Apple não quer mais mulheres nem negros nas chefias

Mulheres, negros, minorias em geral ficam bem no papel, mas na prática mais diversidade seria “excessivamente pesada e não necessária” na Apple, diz a administração.

Por Carla Castro Do Economico

Apesar de em Agosto passado, no relatório de diversidade da Apple, o CEO, Tim Cook, ter afirmado que ainda havia muito a fazer pela diversidade na empresa, o conselho de administração da empresa vem agora recomendar aos accionistas,  antes do seu encontro de Fevereiro, que votem contra o aumento da diversidade no conselho de administração e gestão de topo.

A informação consta da documentação enviada aos accionistas da Apple, e que pode ser consultada no site da empresa, com uma recomendação muito clara do conselho de administração de “votar contra” a proposta que prevê o aumento da diversidade entre os quadros de topo.

A Apple não quis comentar a notícia, mas os factos estão aí: as caras da administração da empresa mostram que a maioria dos seus membros são homens de cor branca. Basta procurá-las na internet para confirmar.

Se olharmos para os oito membros do conselho de administração vemos que apenas três não são homens de cor branca: o ex-presidente da Boeing James Bell, que é negro, e duas mulheres: Susan Wagner, co-fundadora da Black Rock,  e Andrea Jung, CEO da Grameen America.

Em 2015, 54% dos colaboradores da Apple (incluindo os funcionários das lojas) eram brancos, mas o número aumenta para 63% quando olhamos apenas para os quadros executivos.

Para José Bancaleiro, sócio gerente da executive search Stanton Chase, esta declaração da Apple é um exemplo do que fazem muitas empresas: apregoam a diversidade, porque fica bem nos relatórios e nas comunicações públicas e “está na moda”, mas depois na prática não acontece. Porquê? “Por inércia e rotina. Tem a ver com a cultura e ‘mindset’ masculinos que predominam nas empresas. As mentalidades não mudam de um dia para o outro”, defende José Bancaleiro.

A opinião de Ana Teixeira, directora da MRI Network Portugal, vai no mesmo sentido: este tipo de tomadas de posição mostram que “não há abertura à diversidade, mas apenas preocupação com as aparências. Parece bem em termos de marketing defender a diversidade, mas não está no ADN da empresa, não mostra abertura à diferença”, defende a especialista em recrutamento.

Esta tomada de posição do conselho de administração da Apple surge numa altura em que existem muitos estudos que mostram que as empresas com mais diversidade têm, normalmente, maiores retornos financeiros. “As empresas com mais diversidade são empresas mais flexíveis, adaptáveis e resilientes e acabam por ter níveis de performance superiores”, diz Bancaleiro.

Antonio Avian Maldonado, accionista da Apple, já criticou a gestão da empresa por ser “meticulosamente lenta” a aumentar a representação das minorias nas suas chefias e no conselho de administração. “O conselho de administração é, honestamente, uma das mais importantes partes da organização que precisa de diversidade”, afirma Carey. “É importante estarem representadas no topo da organização todas as pessoas que a companhia serve”, defende.

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