A questão do aborto, vista sem hipocrisia

Fim do Silêncio é um documentário muito simples e por isso abre o jogo: o aborto ilegal é um dos principais problemas de saúde pública do País. O filme, de Thereza Jessouroun, passa hoje às 23h10 na TV Cultura e seu grande mérito é tratar o tema sem o moralismo habitual. Ouve as pessoas diretamente envolvidas no problema – as mulheres que tiveram, ou optaram por praticá-lo. E, sabiamente, ignora especialistas, políticos e religiosos.

Fonte: CCR.org

Foto: MIDIANINJA/FLICKR

Thereza visita mulheres no Rio, em Pernambuco e São Paulo. Há entrevistadas de várias classes sociais, mas predominam as pobres, o que não é difícil de entender. São elas que, com maior frequência, veem-se obrigadas a apelar para o aborto clandestino como forma de contracepção. Muitas falam de danos à saúde, danos psicológicos, ou situações grotescas, como a que encontrou dois fetos embrulhados num pacote.

 

No total, são 22 mulheres, que olham diretamente para a câmera, sem esconder o rosto, o nome ou a emoção. Contam por que, em que circunstâncias, praticaram a interrupção da gravidez. Muitas vezes foi por decisão própria; outras, por imposição de maridos ou parceiros. Poucas cenas externas são mostradas. No máximo, uma aproximação ao bairro, à moradia das entrevistadas. O resto é esculpido em planos internos, a câmera em geral fixa, concentrada no rosto de quem fala.

 

Entre os depoimentos, aparecem intertítulos informativos. Por exemplo, que o medicamento Cytotec é o abortivo mais usado. Ou que o projeto de descriminalização está empacado na Câmara desde 1991. Ou que os lobbies religiosos são o principal entrave à aprovação da lei.

 

O filme foi financiado pelo Ministério da Saúde e não se propõe como panfleto pró-liberalização do aborto. Se toma um partido, o faz em nome de quem sofre na pele o problema. Abre uma fresta na ignorância e joga luz sobre a hipocrisia com que a questão em geral é tratada.

 

 

Matéria original

+ sobre o tema

Uma cidade onde as mulheres negras possam respirar

Historicamente, as mulheres negras, para além da resistência, representam...

Mulheres negras ganham 55% de remuneração de homens brancos, diz estudo

Pesquisa afirma que número vai a 68% para homens...

Sapiossexualidade : Quando a libido é estimulada pela admiração intelectual

O prefixo da palavra tem origem do latim sapien,...

para lembrar

Mulheres escravas, um drama cultural, por Valéria Diez Scarance Fernandes

(O Estado de S. Paulo, 25/02/2015) A escravização de mulheres...

Número de mulheres congressistas cresce só 6% em 10 anos no mundo

Apenas três países possuem congressos com participação feminina igual...

Fenômeno IZA fala de racismo e preconceito: ‘Me chamavam de churrasquinho’

Quando apareceu no palco Sunset ao lado de CeeLo...

Meninos negros na escola: poder, racismo e masculinidade

Parte deste texto foi originalmente publicada na resenha intitulada...
spot_imgspot_img

Ativistas do mundo participam do Lançamento do Comitê Global da Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver

As mulheres negras do Brasil estão se organizando e fortalecendo alianças internacionais para a realização da Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem...

Iniciativa Negra debate mulheres, política de drogas e o encarceramento em evento presencial

São Paulo, março de 2025 – A Iniciativa Negra convida a sociedade para mais uma edição do Boteco Brasileiro de Política de Drogas. O...

Empreendedorismo feminino avança, mas negras têm obstáculos com receita e tempo de dedicação

O empreendedorismo feminino avança no Brasil, refletindo tendência global de igualdade na abertura de negócios por homens e mulheres, mas questões relacionadas a cor e raça colocam negras em desvantagem. O...
-+=