Afrodescendentes conquistam reconhecimento inédito, e indígenas, novo órgão na COP de biodiversidade

Pautas tiveram apoio de Brasil e Colômbia, que sedia a conferência, e foram aprovadas pela conferência

FONTEFolha de São Paulo, por João Gabriel
Membros de diferentes comunidades indígenas de diferentes países reagem à aprovação de um orgão que os representa na COP 16, em Cali, Colômbia. - Joaquin Sarmiento/AFP

O papel dos afrodescendentes, como grupos quilombolas, para a conservação e uso sustentável da natureza foi oficialmente reconhecido pela primeira vez em um documento da conferência de biodiversidade da ONU (Organização das Nações Unidas).

A COP16, em Cali, na Colômbia, aprovou o documento na noite desta sexta-feira (1) no horário local, já madrugada de sábado (2) pelo fuso-horário brasileiro, junto com a criação de um órgão permanente subsidiário para tratar de assuntos relacionados aos povos indígenas e comunidades locais.

Como mostrou a Folha, durante as discussões sobre a convenção de biodiversidade deste ano, pela primeira vez os afrodescendentes foram citados nos documentos da organização — ainda que, então, no rascunho inicial das conversas preparatórias.

Já ali estava indicada a possibilidade de inclusão deles no documento final, que era um importante pleito do país sede, a Colômbia, com apoio do Brasil.

Tanto a criação do órgão permanente, quando a menção aos afrodescendentes, aconteceram em uma mesma mesa de negociação desta COP.

Durante os debates para elaboração do documento final, porém, houve tensão, após a União Europeia ameaçar barrar todo o texto.

O movimento gerou revolta dentre os negociadores brasileiros e de movimentos sociais.

As negociações entraram no último dia da COP, esta sexta (1º), ainda sem definição, e as conversas seguiram durante a madrugada, em Cali.

Inicialmente, os documentos oficiais da conferência de biodiversidade mencionavam apenas comunidades locais em seu artigo “8j”.

Após anos de discussões, os povos indígenas passaram a ser citados explicitamente nessa parte da resolução das Nações Unidas e agora, também os afrodescendentes.

No final, o documento foi aprovado durante a plenária, sem nenhuma objeção apresentada por nenhum país ou grupo.

“O artigo 8j já reconhecia os conhecimentos, inovações e práticas das comunidades indígenas e locais para a conservação e uso sustentável da biodiversidade. E agora a população afrodescendente começa a ser reconhecida por todos serviços prestados na conservação da natureza”, afirmou Mariana Belmont, assessora de clima e racismo ambiental de Geledés – Instituto da Mulher Negra.

Já o órgão subsidiário permanente para tratar dos indígenas e comunidades locais era uma das principais reivindicação dos movimentos dos povos em diversos países.

A elaboração do texto final foi liderada pelo Brasil, e o documento, aprovado com aplausos na plenária da conferência, durante a madrugada deste sábado.

Até aqui, existia no âmbito da COP um grupo de trabalho para tratar deste tema.

Esta forma de governança, no entanto, prevê que o mandato do grupo precisa ser constantemente revalidado.

Com a transformação em um órgão subsidiário permanente, isso não precisa mais acontecer, o que garante a continuidade dos debates sobre o tema no âmbito da biodiversidade.

A mudança é vista como importante para seus defensores uma vez que povos indígenas e comunidades locais são importantes vetores de proteção, restauração e uso sustentável da natureza — justamente os três principais objetivos desta conferência.

Detalhes mais aprofundados sobre o funcionamento deste órgão ainda precisarão ser debatidos, mas a sua criação é vista como um marco pelos povos indígenas, assim como a menção aos afrodescendentes o é para o movimento quilombola.


Leia também: “Exorto a Conferência a incluir as pessoas de ascendência africana na resolução”

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