Bancada religiosa resiste em votar projeto de Marielle contra homofobia

A Câmara Municipal do Rio de Janeiro aprovou 5 dos 7 projetos da vereadora Marielle Franco (PSol), assassinada em 14 de março. Projeto relacionado à luta contra homofobia, lesbofobia, bifobia e transfobia, no entanto, foi adiado. O outro de assistência pública e gratuita para moradia de interesse social sofrerá alterações técnicas e voltará à pauta ainda este mês.

A principal resistência em relação ao PL 72/2017, que institui o Dia de luta contra a Homofobia, é a bancada religiosa. O texto saiu de pauta nesta quarta-feira (2) após um pedido do vereador Cláudio Castro (PSC), do movimento carismático da Igreja Católica. Além dessa proposta, a bancada ainda tenta tirar a palavra gênero de outros 2 projetos que foram aprovados, mas que ainda terão que passar por mais uma votação.

Ao jornal O Globo, o vereador do PSC afirmou que há uma discussão muito centrada em apenas uma camada da população que sofre preconceito. “Existem outros preconceitos, como o contra gagos“, exemplificou.

O vereador Alexandre Isquierdo (DEM), ligado à Assembleia de Deus Vitória em Cristo, acrescentou ao O Globo que muitos políticos são contra debate ideológico sobre gênero nas escolas.

“Todos somos contra discriminações, mas, por trás desses projetos, está uma tentativa de abrir espaço para que a questão de gênero entre em debate nas escolas com viés de convencimento. E com isso nós não concordamos.”

O vereador Tarcísio Motta (PSol) relembrou que no ano passado a Câmara Municipal barrou projeto de Marielle que criava o Dia da Visibilidade Lésbica. “É lamentável que essa bancada fundamentalista faça isso, que não permita que no calendário oficial da cidade tenham esses dias. Quem é LGBT ou apoia a luta LGBT sabe que não precisamos de um dia oficial para passar todos os dias lutando contra LGBTfobia.”

Não é o fato de não ter um dia oficial que vai nos fazer parar de lutar contra a LGBTfobia.Vereador Tracísio Motta (PSol)

Apesar da resistência, vereadores do PSol comemoraram o resultado e a aprovação da resolução que homenageia Marielle com nome da tribuna do plenário. “Os assassinos de Marielle tentaram fazer calar a voz dela. Hoje, a Câmara Municipal deu a resposta política a esses que tentaram calar a voz dela fazendo Marielle falar em leis aprovadas, que lutaremos que agora se transformem em políticas públicas”, afirmou Motta.

Conheça os projetos que foram aprovados:

1. Espaço Coruja (PL 17/2017)

Institui o Espaço Coruja, programa de acolhimento às crianças no período da noite, enquanto seus responsáveis trabalham ou estudam. É também essencial para conquistar igualdade entre homens e mulheres, permitindo que mães com dupla jornada continuem seus estudos ou permaneçam em seus empregos.

2. Assédio não é passageiro (PL 417/2017)

Cria a Campanha Permanente de Conscientização e Enfrentamento ao Assédio e Violência Sexual no município do Rio de Janeiro, nos equipamentos, espaços públicos e transportes coletivos.

3. Dossiê Mulher Carioca (PL 555/2017)

Cria o Dossiê Mulher Carioca, para auxiliar a formulação de políticas públicas voltadas para mulheres através da compilação de dados da Saúde, Assistência Social e Direitos Humanos do Município do Rio de Janeiro.

4. Efetivação das Medidas Socioeducativas em Meio Aberto (PL 515/2017)

Prevê que o Município se responsabilize por suas obrigações legais, garantindo que as medidas socioeducativas do Judiciário sejam cumpridas pelos adolescentes em meio aberto e, eventualmente, dando-lhes oportunidades de ingresso no mercado de trabalho.

5. Dia de Thereza de Benguela no Dia da Mulher Negra (PL 103/2017)

Inclui no calendário oficial da cidade o Dia de Thereza de Benguela como celebração adicional ao Dia da Mulher Negra, em homenagem à líder quilombola Thereza de Benguela, símbolo de força e resistência.

(Foto: NACHO DOCE / REUTERS)

Marielle, presente!

Marielle e seu motorista Anderson Gomes foram atingidos por um total de 13 tiros em Estácio, na região central do Rio. Negra, da periferia e lésbica, a vereadora, que era uma das vozes de denúncia sobre violência policial, se tornou um símbolo de luta pelos direitos humanos.

Um mês e meio após o assassinato ainda não se sabe quem matou Marielle. Logo após o crime, um artigo da Human Rights Watch alertou que a ousadia para assassinar uma pessoa com tanta visibilidade pressupunha que não haveria consequências na Justiça.

“A impunidade no caso das execuções extrajudiciais é particularmente devastadora, não apenas pelo sofrimento das famílias das vítimas”, ressaltava a HRW.

+ sobre o tema

Movimento pela mulher – A corrida

Está confirmada para 20 março, na região do Ibirapuera,...

ONU elege inspetor para investigar homofobia no mundo

A Organização das Nações Unidas (ONU) escolhe pela primeira...

para lembrar

Justiça de Campinas garante que gestante trabalhe em casa, em razão da pandemia

A Justiça de Campinas, no interior de São Paulo,...

Na pandemia, aumentam denúncias de empregadas domésticas mantidas em cárcere privado

Na última quarta-feira (13), a Polícia Civil do Rio...

A professora das crianças perdidas

Conhecida após a chacina da Candelária, Yvonne Bezzerra de...

Ginasta amadora levanta público no Rio: ‘Não vim competir. Vim ser feliz’

Cada vez que pisava na quadra para sua apresentação...
spot_imgspot_img

Beatriz Nascimento, mulher negra atlântica, deixou legado de muitas lutas

Em "Uma História Feita por Mãos Negras" (ed.Zahar, organização Alex Ratts), Beatriz Nascimento partilha suas angústias como mulher negra, militante e ativista, numa sociedade onde o racismo, de...

Ausência de mulheres negras é desafio para ciência

Imagine um mundo com mais mulheres cientistas. Para a Organização das Nações Unidas (ONU), isso é fundamental para alcançar a igualdade de gênero e...

Pesquisa revela como racismo e transfobia afetam população trans negra

Uma pesquisa inovadora do Fórum Nacional de Travestis e Transexuais Negras e Negros (Fonatrans), intitulada "Travestilidades Negras", lança, nesta sexta-feira, 7/2, luz sobre as...
-+=