A filosofia da arte e o valor terapêutico de cuidar do bonsai

PODE AJUDAR A EXERCITAR A PACIÊNCIA NESTE MUNDO DE PRESSA

Por: Fátima Oliveira

Achava os bonsais belos e intrigantes, todavia, não sentia atração para cuidar de um, pois os via como uma escravização da natureza, pois a arte do bonsai é um aprisionamento do potencial de um “vir a ser”, já que, conceitualmente, é uma miniaturização artificial de uma árvore, um arbusto ou uma trepadeira lenhosa, conservando “a beleza e o volume da planta em seu porte original, inclusive com floração e frutos”. Em linhas gerais, um bonsai deve ter entre 30 e 60 cm de altura. Uma nova classificação de bonsais é a que se segue: mini, até 15 cm; pequenos, 15 a 30 cm; médios, 30 a 60 cm; e grandes, maiores que 60 cm.

Nunca aspirei a ser uma bonsaísta, porém, o meu jeito para lidar com plantas levava muita gente a indagar por que eu não cultivava bonsais. Dizer que eles não me seduziam era um posicionamento, digamos, filosófico, difícil de explicar. Desde que me entendo por gente, tenho plantas. Quando criança, fiz um jardim de latas, plantava até em latas de sardinha, no saguão da casa da vovó, onde havia um pé de uva num caramanchão; um pé de magnólia, de cujas flores o cheiro invadia a casa ao anoitecer; e, ao lado da cozinha, havia uma frondosa laranjeira. Dizem que, quando eu nasci, ele já estava ali.

Não vivo sem um jardinzinho todo meu. É um conforto mental regar minhas plantas. Relaxo, renovo… Ora, como não ter uma planta para cuidar? Eu não consigo. Tê-las é uma terapia, um relax… Na época do modismo das samambaias, cheguei a ter muito mais de 50 xaxins num caramanchão diante da minha casa, de fachada mediterrânea, na Quinta de Ouro, em Imperatriz (MA), sombreados pela trepadeira “lágrima-de-cristo”, plantada por mim. Era um oásis estender a rede debaixo delas e ficar lendo, lendo… até dormir. Pena que aproveitei pouco, pois era uma época em que eu trabalhava demais…

Não gosto de comprar plantas “prontas”, o meu prazer é fazer mudas e vê-las crescer, florescer… Não entendo alguém não ter um vasinho em casa! Casa sem plantas é a imagem do deserto. Acho que, de tanto furdunço de plantas em casa, fiquei atônita quando fui pela primeira vez às casas de minhas filhas: nenhum verdinho! Ah, reclamei, pois achei um absurdo! “Ah, mãe, aqui é tão minúsculo e a senhora ainda quer entupir de plantas? Ô mania de roça!”.

Não é propriamente mania de roça. Por outro lado, é mania sertaneja… E elas, as minhas filhas, não são sertanejas… Não sabem o quanto as sertanejas correm léguas atrás de qualquer latinha para plantar, ter um pé de “fulô”… “Mamãe, meus brinquedo/Meu pé de fulô?/Meu Deus, meu Deus/Meu pé de roseira/Coitado, ele seca/E minha boneca/Também lá ficou…” (“Patativa do Assaré”, na voz de Luiz Gonzaga).

Elas não sabem o quanto é doce relembrar as singelas e pueris alegrias de quando eram crianças e eu chegava em casa, quase sempre na hora do “Jornal Nacional”, tomava banho, vestia um short, pegava a mangueira: “Vamos molhar as plantinhas da mamãe?”. Era, literalmente, uma festa… Todo mundo queria segurar a mangueira ou o regador um pouquinho. Como as meninas não introjetaram tal prazer?

Mas, voltando aos bonsais, evoluí. Mudei de opinião. Recentemente, resolvi ter um bonsai para cuidar. Um não, dois: adquiri um asiático, serissa, e um nordestino: bougainvillea ou primavera. Estou convencida de que cuidar de um bonsai envolve ciência e arte e pode ajudar a exercitar a paciência. E, num mundo de pressa como o de hoje, a paciência é uma necessidade para o bem-estar e para a expectativa de vida florescer.

 

 

 

Fonte: O Tempo

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