, demorou muito de passar ônibus, e meu colega me chamou para dormir na casa dele. Aí foi todo mundo para a casa dele, e chegando lá, um menino, colega meu, me parou com um carro e ficou na pista”, disse o jovem.

“Veio a viatura, e aí [os policiais] perguntaram o que estava acontecendo. A gente falou que não aconteceu nada e que a gente só estava conversando, aí ele foi e fez a abordagem”, contou a vítima.

Dois dias após a agressão, o jovem conta que ainda sente dor na barriga.

“Ele deu um chute na perna do meu colega, para ele abrir a perna. Eu falei que eu era trabalhador, aí ele foi e fez isso [agrediu a vítima]”.

O jovem lembra que o policial disse que ele não era trabalhador, era um “vagabundo” e “ladrão”, por causa do cabelo black power.

“[Disse] Que eu era vagabundo, ladrão, com aquele cabelo ali, que eu não era trabalhador não”, lembrou o adolescente.

A mãe do adolescente disse que não conseguiu ver as imagens da agressão. “Ele me contou no outro dia, aí a namorada dele foi e me mostrou o vídeo, e eu nem consegui ver o vídeo todo. Quando eu vi a primeira porrada nele, eu não quis mais assistir. Fiquei transtornada, fiquei sem falar, muito triste, sentida com aquilo que vi”, disse.

Ela espera que o caso seja apurado pela polícia e que o PM seja responsabilizado.

“Eu espero a justiça, porque nossos jovens, adolescentes, não podem passar por uma agressão como essa, apanhar assim no meio da rua”.

A Polícia Militar informou que o policial que aparece nas imagens foi identificado e ouvido nesta terça-feira (4). Ele foi afastado das ruas e cumprirá expediente administrativo.

Caso

Nas filmagens, também é possível ouvir o policial chamar o jovem de “viado”. Um dos militares agrediu um rapaz com murros e chute, e fez insultos racistas ao se referir ao cabelo dele.

Por meio de nota, a Polícia Militar informou que o vídeo será encaminhado para Corregedoria Geral da PM, para ser analisado. A PM disse ainda que “não preconiza com a violência e rechaça todo e qualquer tipo de conduta violenta”.

“Você para mim é ladrão, você é vagabundo. Olha essa desgraça desse cabelo aqui. Tire aí vá, essa desgraça desse cabelo aqui. Você é o quê? Você é trabalhador, viado? É?”, grita o militar, enquanto puxa um boné que a vítima usava. O mesmo policial chega a dar murros na costela do rapaz, além de um tapa no rosto e um chute na barriga.

Depois de agredir o jovem, o policial entrou na viatura e deixou o local. Toda a ação foi filmada de dentro do portão de uma casa. Além da vítima agredida, é possível ver que outros dois jovens passaram pela abordagem policial.

Em publicação feita no perfil oficial no Twitter, na manhã de terça-feira (4), o governador Rui Costa comentou o caso. “Como governador do Estado da Bahia não admito comportamento de violência policial como o ocorrido no vídeo que circula nas redes sociais. É inaceitável, inadmissível e não reflete o comportamento e os ideais da instituição”, disse.

O governador afirmou ainda que acompanha a apuração do caso desde a divulgação feita pela imprensa. “Determinei apuração rigorosa e imediata da Corregedoria da Polícia Militar com as devidas punições legais aos responsáveis e divulgação para a sociedade das medidas adotadas. Para que esses casos isolados não possam continuar comprometendo a imagem da instituição”, escreveu na rede social.

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