É preciso aprender a extrair lições das tragédias. É o caso do desastre do avião da Germanwings, cuja dona é a Lufthansa, ocorrido no último 24 de março, no voo 4U 9525, de Barcelona, na Espanha, a Düsseldorf, na Alemanha, que se chocou com os Alpes franceses, com 150 pessoas a bordo. Não houve sobreviventes.
Embora o avião, um A320, tivesse 24 anos de uso e o consenso seja que a vida útil de uma aeronave bem cuidada é de 25 anos, a suspeita mais forte é que o copiloto alemão Andreas Lubitz, de 28 anos, tenha deliberadamente provocado o acidente.
Análises das caixas-pretas até agora corroboram a hipótese inicial: o copiloto mexeu várias vezes nas configurações do piloto automático para aumentar a velocidade de descida e não permitiu que o piloto retornasse à cabine… O segundo gravador do voo confirma as suposições.
Na busca de algo que explicasse a atitude suicida, “a Lufthansa disse que sabia que, há seis anos, o copiloto havia sofrido um episódio de depressão grave antes de ele terminar seu treinamento de voo”. Foi divulgado que “promotores alemães informaram que encontraram documentos médicos na casa de Lubitz, sugerindo que ele já tinha uma doença, e provas de um tratamento médico. Eles encontraram atestados rasgados, um deles para o dia da queda do avião”.
Uma comissária de bordo, ex-namorada dele, relembrou que ele havia dito: “Um dia vou fazer algo que vai mudar todo o sistema, todos vão saber meu nome e se lembrar”. Embora não se saiba “exatamente o que aconteceu nos momentos finais do voo 4U 9525”, além de que “o avião foi deliberadamente pilotado para uma colisão nos Alpes franceses”, o mesmo cenário induz inúmeras perguntas, uma delas chocante: o tabloide britânico “Daily Mail” publicou: “Piloto suicida tinha longo histórico de depressão – por que o deixaram voar?”
Está montado o cenário da estigmatização de uma doença pouco diagnosticada, porém tratável, que no senso comum nem é considerada doença, que é a depressão – de causa multifatorial, afeta o estado de humor da pessoa, deixando-a com um predomínio anormal de tristeza.
Conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS), a depressão já é uma das maiores causas de adoecimento e atinge 15% da população mundial em pelo menos um momento de suas vidas; mais de 400 milhões de pessoas sofrem de depressão; e o risco de um homem sofrer da doença é de 11%, enquanto que o da mulher pode chegar a 18,6%.
O episódio coloca em xeque a avaliação psicológica dos pilotos, que, a bem da verdade, é débil, limitando-se a uma “triagem psicológica” elementar. No mais, a avaliação anual ou semestral é tal qual a primeira: “A maior parte dos exames é focada nos aspectos fisiológicos do piloto – altura, peso, sangue e urina. O aspecto mental ocupa uma parte secundária da avaliação”.
A maior segurança ainda é preventiva: “Evitar que um piloto fique sozinho na cabine de comando”, como é a definição da Autoridade Federal de Aviação dos Estados Unidos, ainda não adotada na Europa como obrigatoriedade.
O capitão Mike Vivian, ex-chefe de operações de voo da Autoridade de Aviação Civil britânica, após frisar que a avaliação de um piloto é mais técnica e centrada em suas condições físicas e habilidades para voar, declarou: “Eu não conheço qualquer teste em que você consiga investigar o estado mental de uma pessoa de forma abrangente e objetiva”.
fonte: O Tempo