A gripe suína sem black-tie exige velhos acertos de contas

Fonte: O Tempo –

Há leitos inativos suficientes para suprir a demanda

por: Fátima de Oliveira

O governo Lula navega bem na atenção à gripe suína. Preparou-se para tanto: Plano de Contingência para a Pandemia Influenza (2005). A PBH tem sido exemplar no gerenciamento local da pandemia, mas há muita quilometragem a vencer.

Do lugar de cumpridora de normas sanitárias, coordenando o plantão de 27 de abril, quando a biossegurança da UFMG comunicou, na metade da manhã, que receberíamos os dois primeiros casos suspeitos de gripe suína, não tive dúvidas: acionei o jamais usado “protocolo gripe aviária”. Foi automático, parecia rotina!

O protocolo de atenção à gripe aviária foi definido pelo Ministério da Saúde (MS) em 2005. Investiu uma fortuna numa anunciada epidemia, que não veio. Dinheiro jogado fora? Desde quando prevenção não é investimento responsável? Foi uma cartada de mestre do MS, e Beagá respondeu com prontidão ao investimento preventivo.

Neurônios a mil, consultei o gerente administrativo. Convictos de que “quem não tem cão caça com gato”, acionamos a portaria e o andar reservados à gripe aviária. Relembramos o fluxo aos funcionários e ao Samu. Eis a diferença do investimento numa instituição que tem lastro, memória, convicção e honra de ser um patrimônio do povo mineiro: enquanto o MS na TV anunciava reunião para estabelecer condutas, o Hospital das Clínicas da UFMG agia de modo acertado, o mesmo definido depois pelo MS: acionou o protocolo de gripe aviária para abrigar gripe suína.

O cotidiano de urgências e emergências é mais ágil que os níveis centrais de decisão. Tem o papel de responder com prontidão ao inesperado, segundo os cânones da biossegurança. O MS podia esperar até um dia. Não chegam doentes à sua porta! No olho do furacão, defendemos que só a autoridade sanitária municipal autorizasse uma internação. Não se justificava transformar a epidemia num palco de egos. BH tem gestão plena do SUS, detém autoridade moral e política para responder às epidemias!

Reeditando o conceito de cordão sanitário, pronto-atendimentos e pronto-socorros não são locais de eleição para atender a epidemia no estágio em que ela se encontrava: sem transmissão sustentada. Para que instalar o pânico e aprofundar o caos das urgências e emergências? Cabia à PBH fazer o que fez, com rara competência: equipes volantes de triagem e atenção domiciliar, que receberam reforços e nova feição com os ambulatórios de H1N1 influenza A do Hospital das Clínicas e Eduardo de Menezes, de domingo a domingo. E novas medidas similares virão.

Com absoluta honestidade intelectual: a Secretaria de Saúde de BH e a de Minas pautaram a diferença numa epidemia que rapidamente virou pandemia, cuja evolução é uma incógnita. Os vírus da gripe são capazes de mutações inimagináveis. Surfamos bem na primeira onda. Superar as outras (e elas virão!) exige que urgências e emergências tenham retaguarda para drenar casos, de qualquer doença, que exigem internação. Beagá – desde pimentéis eras – e seu entorno, a Grande BH, com muitas prefeituras abaixo da crítica, vivem um déficit abissal de leitos de apoio hospitalar para a demanda das urgências e emergências. Eis o gargalo que pode nos abater na epidemia!

Em Beagá há leitos inativos suficientes para suprir a demanda; concretamente existem, mas não estão credenciados pelo SUS! É hora de o Conselho Municipal de Saúde agir com brios e autonomia: definir prioridades segundo as circunstâncias, desde já. É o seu papel. Ou vai amarelar na epidemia?

Matéria original: A gripe suína sem black-tie exige velhos acertos de contas

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