Conheça 5 mulheres que combatem o racismo e a misoginia na tecnologia

Na lista estão Ítala Herta, da Diver.Ssa, Lisiane Lemos, especialista em transformação digital, Fernanda Ribeiro, da Conta Black, Carina Sucupira, da XP Inc, e Amanda Graciano, do Cubo.

Não é possível discutir inovação sem a perspectiva de diversidade. Para Ítala Herta, da Diver.Ssa, Lisiane Lemos, do Google, Fernanda Ribeiro, da Conta Black, Carina Sucupira, da XP e Amanda Graciano, do Cubo Itaú, é unânime a constatação de que inovação é sinônimo de acesso, novas perspectivas e repertórios e, sobretudo, dados que possam mensurar, o quanto um projeto ou ideia está contemplando vários pontos de vista. Essas mulheres levam consigo a pauta do combate ao racismo e a misoginia e defendem que só é possível criar algo a partir da diversidade.

Um estudo da consultoria Atlassian apontou que 95% dos colaboradores de empresas de tecnologia nos Estados Unidos ainda são brancos e 75% homens. No Brasil, de acordo com o IBGE, as mulheres são apenas 20% dos quase 600 mil profissionais atuantes no mercado de tecnologia. Outro estudo, lançado em agosto deste ano, o Potências Negras Tec, mostra que 59% das pessoas negras que atuam profissionalmente não estão na tecnologia. Entre aqueles que estudaram ou estudam tecnologia, apenas 41% trabalham na mesma área.

“Tudo que eu construo hoje, ou discuto, com o olhar da inovação, surge a partir do lugar que me foi negado. A lente da inovação é resolver um problema e só conseguimos isso com a ajuda de outras pessoas. Quanto mais diferentes forem essas pessoas, mais rápido resolveremos várias questões. Muito do meu aprendizado em comunidades periféricas, rurais e em territórios que vivem à margem do País passa por olhar inovação sempre com o ponto de vista de ração, gênero e sexualidade. Premissas básicas para que inovação faça sentido prático”, afirma Ítala Herta, empreendedora social e fundadora da consultoria Diver.Ssa.

A executiva embarca nos próximos dias para a Colômbia, onde representará o Brasil no evento She Is Global Forum. “Nós evoluímos muito nos últimos quinze anos em relação a esse assunto, mas existem ecossistemas que não querem se provocar e que não enxergam o impacto financeiro que isso lhes causa, bem como a necessidade da construção de um lugar mais coerente para se inovar. Porém, eu entendo que todos os movimentos de várias lideranças neste período ajudaram para que várias pessoas saíssem da invisibilidade. Existe uma oportunidade muito grande de não desperdiçar talentos, atingir novos consumidores e gerar muito mais receitas”, explica Ítala.

Para Carina Sucupira, data engineering e líder do coletivo BLACKs, da XP Inc, pensar dados e inovação é ter diversas pessoas gerando diferentes perspectivas e contribuições para atender grupos plurais e não apenas um determinado nicho de pessoas. “O ritmo de crescimento das maiores empresas do mundo hoje se deu de forma exponencial. Se olharmos sob a perspectiva de diversidade, não estamos crescendo nessa velocidade, pelo contrário, temos muito a evoluir, mesmo existindo diversas pesquisas que mostram como um ambiente diverso tem o potencial maior de alavancar a performance do negócio, ainda temos muitas empresas que não veem a diversidade como o instrumento de transformação”, alerta Carina. Junto com o grupo de afinidades de pessoas negras o BLACKs, dentro da XP Inc, Carina se propõe a atrair mais pessoas negras para trabalhar no mercado financeiro.

“O ecossistema de inovação, bem como o mundo corporativo, tem uma presença de pessoas negras muito baixa, o que não corresponde à realidade do nosso país – no qual mais da metade da população se autodeclara preta ou parda negra. Segundo dados divulgados em 2020 pela Iniciativa Empresarial pela Igualdade racial, pessoas negras ocupam 6,3% dos cargos gerenciais e apenas 4,7% cargos executivos. Quando o recorte é de mulheres negras, há apenas 1,6% em cargos gerenciais. Logo, ainda que haja o aumento das soluções e perspectivas de avanços, é necessário continuar evoluindo com ações ambiciosas para que o movimento de capital e inovação inclua também os grupos que historicamente foram excluídos”, diz Amanda Graciano, head de startups do Cubo Itaú.

Fernanda Ribeiro, COO da fintech Conta Black, defende que não é possível criar algo novo mantendo padrões. “Estamos repetindo modelos, o que leva a visão sobre o tema para as mesmas perspectivas.  Hoje, a tecnologia tem uma visão eurocentrada, que ignora coisas incríveis que acontecem em outros lugares do mundo. O Quênia, por exemplo, tem o M-PESA, que é a ferramenta de pagamento via celular mais desenvolvida dentre várias regiões e que funciona em celulares obsoletos, inclusive. Isso é um exemplo simples de como a tecnologia é efetiva, quando vista de diferentes aspectos, sobretudo o de impacto social e inclusão”, afirma.

Por sua vez, Lisiane Lemos, especialista em transformação digital, concorda que não há como construir um ecossistema e a base de tecnologias do presente e do futuro sem essa proporcionalidade, inclusive, na gestão e modelação de dados. “Dados são fundamentais nessa pauta porque eles permitem mensurar os avanços e para onde caminhamos. O maior desafio, neste contexto, é a atualização do contexto tecnológico. Tudo que foi construído, até agora, seguiu um padrão homogêneo de pensamento e é importante construir uma nova mentalidade corporativa orientada à tecnologia que não seja excludente e faça sentido para um número cada vez maior de pessoas”, afirma.

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