‘As Bahias e a Cozinha Mineira’ e a discussão de gênero nos espaços públicos

A música é uma grande aliada para discutir padrões, prisões estéticas e política, porém a música pop e seus padrões, discursos bonitos e ações vazias parece estar nos sedando pouco a pouco: aceitamos, acreditamos e deixamos que as coisas sigam como estão. Os interesses de grandes nomes de gravadoras estão alinhados com os discursos de empoderamento enquanto ele vender bem. É tudo uma questão de números.

por Carol Patrocinio no HuffPost

Luis Signorini Novais
Luis Signorini Novais

Na contra-mão desse movimento aparecem artistas que apenas por sua existência já questionam com mais propriedade e afinco qualquer convenção social. É o caso da As Bahias e a Cozinha Mineira. A banda, liderada por Assucena Assucena e Raquel Virgínia, ambas mulheres transgênero, mistura lirismo e questionamento político em suas letras e atitude.

Seu primeiro disco, Mulher, entra na discussão que vem tomando forma já há algum tempo: o que é ser mulher? Ali tem-se a mulher não sexualizada, cheia de sentimentos, desejos e objetivos. A mulher construída, que enxerga seu papel na sociedade e não simplesmente o aceita.

As Bahias e a Cozinha Mineira

A banda tem se apresentado em lugares abertos como praças públicas. E esse simples ato já pode ser visto como revolução. Duas mulheres trans com uma banda, fazendo barulho e chamando atenção, incomodam muita gente. E a intenção talvez seja exatamente esse. “É ótimo que os preconceituosos nos vejam nas praças e estejam lá também”, explica Raquel Virgínia.

Se produzir em ambientes formais não é fácil para as artistas, estar presente em casas de show não é fácil para o público que as segue. As barreiras invisíveis do preconceito – seja racial, de gênero, orientação ou identidade – impedem a movimentação e a discussão do que é necessário: somos todos donos da cidade.

Seguindo a onda crescente de apropriação dos espaços públicos, As Bahias e a Cozinha Mineira questiona apenas por existir. Se Assucena e Raquel simplesmente fossem à padaria já estariam questionando todas as ideias vigentes. Mas elas preferem fazer isso com a arte, que toca lugares que não conseguiríamos sozinhos.

Em um debate sobre gênero e política, Assucena explicou que as travestis são vistas como seres da meia noite e que colocar a cara no sol é uma revolução. Que cada vez mais o Sol e os holofotes estejam virados para mulheres como ela. A revolução, amigos, é trans e negra.

Vale ouvir este vídeo:

As Bahias e a Cozinha Mineira no Vento Festival
10 de Junho às 21h50
Praia do Perequê – Ilhabela, SP
Entrada gratuita.
www.ventofestival.com.br

veja também: 11 artistas brasileiros que estão quebrando todas as regras de gênero 

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