126.
Escutai o mundo branco
horrivelmente cansado de seu esforço imenso
o estalar de suas articulações sob as estrelas duras
sua rigidez de aço azul varando a carne mística
escuta suas vitórias proditórias trombetearem suas derrotas
escuta nos álibis grandiosos seu triste tropeçar
127.
Piedade para os nossos vencedores omniscientes e ingênuos!
(…)
131.
Fazei-me rebelde a toda vaidade, mas dócil ao seu gênio
como o punho no estender do braço!
fazei-me comissário do seu sangue
fazei-me depositário do seu ressentimento
fazei de mim um homem de conclusão
fazei de mim um homem de iniciação
fazei de mim um homem de recolhimento
mas fazei de mim também um homem de semeadura
132.
fazei de mim o executor dessas obras altas
é chegado o tempo de cingir os rins como um cavaleiro —
133.
Mas fazendo-o, meu coração, preservai-me de todo ódio
não façais de mim esse homem de ódio por quem só tenho ódio
pois embora me restrinja a essa raça única
sabeis no entanto meu amor tirânico
sabeis que não é por ódio de outras raças
que me exijo lavrador dessa raça púnica
o que quero
é pela fome universal
pela sede universal
134.
intimá-la livre enfim
a produzir de sua intimidade fechada
a suculência dos frutos.
135.
E vede a árvore das nossas mãos!
ela volta, para todos, as feridas incisas no seu tronco
para todos o solo trabalha
e embriaguez para os ramos de precipitação perfumada!
(Aimé Césaire, ‘Diário de um retorno ao país natal’, tradução de Lilian Pestre)
Saiba +
Fonte: Pedras Negras