Liderada pelo rapper Emicida, gravadora Laboratório Fantasma quer se consolidar como empresa profissional sem deixar a “parceria” de lado
Por: Gabriel Daher
O ano de 2008 foi decisivo para a carreira de Leandro Roque de Oliveira. Então com 23 anos de idade, o rapper – que já dispunha de certa fama nas disputas de rima e improviso da capital paulista – se juntaria ao produtor Felipe Vassão para lançar seu primeiro single. Conhecido como Emicida (uma fusão dos termos “MC” e “Homicida”), Leandro lançou naquele ano o single indepente “Triunfo”, divulgado através do coletivo Na Humilde Crew, pequeno selo fundado por ele.
A música – que deu origem a um clipe com mais de 2 milhões de visualizações no YouTube – foi veiculada na mixtape Pra quem já Mordeu um Cachorro por Comida, até que eu Cheguei Longe…, primeiro lançamento oficial da Laboratório Fantasma, nome que substituiu o antigo título do coletivo. Conforme o sucesso do rapper crescia, as atividades da Laboratório Fantasma também se expandiam. Além das mixtapes, vendidas pelo preço de R$ 2 a edição, a gravadora também comercializava camisetas e posteriormente expandiu o leque de produtos para bonés, moletons e outros artigos destinados aos fãs da cultura hip hop.
Como esperado, os shows também foram um importante instrumento de divulgação da gravadora, que, além de Emicida, conta com artistas como Rael da Rima, Mão de Oito, DJ Nyack e Ogi em seu catálogo. “A nossa música devia gerar a necessidade da nossa presença”, lembra Emicida, que na noite desta quarta-feira, dia 22, realizou ao lado de seu irmão Evandro Fióti uma coletiva para apresentar os novos projetos e rumos da Laboratório Fantasma.
“Começamos a fazer isso com as pessoas que estavam em volta da gente e se identificavam com a proposta”, explica Fióti, falando sobre a forma como o coletivo evoluiu para uma gravadora profissional e passou a apoiar projetos de artistas que se assemelhavam ao ideal de trabalho e auto-divulgação da empresa. “Queremos consolidar uma parceria de iguais, onde os dois lados tenham sua autonomia”, complementa Emicida, que confessa ter se inspirado no personagem de história em quadrinhos Motoqueiro Fantasma para batizar o negócio.
Depois de uma breve pausa nos shows, a Laboratório Fantasma quer apresentar ao mercado fonográfico e à cena musical brasileira seus novos artistas neste segundo semestre de 2012. Na última quinta-feira de cada mês, a gravadora realizará a festa “Estilo Livre”, no Studio SP da Vila Madalena. A primeira edição está marcada para 30 de agosto, e terá show do rapper Ogi.
No dia 4 de setembro, a banda Mão de Oito lança seu primeiro álbum com show no SESC Pompeia. O som do grupo, mais semelhante à MPB, destoa do casting tradicional da gravadora, composto em sua maioria por artistas de rap. “Queremos mostrar música boa, não só no rap, como em outros estilos”, diz Emicida, que quer se desvencilhar das nomeações aplicadas à maior parte dos homens de negócios. “O termo empresário deixa a coisa quadrada. Eu não me vejo como um empresário, eu me vejo como uma pessoa que gosta da minha arte e gosto que ela chegue às pessoas da maneira mais pura”, explica.
“Queremos fazer um sonho nosso, que é fazer o que você ama, o hip hop, como seu emprego”, diz ele, que cumpre expediente integral na empresa. Fundador e “carro-chefe” artístico da gravadora, o rapper divide seu tempo entre as atividades comerciais da Laboratório Fantasma e os preparativos de seu primeiro álbum de estúdio, que tem lançamento agendado para o final de 2013. “A grande diferença é que musicalmente vai ter outra concepção, porque eu nunca entrei em estúdio com os músicos pra fazer um trabalho. A única vez que isso aconteceu foi em ‘Triunfo’ e se Deus quiser agora a gente vai conseguir fazer isso”, revela Emicida, que, como no single que o lançou ao estrelato, terá seu disco produzido pelo antigo parceiro Felipe Vassão.
E, se depender do rapper e de sua equipe, outros “Leandros” surgirão na Laboratório Fantasma, gravadora que quer continuar se profissionalizando sem perder o antigo espírito de “parceria”. Em uma era onde as mídias alternativas e a propaganda boca-a-boca consolidam seu papel junto aos fãs e consumidores, a empresa promete tentar assombrar o mainstream que tanto medo causava nos artistas do mercado fonográfico brasileiro há não muito tempo atrás.
Fonte: Revista Brasileiros