Após preconceito na infância, coreógrafa cria projeto para empoderar mulheres com a dança

Gabb Carbo Verde desembarcou de navio em Recife fugindo da violência na Angola quando tinha dois anos de idade. A família seguiu para Salvador, mas se fixou no Rio pouco tempo depois. Foi na cidade maravilhosa, enquanto crescia, que a coreógrafa teve as primeiras experiências com o preconceito.

Por Thiago Baltazar, Do Marie Claire

Gabb Carbo Verde, mulher negra de tranças, fazendo pose com a mão pra cima seguraabdo suas tranças
Gabb Carbo Verde (Foto: Caio Porto)

“Minha habilidade em dança na infância costumava render convites para ensaiar e criar coreografias para apresentações do colégio, mas minha professora nunca permitia minha presença no palco. Até que, com 8 anos, fui escondida em um evento numa tentativa de conseguir uma chance. Fui impedida pela professora, que disparou: ‘De que adianta dançar como uma bailaria mas não ter o corpo de uma?’”, lembra a coreógrafa para Marie Claire.
Na época, Gabb não entendeu bem que havia sido vítima de gordofobia, nem contou para a mãe o que havia acontecido, apenas se resignou e seguiu sonhando com um segmento da dança que pudesse aceita-la como ela era. “Sempre fui a mais alta e mais gordinha das minhas amigas”, conta.

A grande descoberta aconteceu aos 11 anos de idade quando começou a frequentar um espaço que oferecia aulas de danças africanas perto da escola. Foi assim que se identificou com o dancehall, um estilo caribenho, e não parou mais. Decidiu se formar em dança e ensinar às pessoas da indústria sobre a beleza dos ritmos negros.

Gabb Carbo Verde - mulher negra de brads box, vestindo um macacão azul bebe- pousando para foto.
Gabb Carbo Verde (Foto: Caio Porto)

“Mas todas as vezes em que chegava para uma audição, me olhavam torto, como se quisessem dizer: ‘o que você está fazendo aqui?’. Ainda assim, eu me apresentava e deixava todos ficavam impressionados”, afirma ela. Da última vez, inclusive, chegou a ouvir muitos elogios de um diretor até que um assistente lhe disse uma frase difícil de digerir. “Ele falou que eu não estava pronta para o mercado”.

A verdade é que Gabb estava preparada, mas não estava nos padrões estéticos esperados. Estava “acima do peso”, tinha “traços fortes” e cabelo crespo. “Sofri muito com isso, mas depois, passei a refletir e lembrei de como minha professora me tratava na infância”.

Foi assim que ela decidiu criar o projeto Celebre Seu Corpo. Com ele, Gabb ensina às pessoas que a dança não tem somente a função de entretenimento, mas serve, também, como uma atividade de autocuidado. “Quero que pensem a dança como uma forma de enxergar seus próprios corpos e acabem com essa referência absurda de que gordo não pode dançar. Esta é a atividade mais acessível que temos, podemos praticar em casa, em qualquer lugar”.

A coreógrafa trabalha para desconstruir estereótipos em torno dos países africanos. “A África é um continente gigante e tem muitas outros estilos, como pop, eletrônico também”.

Gabb, inclusive, desenvolveu um projeto em parceria com a Smartit para ensinar vários tipos danças africanas. “Eu mostrei aos alunos que eles podem se movimentar seus corpos do jeito que eles são em vez de ficar apontando o que está certo ou errado, como é o caso das danças acadêmicas, à exemplo do ballet”.

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