Bailarino formado em Joinville integra balé composto apenas por negros e asiáticos

Exemplo de persistência, José Alves está há dois anos na companhia com sede em Londres

Por RAFAELA MAZZARO, do A Noticia 

José Alves, 24 anos, já foi um colecionador de “nãos”. Mesmo para quem tinha um diploma da única filial no mundo do balé do Bolshoi, as respostas negativas vinham aos montes. Quando as oportunidades batiam à porta, a origem humilde do baiano impedia de que ele bancasse o básico para chegar até elas. Pelo menos duas bolsas de estudos no exterior foram deixadas pela caminho pela falta de recursos.

Mas o pouco que José juntou nos últimos anos foram o suficiente para levá-lo longe. Sete anos após deixar Joinville, José visita a escola com a satisfação que imaginava sentir depois de formado. Hoje, ele é um dos brasileiros a integrar a Ballet Black, uma companhia nada convencional de Londres, Inglaterra, e diz estar vivendo um sonho.

— Viajamos muito pela Europa, principalmente para a Itália. Inclusive, estivemos em Bermudas no ano passado — conta, animado.

A Black é um projeto inovador criado pela bailarina Cassa Pancho em 2001. Depois de enfrentar dificuldades para encontrar e entrevistar bailarinos clássicos negros para sua dissertação, a britânica decidiu bancar uma companhia própria, só de negros e asiáticos. Há dois anos, José é um dos oito bailarinos contratados, junto com a também brasileira Isabela Coracy. A companhia de balé neoclássico tem parceria com a tradicional Opera Royal.

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Várias tentativas

Após formado, José chegou a ficar um ano em Salvador, sua cidade natal, buscando oportunidades em companhias brasileiras e estrangeiras. As tentativas renderam ao bailarinos dois importantes convites, uma bolsa de estudos para os Estados Unidos e outra para Nova Zelândia, que mais tarde poderiam render bons empregos. Faltou dinheiro para custear a passagem e estadia fora de casa e José decidiu arriscar tudo no próprio País.

Com uma passagem só de ida e R$ 100 no bolso, ele partiu para São Paulo e Belo Horizonte. Conseguiu na segunda capital uma vaga no Palácio das Artes, onde trabalhou um ano e meio.

José não queria só um emprego, queria ir mais longe. A chance que faltava para o ex-aluno do Bolshoi Brasil chegou em um telefonema. Em 2011, ele foi convidado para participar do clipe da música Samba, cantada por Claudia Leitte e Ricky Martin, gravada em Miami, e do show da cantora brasileira no Rock in Rio. Além de ter todas as despesas pagas, José ganhou um cachê suficiente para ajudar a mãe e, de quebra, incentivá-lo a tentar a sorte na Europa.

:: Assista ao clipe de Samba ::

Oportunidades na Europa

A passagem de avião parcelada em um cartão de crédito emprestado e os 800 euros que José guardou levaram-no até a Alemanha. De tentativa em tentativa, ele conseguiu trabalho em uma companhia de teatro musical na Polônia até surgir a proposta do Ballet Black.

José não desistiu de procurar outros “sins”, mas se sente confortável no grupo de Cassa Pancho, principalmente porque companhias mais tradicionais de balés costumam optar por bailarinos com corpo longilíneo, e não forte e cheio de músculos como o de José.

— Enquanto o elástico não arrebentar, continuo tentando, esticando. Sempre digo: o não eu já tenho, vou em busca do sim.

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