Maternidade e culpa

Quando o povo negro foi assimilado na cultura ocidental a concepção de maternidade africana foi destruída e os cacos que sobraram viraram conceitos de acesso da classe média alta.

Não pode ser normal que uma mãe ao ser perguntada pelo filho, tenha que imediatamente responder com quem e onde ele está. O correto não deveria ser apenas se está bem ou não?

Mas por que as pessoas perguntam na maioria das vezes ‘cadê seu filho’ e não apenas ‘como está seu filho?’ Percebam que a semântica condiciona a resposta

A resposta não pode pertencer as mulheres negras, porque em nosso legado ancestral Osun fez guarda compartilhada com Oxóssi e nunca deixou de ser mãe por isso. Oyá teve 9 filhos e depois decidiu ir pra mata, não deixou de ser mãe por isso. Nanã deixou Obaluayê na praia porque era o costume da época, as crianças doentes serem entregues ao mar, continuou sendo a mãe que acolhe.

O que a cultura aqui conturbada com seus valores requer, é que mulheres que são mães e até as que não são e nem querem, nunca desliguem o cordão umbilical, e que por ser a genitora e responsável não tenha o direito de viver sua própria vida a partir de suas percepções.

É automático a satisfação que se dá sobre um filho que você pariu para ser o que ele quiser!

Se analisarmos o contexto histórico, é fácil notar que as mulheres abastadas e não negras, sempre tiveram o privilégio de ter uma ama, uma babá, uma cuidadora ou creche.

E as mães emboprecidas com a desgraça da escravidão, precisam levar os miúdos pela barra da saia, escondidos em cestos, dentro de bacias de roupa suja e sempre encontrar uma árvore para aconchegar suas crianças.

A vida segue e esse grupo precisa que se tenha uma avó ou um pai responsável para que ela tenha o direito de andar um minuto sem a cria.

As formas de afeto foram capitaneadas e destituídas de amor.

As experiências de mulheres que são mães, não estão dissociadas das tragédias capitalistas e do colonialismo.

Tem que andar com o filho porque é mulher, porque é pobre, porque é negra…

As nossas tradições estão atravessadas de eventos sociais e isso precisa ser olhado com assimetria

Os nossos comportamentos demonstram o quanto ainda existem correntes em nossos pensamentos

As mães necessitam para viver, não serem apenas para os filhos.


** Este artigo é de autoria de colaboradores ou articulistas do PORTAL GELEDÉS e não representa ideias ou opiniões do veículo. Portal Geledés oferece espaço para vozes diversas da esfera pública, garantindo assim a pluralidade do debate na sociedade.

+ sobre o tema

Wanessa Camargo quebra o silêncio e fala sobre Rafinha Bastos

Diante de um silêncio engasgado e em risco de...

Conheça os ‘ g0ys ’, homens que se relacionam entre si, mas não se dizem gays

Eles são homens que se relacionam entre si, mas...

Flip terá maior número de autoras mulheres do que homens pela primeira vez em sua história

Número de autores negros chega a 30%; curadora Joselia...

Respeite todas as Mulheres

A Universidade Federal de Juiz de Fora, em Minas...

para lembrar

Eu observei a negociação do impeachment dos bastidores e isso é o que eu sinto…

Eu trabalho com os mesmos congressistas que chocaram o...

O momento de garantir a igualdade de gênero é agora

A América Latina e o Caribe não poderão progredir...

CNJ afasta juiz que comparou Lei Maria da Penha a ‘regras diabólicas’

Edílson Rodrigues ficará afastado por pelo menos 2 anos,...
spot_imgspot_img

Mulheres recebem 19,4% a menos que os homens, diz relatório do MTE

Dados do 1º Relatório Nacional de Transparência Salarial e de Critérios Remuneratórios mostram que as trabalhadoras mulheres ganham 19,4% a menos que os trabalhadores homens no...

Órfãos do feminicídio terão atendimento prioritário na emissão do RG

A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) e a Secretaria de Estado da Mulher do Distrito Federal (SMDF) assinaram uma portaria conjunta que estabelece...

Universidade é condenada por não alterar nome de aluna trans

A utilização do nome antigo de uma mulher trans fere diretamente seus direitos de personalidade, já que nega a maneira como ela se identifica,...
-+=