leita prefeita de Boston com bandeiras progressistas, Michelle Wu coleciona pioneirismos. Será a primeira mulher escolhida pelo voto para liderar a capital de Massachusetts, depois de 200 anos em que só homens governaram a cidade. Filha de imigrantes taiwaneses, Wu também será a primeira pessoa não branca no cargo. Aos 36, é ainda a mais jovem líder do Executivo de Boston em pelo menos um século.
A contagem ainda não terminou, mas os números da apuração divulgados pela prefeitura mostram que ela recebeu quase 64% dos votos no segundo turno. A adversária, Annissa Essaibi George, obteve 35,6%.
Além do gênero e das raízes estrangeiras (George tem ascendência árabe), as candidatas têm em comum o fato de terem disputado o pleito sem serem filiadas a um dos dois grandes partidos dos EUA —embora ambas tenham recebido apoio dos democratas, que governam a cidade desde os anos 1930.
Wu agora entra para uma lista de prefeitos de grandes municípios dos EUA cujas identidades raciais desempenham um papel central em suas carreiras políticas e miram espectros mais progressistas da política americana. Nessa lista, está também o prefeito eleito de Nova York, Eric Adams, que se tornou, nesta terça-feira (2), o segundo homem negro no comando da cidade-símbolo do país.
Ainda no primeiro turno, a eleição municipal em Boston já apontava para o fim do período de dois séculos em que apenas homens brancos governaram a cidade. Além de Wu e George, três pessoas negras completaram a lista dos cinco mais votados: a prefeita em exercício, Kim Janey, a conselheira municipal Andrea Campbell e o ex-chefe de desenvolvimento econômico da cidade John Barros.
A maioria feminina na disputa em uma cidade tão importante virou motivo de brincadeira no discurso de vitória de Wu. “Um dos meus filhos me perguntou se meninos podem ser prefeitos em Boston. Eles podem, e eles vão ser de novo algum dia, mas não dessa vez. Hoje Boston elegeu a mãe de vocês.”
Em sua fala, a prefeita eleita fez acenos à diversidade ao dizer a frase “tudo é possível” em inglês, espanhol, francês e mandarim. Wu também citou duas mulheres que a inspiraram na política: a deputada Ayanna Pressley, primeira mulher negra a conquistar uma vaga no Congresso por Massachusetts, e a senadora Elizabeth Warren, pré-candidata à Presidência dos EUA em 2020 e professora de Wu em Harvard.
Depois de concluir o curso de direito na instituição em 2008, Wu voltou a Chicago, onde cresceu, e precisou se tornar cuidadora da mãe, que havia recebido o diagnóstico de esquizofrenia. Pouco tempo depois, tornou-se microempresária ao abrir uma pequena loja especializada em chás que homenageava personagens de clássicos da literatura como “O Grande Gatsby” e “O Retrato de Dorian Gray”.
O primeiro cargo político foi como conselheira municipal (equivalente a vereadora), em 2013. Três anos depois, rompeu mais uma barreira racial e se tornou a primeira asiático-americana e a primeira pessoa não branca a ser presidente do órgão legislativo —nomeada pelos colegas por unanimidade.
Casada com o banqueiro Conor Pewarski, 36, a então conselheira foi uma das principais apoiadoras de uma lei municipal que concedia seis semanas de licença parental remunerada a funcionários públicos de Boston, válida inclusive para casais do mesmo sexo.
À época, o que a motivou foi o fato de que se via tendo que refletir se deveria ser mãe em tempo integral ou encontrar formas de conciliar a dupla jornada. Escolheu a segunda opção, e seus dois filhos, Blaise e Cass, eram presenças frequentes nas sessões do conselho municipal.
“Às vezes, sou a única em pé durante uma discussão [no Legislativo], fazendo Cass adormecer”, escreveu ela em um artigo publicado na CNN em 2017. “Estou cansada, mas grata: a escolha de combinar maternidade e serviço público me tornou uma mãe mais confiante e uma legisladora melhor.”
Na campanha deste ano, Wu elegeu como bandeiras temas como moradia, ambiente, equidade racial e transporte público gratuito. Ela promete priorizar a “estabilidade habitacional” das famílias de Boston, onde, segundo seu site, milhares de pessoas vivem sobrecarregadas pelo preço dos aluguéis e com medo de despejos.
Wu também propõe um “green new deal” em nível municipal para fazer da cidade “um farol mundial em ações climáticas e justiça ambiental”. Para lidar com as consequências do racismo institucional e das históricas políticas discriminatórias de Boston, sua campanha inclui medidas com o objetivo de “fechar a lacuna racial das riquezas” e promover “justiça racial e econômica”.