A investidora por trás da Afropolitan Station, boutique com 50 afroempreendedores

Elida Monteiro (Foto: Juh Almeida)

Ela conheceu Nelson Mandela, Salvador Dalí e realizou o primeiro show do Olodum em São Paulo. Marie Claire encontrou Dona Elida Monteiro, mulher por trás da Afropolitan Station, boutique de São Paulo que reúne mais de 50 marcas de afroempreendedores – 71% das marcas são capitaneadas por mulheres.

Por FERNANDA MOURA GUIMARÃES, da Marie Claire 

Elida Monteiro (Foto: Juh Almeida)

É impossível não ser cativada por Dona Elida Monteiro. Durante o encontro com Marie Claire, toda a equipe parou para ouvir (e se emocionar) com a história da mulher por trás do Afropolitan Station – espaço colaborativo recém-inaugurado no centro de São Paulo que reúne grifes e serviços exclusivamente de afroempreendedores. Umas das memórias que ela retoma com carinho é a do encontro fortuito com a então prefeita de São Paulo Luiza Erundina, nos anos 90. “Eu acabara de perder o marido e estava com meus dois filhos no Parque Ibirapuera. Ela me abordou, perguntando o que estava fazendo ali, e quis me ajudar”, lembra Dona Elida. O incentivo para empreender ela credita à ex-prefeita. “Erundina sempre me encorajou a abrir meu próprio negócio”, conta ela – que posteriormente montou uma empresa de catering que servia a prefeitura e outros órgãos públicos.

O encontro com a ex-prefeita, no entanto, é apenas um dos pontos de uma longa trajetória de vida que se costura não só com a política brasileira, mas também com a do movimento negro e seus grandes expoentes. Outra memória foi a reunião com Nelson Mandela, em 92, durante a passagem do ex-presidente sul-africano pelo Brasil. “Até hoje tenho contato com Graça Machel [viúva de Mandela]”, conta ela, que também foi secretária do poeta e ativista Abdias do Nascimento no Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (IPEAFRO). E foi com ajuda de Dona Elida que o Olodum veio para São Paulo pela primeira vez, num show histórico no Vão Livre do Masp, também em 92. “João Jorge [diretor do grupo] me dizia: nos leve para São Paulo. Como eu fazia os coquetéis da Secretaria de Cultura, conseguimos alojamento e comida para eles. Pararam a Paulista”, recorda, rindo.

Interior da Afropolitan Station, start-up recém-inaugurada no centro de São Paulo (Foto: Juh Almeida)

Black business

Do aprendizado com o movimento negro e a experiência no varejo que teve na Espanha – ela morou na Catalunha por oito anos, onde trabalhou como comerciante e teve um restaurante que era frequentado por Salvador Dalí – veio a vontade de se lançar em um novo projeto que incentivasse também o empreendedorismo negro. Com ajuda do filho mais velho, o executivo Hasani Damazio, idealizou a Afropolitan Station, start-up que toca com investimento do Afro.State – fundo de investimento anjo criado por Damazio que busca promover projetos de start-uppers afrodescendentes. O cenário é promissor: atualmente, negros formam o maior contingente de empreendedores no Brasil (51%), segundo pesquisa da Global Entrepreneurship Monitor (GEM), realizada pelo Sebrae com dados de 2017. “Aqui temos a história afro-brasileira”, crava ela enquanto apresenta as marcas expostas no espaço. Capulanas de Gana e roupas feitas em batique (técnica de estamparia em cera tipicamente africana) colorem o ambiente – que também conta com etiquetas como a Laboratório Fantasma, grife de streetwear do rapper Emicida. Na Afropolitan, a proeminência feminina não é apenas representada por Dona Elida, que se diz uma “mulher de quarta-feira, forte como Iansã” (ela nasceu no dia dedicado ao orixá): 71% das marcas ali são capitaneadas por mulheres.

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