Brasil não é uma sociedade com democracia racial, diz antropólogo

Kabengele Munanga durante a cerimônia de entrega do 15º Prêmio USP de Direitos Humanos, que foi realizada no dia 29 de junho de 2018 - Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Para Kabengele Munanga, enquanto o país não admitir o racismo estrutural será difícil enfrentar o genocídio negro

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Nos últimos 20 anos, o número de jovens negros assassinados aumentou 429%. A cada 100 assassinatos, 75 vítimas são negras. Entretanto, combate à violência contra a população negra parece não comover autoridades brasileiras (Foto: TVT)

São Paulo – Para o antropólogo brasileiro-congolês Kabengele Munanga, enquanto é um mito dizer que o Brasil vive uma democracia racial. Na opinião dele, enquanto o país não admitir o racismo estrutural presente na sociedade e os dados de violência contra população negra aumentarem, será difícil enfrentar o genocídio negro.

Nos últimos 20 anos, o número de jovens negros assassinados aumentou 429%. A cada 100 assassinatos, 75 vítimas são negras. Entretanto, o combate à violência contra a população negra parece não comover autoridades brasileiras. Este foi o tema da palestra do professor da USP no 25º Seminário Internacional de Ciências Criminais, do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCrim).

“A sociedade brasileira não é uma sociedade com a democracia racial porque nós convivemos com vários tipos de preconceito e discriminação, o que desemboca numa ideologia chamada racismo. O racismo brasileiro tem suas peculiaridades e um dos problemas é a negação de sua existência”, afirma o antropólogo, em entrevista ao repórter Jô Miyagui, da TVT.

A advogada Dina Alves fez tese de doutorado sobre as mulheres negras e o sistema de justiça do Brasil, na qual concluiu que a justiça é igualmente racista com as mulheres. “Nos últimos 14 anos, por exemplo, a gente percebe uma explosão das taxas de encarceramento das mulheres. Fazer esse recorte racial no sistema de justiça criminal é provar o racismo estrutural”, argumenta.

Kabengele acrescenta ainda que as prisões são a maior expressão do racismo e o capitalismo acentua a parcialidade do sistema de justiça. ““O capitalismo cria as classes sociais e se não tivesse classes sociais todo mundo teria, igualmente, o direito à justiça. A justiça funciona, relativamente, para quem paga caro por ela.”

De acordo com os pesquisadores, a primeira atitude para combater o racismo é admitir a existência do problema. Se a população e as autoridades ignoram o racismo, não há como fazer políticas públicas para combatê-lo. Nesse sentido, o governo Bolsonaro seria um problema no enfrentamento desta questão, afirmam os especialistas. “O Jair Bolsonaro vem para oxigenar essas relações racistas, esse projeto genocida no Brasil. Juntamente com o ministro Sergio Moro e o pacote anticrime, acredito que é o oxigênio para colocar em curso esse projeto genocida histórico”, criticou Dina.

O IBCCrim realiza, desde terça-feira (27), o 25º Seminário Internacional de Ciências Criminais, com o tema “As Ciências Criminais como resistência dos valores democráticos”. O objetivo é debater a politização do Judiciário e as violações cometidas contra a democracia brasileira, com a participação de especialistas nacionais e internacionais.

 

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