Ao Vinicius Jr., com carinho!

Que está mensagem reverbere e, parafraseando, Sidney Poitier na Obra: Ao mestre, com Carinho! “É dever de vocês mudar o mundo, se puderem”. E essa tem sido a luta de Vinicius… Se é consciente o tempo dirá… Mas, transformador, sem dúvidas é.

O que estão fazendo com o Vinicius Jr na Espanha é um atentado claro à Declaração Universal dos Direitos Humanos, precisamente nos Artigo 5°, 6° e  7°. Viola a dignidade humana, pois expõe o atleta a um tratamento degradante, impede o seu direito de SER em qualquer lugar, incita o ódio e a discriminação. Portanto, precisa ser combatido com o máximo rigor.

Já foram ultrapassados todos os limites. É inaceitável sob todos os aspectos. Não é mais algo do campo e bola. Não se restringe a violência dos zagueiros. Vai muito além. É ódio em sua maneira mais vil. No momento em que colocaram um boneco do atleta pendurado pelo pescoço em uma via pública de Madri o posicionamento deveria ser claro e contundente. O futebol ali acabou. É preciso fazer algo urgente.

Já que as autoridades espanholas, europeias e desportivas nao se manifestam, o Estado Brasileiro precisa se pronunciar e se posicionar fortemente na defesa contra atos racistas, xenófobos, violentos contra qualquer cidadão brasileiro. Pelo menos é o que diz a nossa Carta Magna.

O silêncio sepulcral das principais instituições esportivas indicam não só a negligência como a cumplicidade de tais atos. As medidas são paupérrimas, as punições inexistem e a comunidade futebolística assume seu lado espúrio ao não tratar esse tema com a responsabilidade necessária. A instituição mais importante do futebol, que adora uma “campanha” publicitária para ganhar engajamento sobre temas como racismo, na prática é especialista em “sportswashing” e associação com sistemas autoritários sanguinários.

Na Espanha o debate sobre o racismo quase inexiste. Todavia, isso não pode impedir que este tema seja alvo de apontamentos firmes no mundo do esporte. Até quando os grandes atletas do ontem e do hoje se calarão diante deste tipo de violência? Alguns ídolos, hoje, dirigentes na Espanha devem se posicionar, não é mesmo Ronaldo? (que já quis associar sua imagem à UNICEF sem sucesso). Aliás, à exceção de Kaká, todos o jogadores brasileiros reconhecidos pelo prêmio de melhor da Fifa, a partir da década de 1990, são negros e jogaram na Espanha. Será que nenhum deles sairá em defesa de Vinicius? De fato, ascensão social não necessariamente produz consciência. E ao atleta do futebol consciência, ainda mais coletiva, é tão raro quanto água no deserto.

Quanto ao posicionamento do Estado Brasileiro, o art.4 nos seus incisos II e VIII deixam bem claro a prevalência dos direitos humanos e o repúdio ao racismo como base de nossas relações internacionais. E órgãos como o Itamaraty precisam ficar atentos quando o direito de brasileiros são violados fora do país, ainda mais de maneira tão escancarada como ocorre na Espanha. 

O caso Vini Jr. está longe de ser novidade ou algo isolado. Mas, a conotação e os contornos são graves, pois ameaçam sua existência, é necropolítica e atacam um símbolo pátrio dos mais importantes. Como ocorreu no Haiti. Jamais irão permitir que um sorriso negro, da zona tórrida tupiniquim, vença como um corpo negro, que baila de forma intrépida sobre impáfia dos colonizadores que ainda não superaram a sua condição de escravocratas. Mal sabem: o Vinícius José já venceu. E, em São Gonçalo, nas Favelas e comunidades brasileiras, ele sempre será muito mais do que um jogador de futebol. Ele é um super-herói bailarino e sorridente que através de sua arte transforma e  transformará o mundo. E isso, racista e xenófobo nenhum poderá ser. Jamais.

#bailavinijr

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